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Sem lugar para radicais

Presidente do Comitê de Contraterrorismo e Inteligência da Câmara norte-americana pediu o "aumento da vigilância" de comunidades islâmicas nos Estados Unidos

Internacional|Do R7

Poucas horas depois que os dois suspeitos pelos ataques a bomba à Maratona de Boston foram identificados como muçulmanos, o deputado Peter T. King, republicano de Nova York e presidente do Comitê de Contraterrorismo e Inteligência da Câmara, pediu o "aumento da vigilância" de comunidades islâmicas nos Estados Unidos. "Acho que precisamos de mais policiamento e vigilância nas comunidades de onde a ameaça surgiu", afirmou ao National Review. "A nova ameaça definitivamente vem de dentro."

A hipótese de King e o aumento da vigilância que já foi instituído desde o 11 de setembro presumem que a ameaça de radicalização se tornou uma questão de geopolítica local, ou seja, que os muçulmanos americanos estão criando extremistas em nossas próprias mesquitas e centros comunitários.

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Contudo, o que estamos descobrindo em relação aos suspeitos – os irmãos Tamerlan e Dzhokhar Tsarnaev – sugere uma história diferente, e que se tornou familiar. A radicalização não ocorre com jovens realmente ligados às correntes muçulmanas dos Estados Unidos; cada vez mais ela ocorre pela internet e muitas vezes fora do país, com pessoas isoladas e pouco queridas.


A página do YouTube de Tamerlan Tsarnaev, por exemplo, não exibe qualquer palestra de especialista, imame ou instituição dos Estados Unidos. Uma reportagem sugere que Tamerlan achou a teologia ensinada pela mesquita de Cambridge, a Sociedade Islâmica de Boston, desagradável: durante um culto de sexta-feira o imame elogiou a vida e a obra de Martin Luther King Jr., e Tsarnaev teria gritado que o imame era um "descrente". O irmão mais novo aparentemente nunca ia à mesquita.

As teorias do deputado King também não explicam porque não há mais ataques como o de Boston, já que os jovens estão se tornando radicais dentro da comunidade islâmica nacional. Sob determinados aspectos, o islã é a religião que mais cresce nos Estados Unidos e a última década foi cenário de uma rápida expansão das instituições muçulmanas em todo o país.


Ainda assim, o que é mais óbvio para qualquer pessoa que tenha passado tempo nessas comunidades é que, sejam de caráter religioso ou educacional, focadas nas artes, na cooperação ecumênica ou no ativismo, esse grupo mediador composto pelas instituições muçulmanas evita que jovens muçulmanos se radicalizem.

Um bom exemplo é o Centro Cultural da Sociedade Islâmica de Boston e sua ampla gama de programas religiosos e educacionais, da pré-escola ao seminário. Outro exemplo é a Rede de Ação Muçulmana do Centro de Chicago, que possui clínica médica, cursos de liderança cívica e um festival musical de verão que atrai grandes nomes do hip-hop muçulmano e promove a paz por meio da organização da comunidade. Há ainda o Zaytuna College, em Berkeley, Califórnia, a primeira faculdade muçulmana de artes liberais com quatro anos de duração.

Essas e outras instituições possuem objetivos diferentes, mas agem de acordo com uma ideia comum: se o centro do judaísmo é a lei e o coração do cristianismo é o amor, a principal exigência do islamismo é a piedade. Isso fica claro seja pelos tratamentos médicos fornecidos gratuitamente aos pobres na Clínica Comunitária de UMMA, no sul de Los Angeles, ou pelas aulas de árabe que levarão os recém-convertidos a compreenderem as tradições e a piedade islâmica pregada e praticada pela comunidade, que não abre espaço para a radicalização.

O deputado King e outros entenderam tudo errado – a comunidade muçulmana dos Estados Unidos rejeita de forma ativa e contínua, dia após dia, esse tipo de radicalismo por razões de caráter religioso: os radicais não sabem o que é piedade.

Mais de uma década depois do 11 de setembro, isso não deveria mais ser segredo. Em todo o país, as portas estão abertas e novas portas são abertas a cada dia. Apesar de todo o medo equivocado que tenha surgido após os ataques a Boston em relação ao islamismo radical e ao terrorismo em território nacional, estamos cada vez mais seguros e mais muçulmanos ouvem o chamado para praticar o islamismo como nos Estados Unidos, com uma comunidade verdadeira e viva.

(Suhaib Webb é imame do Centro Cultural da Sociedade Islâmica de Boston. Scott Korb é professor de escrita criativa da Universidade de Nova York e da New School, além de autor do livro "Light Without Fire: The Making of America's First Muslim College".)

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