Quem produz os drones da Rússia na guerra contra a Ucrânia?
Regime de Vladimir Putin tem intensificado ataques aéreos, que incluem drones fabricados com apoio do Irã e da China
Internacional|Do R7

A Rússia tem intensificado ataques aéreos contra a Ucrânia desde que drones furtivos ucranianos destruíram uma parte significativa da frota de bombardeiros de Vladimir Putin, no dia 1º de junho deste ano.
Em um dos recentes ataques massivos, no último domingo (29), um caça F-16 da Força Aérea Ucraniana foi derrubado. Foi a terceira unidade perdida pela Ucrânia desde que o país começou a operar essas aeronaves, no último ano.
Os ataques aéreos russos envolvem mísseis e, especialmente, drones, aeronaves que, ao lado da IA (inteligência artificial), têm redefinindo o que significa lutar e vencer em um conflito moderno.
A Rússia tem investido pesadamente na produção de drones. A Zona Econômica Especial (ZEE) de Alabuga, localizada no Tartaristão, uma república autônoma no sudoeste da Rússia, tornou-se um ponto central nesse processo.
De acordo com a Iniciativa Global contra o Crime Organizado Transnacional (GI-TOC), a ZEE produz milhares de drones de ataque e reconhecimento, como o modelo iraniano Shahed-136, rebatizado de Geran-2 na Rússia, que desempenha um papel crucial no conflito.
Em Alabuga, a Rússia impulsiona a fabricação dessas aeronaves por meio de parcerias com o Irã, que compartilhou tecnologias com o regime de Putin, e de componentes fornecidos pela China.
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Parcerias internacionais e produção em massa
O presidente ucraniano Volodymyr Zelensky acredita que a Rússia consegue produzir 300 drones de longo alcance diariamente. A meta dos russos, de acordo com ele, é alcançar a meta de 500 aeronaves diárias.
Em 2024, a Rússia produziu cerca de 15 mil drones de longo alcance, número que dobrou para 30 mil em 2025, além de até 2 milhões de drones táticos menores, disse Oleh Aleksandrov, porta-voz do Serviço de Inteligência Estrangeiro da Ucrânia, ao site Politico.
A ZEE de Alabuga é um dos principais centros dessa produção. É lá que a Rússia fabrica drones como o Geran-2 e o mais avançado Geran-3, que utiliza tecnologia iraniana e voa em velocidades maiores, dificultando a defesa aérea ucraniana.
A parceria com o Irã, iniciada há dois anos, foi essencial para esse avanço. Um relatório do grupo de pesquisa C4ADS, compartilhado com o jornal The Washington Post, diz que a Rússia adquiriu tecnologia iraniana para fabricar drones Shahed-136 em Alabuga, com um investimento de cerca de US$ 2 bilhões (cerca R$ 10,9 bilhões).
Para contornar sanções ocidentais, a Rússia e o Irã utilizam uma rede secreta de pagamentos, incluindo transferências de ouro e empresas de fachada em países como os Emirados Árabes Unidos.
Dados vazados da empresa iraniana Sahara Thunder, obtidos pelo grupo de hackers Prana Network, confirmam os laços com Alabuga e o uso de zonas francas para facilitar transações, segundo o Post.
A China também desempenha um papel crucial nesse processo, fornecendo aos aliados russos componentes como hardware, eletrônicos, sistemas de navegação e motores, segundo Aleksandrov.
Apesar de Pequim negar oficialmente o fornecimento de armas, empresas chinesas usam empresas de fachada para evitar controles de exportação e sanções.
Drones civis, como o DJI Mavic, de fabricação chinesa, são amplamente utilizados por ambos os lados no conflito, mas a Ucrânia enfrenta restrições de acesso a esses equipamentos, enquanto a Rússia continua a obtê-los no mercado chinês, segundo Zelensky.
Exploração no programa Alabuga Start
Além da produção, a ZEE de Alabuga enfrenta denúncias de exploração de trabalhadores, especialmente no programa Alabuga Start, de acordo com um relatório publicado pela GI-TOC em maio.
O programa recruta jovens mulheres de 18 a 22 anos de países da América Latina, Sul da Ásia, África e ex-União Soviética, muitas vezes por meio de redes sociais e intermediários locais.
Depoimentos coletados pela GI-TOC indicam que as trabalhadoras não eram informadas de que trabalhariam na produção de armas, acreditando participar de um programa de trabalho-estudo.
Os relatos descrevem ainda condições adversas, como longas jornadas de trabalho, exposição a produtos químicos perigosos, vigilância constante e assédio.
Impacto na guerra e resposta ucraniana
Na guerra, os drones ucranianos também têm causado danos significativos. As autoridades do país estimam que 80% dos prejuízos a equipamentos e pessoal russos neste ano foram causados por essas aeronaves,
A Rússia, por outro lado, introduziu drones operados por cabos de fibra óptica, imunes a contramedidas eletrônicas, o que dificultou a defesa ucraniana, especialmente na região de Kursk, na fronteira entre os dois países.
A Ucrânia, que liderou a produção de drones nos primeiros anos do conflito, com 1 milhão de drones táticos fabricados em 2024 e uma meta de 2,5 milhões em 2025, enfrenta desafios para acompanhar o ritmo russo.
Zelensky diz que enfrenta desvantagem financeira e restrições ao acesso à tecnologia chinesa como obstáculos. Para contrabalançar, a Ucrânia investe em drones interceptadores e operações ousadas, como o contrabando de lançadores de drones para atacar alvos russos.
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