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Previsão de terremoto feita por mangá dos anos 1990 derruba reservas de férias no Japão

Obra publicada há 25 anos ganha força nas redes e afeta turismo em mercados como Hong Kong, Coreia do Sul e Taiwan

Internacional|Do R7

Apesar da onda de desinformação, autoridades vêm reforçando que não há fundamento científico para as previsões
Capa do mangá "O Futuro que Vi", da artista Ryo Tatsuki Reprodução/The Future I Saw

Uma previsão apocalíptica feita em um mangá japonês publicado no final da década de 1990 está sendo apontada como a causa de uma queda drástica nas reservas de férias para o Japão vindas de alguns dos seus principais mercados turísticos na Ásia.

A HQ “O Futuro que Vi”, da artista Ryo Tatsuki, voltou ao centro das atenções após viralizar nas redes sociais com uma previsão de que um grande terremoto atingirá o Japão em 5 de julho de 2025. A obra foi lançada originalmente em 1999 e republicada em 2021 com conteúdo adicional.

Desde então, acumulou quase 1 milhão de cópias vendidas e mais de 100 milhões de visualizações em vídeos no YouTube, muitos deles sensacionalistas, que ampliaram o medo entre os viajantes.

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Tatsuki afirma basear sua narrativa em sonhos que considera proféticos. A artista já havia chamado atenção por mencionar um “grande desastre” em março de 2011, data que coincidiu com o terremoto e tsunami que devastaram o nordeste do Japão e provocaram o colapso na usina nuclear de Fukushima, deixando mais de 18 mil mortos.


Agora, a nova previsão publicada no mangá indica que outro grande desastre natural ocorreria em julho de 2025. A repercussão tem sido tão grande que afetou diretamente o turismo japonês.

De acordo com dados da empresa de inteligência de viagens ForwardKeys, analisados pela Bloomberg, as reservas de voos para o Japão vindas de Hong Kong, Coreia do Sul e Taiwan caíram significativamente.


Em Hong Kong, o recuo médio chegou a 50% em relação ao ano anterior. Para o período entre o fim de junho e o início de julho, a queda nas reservas chega a 83%.

Agências de viagem confirmam que o impacto já foi sentido durante a primavera, quando a procura por pacotes para o Japão costuma crescer devido à temporada de observação das cerejeira e ao feriado da Páscoa.


Uma agência de Hong Kong relatou que as reservas para abril e maio caíram pela metade em comparação com 2024. A Greater Bay Airlines também se surpreendeu com a baixa demanda. “Esperávamos que cerca de 80% dos assentos estivessem ocupados, mas as reservas reais chegaram a apenas 40%”, afirmou Hiroki Ito, gerente-geral do escritório japonês da companhia aérea, ao jornal Asahi Shimbun.

Tanto a Greater Bay Airlines quanto a Hong Kong Airlines reduziram a oferta de voos para o Japão neste mês. Já a Cathay Pacific Airways, que planeja dedicar quase 20% de sua capacidade aérea ao mercado japonês no segundo semestre, pode ser a próxima a sentir os efeitos.

“As especulações sobre o terremoto estão definitivamente tendo um impacto negativo no turismo japonês e desacelerarão temporariamente o crescimento. Os viajantes estão adotando uma abordagem avessa ao risco, dada a abundância de outras opções de curta distância na região”, disse Eric Zhu, analista da Bloomberg Intelligence.

Apesar da onda de desinformação, autoridades e especialistas vêm reforçando que não há fundamento científico para as previsões feitas na obra. Yoshihiro Murai, governador da província de Miyagi, uma das regiões mais afetadas pelo desastre de 2011, pediu à população que ignore os boatos.

A Agência Meteorológica do Japão também divulgou comunicados lembrando que, com a tecnologia atual, não é possível prever com precisão a data e o local de um terremoto.

Ainda assim, o temor não surgiu do nada. O Japão é um dos países mais suscetíveis a abalos sísmicos no mundo, por estar localizado no chamado Círculo de Fogo do Pacífico, uma zona de intensa atividade sísmica.

Em abril deste ano, uma força-tarefa do governo japonês alertou que há cerca de 80% de chance de ocorrer um terremoto de magnitude 9 ao longo da Fossa de Nankai, na costa do Pacífico do país, nos próximos 30 anos. A estimativa do governo japonês é de que um evento dessa escala poderia matar cerca de 298 mil pessoas e destruir mais de 2 milhões de edifícios.

Em agosto do ano passado, o então primeiro-ministro Fumio Kishida chegou a cancelar uma viagem internacional após sismólogos alertarem para o aumento no risco de um megaterremoto.

A própria autora do mangá se pronunciou sobre o tema. Em entrevista ao jornal Mainichi Shimbun, Ryo Tatsuki disse estar satisfeita por ter contribuído para aumentar a conscientização sobre a preparação para desastres, mas pediu cautela.

“É importante não se deixar influenciar desnecessariamente e ouvir as opiniões de especialistas. Eu mesma gostaria de tomar precauções, como estocar suprimentos e confirmar rotas de evacuação ao sair. Pretendo permanecer vigilante à medida que nos aproximamos de julho de 2025”, afirmou.

Apesar do episódio, o turismo japonês como um todo segue em alta. Em abril, o país registrou um recorde de 3,9 milhões de visitantes estrangeiros, impulsionado principalmente pela desvalorização do iene. A meta do governo é alcançar 60 milhões de turistas por ano até o fim da década.

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