Parlamento cipriota rejeita plano de resgate europeu
Internacional|Do R7
O Parlamento do Chipre rejeitou nesta terça-feira o plano de resgate europeu para a ilha após o descontentamento provocado pela taxa sem precedentes sobre os depósitos bancários que estava sendo votada, mergulhando o país em uma grande incerteza.
O anúncio da rejeição foi recebido com uma enorme explosão de alegria diante do Parlamento, onde milhares de manifestantes estavam reunidos para dizer Não ao texto. "O Chipre pertence ao seu povo", "O povo unido jamais será vencido", gritava a multidão.
O projeto "foi rejeitado", anunciou o presidente do Parlamento, Yiannakis Omirou, chamando-o de "chantagem". Trinta e seis deputados votaram contra, 19 se abstiveram -todos do partido Disy do presidente conservador Nicos Anastasiades. O plano não obteve votos positivos.
"A resposta só pode ser o Não à chantagem (...) Esta decisão é um ataque aos fundos bancários", disse ele antes do início da votação. "Este plano deve ser renegociado".
"É como fazer um mergulho de 10.000 metros sem paraquedas, o único objetivo desta decisão é destruir a economia, mas nós dissemos não", indicou o deputado dos Verdes George Perdikes.
Anastasiades, eleito há apenas um mês, deverá ter uma conversa por telefone durante a noite com a chanceler Angela Merkel e se reunir com os líderes dos partidos na quarta-feira às 07h00 GMT (04h00 de Brasília).
O plano de resgate previa, em contrapartida a um empréstimo de 10 bilhões de euros da zona do euro e do FMI para a ilha à beira da falência, uma taxa excepcional de 6,75% sobre todos os depósitos bancários de 20 a 100.000 euros e de 9,9% para aqueles acima desse valor limite.
O projeto, concluído em Bruxelas no sábado, incluía originalmente uma taxa de 6,75% sobre os depósitos até 100.000, mas diante da revolta generalizada provocada por essas taxas, o Chipre havia decidido exonerar os depósitos de menos de 20.000 euros.
O objetivo dessas taxas era arrecadar 5,8 bilhões de euros.
Na ilha, os bancos, fechados desde sábado, permanecerão assim até quinta-feira, já que as autoridades temem uma corrida dos clientes aos caixas para retirar suas economias. A Bolsa anunciou a suspensão de suas operações nesta terça e na quarta-feira.
O plano também sacudiu as praças financeiras mundiais. A Bolsa de Paris recuou 1,30% nesta terça, desestabilizada pela crise cipriota que reavivou as tensões na zona do euro e levou muitos investidores a vender suas posições, principalmente os valores bancários, em queda de 4 a 6%.
O Chipre precisa de 17 bilhões de euros para reduzir a sua dívida e pediu uma ajuda europeia em junho.
O país é o quinto da Eurozona a se beneficiar de um plano de resgate internacional, mas com um montante muito inferior ao que precisou ser injetado para salvar Grécia, Portugal e Irlanda e para recuperar o setor bancário espanhol.
O anúncio do plano de resgate provocou uma onda de choque no exterior, principalmente na Rússia. A taxa de 9,9% sobre os depósitos de mais de 100.000 euros pode custar bilhões de euros às fortunas russas depositadas na ilha.
O ministro russo das Finanças, Anton Siluanov, lamentou uma decisão tomada sem consenso pela UE e ameaçou rever sua proposta de amenizar as condições do crédito de 2,5 bilhões de euros concedido a Nicósia em 2011.
O ministro das Finanças Michalis Sarris deve ir ainda nesta terça a Moscou para negociar a divisão do pagamento de um crédito de 2,5 bilhões de euros.
Segundo o jornal Vedomosti, o banco russo Gazprombank, que tem 41% de seus ativos em poder da gigante pública de gás Gazprom, propôs ao Chipre uma ajuda financeira em troca de licenças de produção de gás natural na ilha mediterrânea.
O Chipre procura se tornar uma importante plataforma regional no campo da energia, após a descoberta de reservas colossais de hidrocarbonetos no mar ao longo de sua costa meridional.
Para o deputado Diko Marios Garoyian, o texto é um "crime premeditado" e uma "forma de escravidão econômica" para forçar o Chipre a romper suas ligações com Moscou e Pequim e permitir que outros coloquem suas mãos nas reservas energéticas.
Há meses, o Chipre é apontado como um paraíso fiscal com poucas contemplações sobre a origem dos fundos depositados em seus bancos por milionários russos, muitos deles suspeitos de serem membros da máfia.
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