Prisioneiras ucranianas revelam torturas e humilhações forçadas pelas forças russas
Sobreviventes de cativeiro revelam abusos sistemáticos e crueldade, com relatos de torturas físicas e psicológicas em centros de detenção russos
Internacional|Do R7

Sobreviventes ucranianas que foram feitas prisioneiras pelas forças russas durante a guerra revelaram relatos sobre uma campanha sistemática de tortura, humilhação e abusos psicológicos e físicos.
Estas mulheres viveram meses e, em alguns casos, anos em cativeiro. Seus depoimentos ao The Telegraph mostraram a total desumanização infligida por seus captores e expõem os horrores de uma guerra.
O primeiro foi de Larysa Kycherenko, de 53 anos, que serviu na Guarda Nacional da Ucrânia e compartilhou a brutalidade que enfrentou. Ela contou como, junto a outras prisioneiras, foi forçada a andar nua na neve, sendo exposta a humilhações e a práticas cruéis.
“Nos levaram para os chuveiros com sacos sobre as cabeças, onde fomos obrigadas a nos despir. Depois, tivemos que marchar nuas, curvadas, sob a água gelada, na frente de todos, incluindo os guardas”, relatou. O abuso não terminou aí: as prisioneiras eram forçadas a cantar o hino russo enquanto estavam totalmente despidas, o que provocou um sofrimento psicológico profundo. “Voltamos às nossas celas em lágrimas, completamente perturbadas, chorando e em estado de histeria. Era desumano. Para eles, nós não éramos nada”, acrescentou Larysa.
Valentyna Zubko, uma médica militar de 30 anos, foi capturada no cerco de Mariupol, especificamente na Usina Siderúrgica de Illich. Ela passou mais de cinco meses em cativeiro, sendo transferida entre diferentes prisões, onde ficou amontoada com outras quinze prisioneiras em uma cela originalmente projetada para apenas duas.
As condições de vida eram degradantes, com um simples buraco no chão servindo como banheiro. Durante esse período, Valentyna também experimentou uma tortura física conhecida como “trenzinho”, onde os prisioneiros eram forçados a caminhar em fila, curvados, entre os guardas russos, que os espancavam.
“Cada guarda tentava nos bater enquanto andávamos. Estávamos com a cabeça baixa e, ainda assim, eram cruéis o suficiente para nos forçar a nos curvar ainda mais. Fomos espancadas violentamente e os guardas pareciam se divertir com aquilo. Não havia qualquer justificativa para o que faziam, era apenas diversão para eles”, desabafou Valentyna, visivelmente marcada pela experiência.
Outro relato de tortura é o de Snizhana Vasylivna Ostapenko, uma sargento de 23 anos da 56ª Brigada Mecanizada da Ucrânia, que foi capturada em maio de 2022. Durante os interrogatórios, ela foi eletrocutada quando suas respostas não agradavam aos soldados russos. “Quando eu respondia de uma forma que não gostavam, eles me eletrocutavam. Era uma dor insuportável e não tinha como fugir disso”, disse Snizhana, que foi libertada após cinco meses na prisão de Olenivka, mas as lembranças das torturas ainda permanecem vívidas.
Segundo a Procuradoria-Geral da Ucrânia, aproximadamente nove em cada dez prisioneiros de guerra que retornam à Ucrânia apresentam sinais claros de tortura. Além disso, a ONU identificou ao menos 48 centros de detenção onde prisioneiros de guerra ucranianos são mantidos sob condições desumanas, e onde as práticas de abuso são uma rotina.
À medida que a guerra na Ucrânia completa seu terceiro ano, esses relatos vêm à tona como um grito de alerta para a comunidade internacional sobre as atrocidades cometidas durante o conflito.