Supremo começa a julgar recursos do mensalão com duras críticas aos políticos
Internacional|Do R7
Brasília, 14 ago (EFE).- O Supremo Tribunal Federal (STF) iniciou nesta quarta-feira a análise dos últimos recursos do mensalão com críticas à forma como a política é exercida no país. "Este julgamento supôs não somente a condenação de pessoas infratoras, mas também a condenação do próprio sistema político", que é "incapaz de satisfazer as ânsias da sociedade", afirmou o juiz Roberto Barroso, que se incorporou à corte neste ano, ocupando a vaga de outro magistrado que se aposentou. O caso se refere a uma rede de corrupção tecida em 2002 pelo Partido dos Trabalhadores (PT), uma vez que Luiz Inácio Lula da Silva, antecessor e padrinho político da presidente Dilma Rousseff, ganhou pela primeira vez as eleições. O Supremo julgou o assunto no ano passado e considerou que essa rede serviu para financiar campanhas de maneira ilegal e para subornar os dirigentes de outros quatro partidos a fim de formar a maioria parlamentar que Lula não tinha obtido nas urnas. Pelo caso, foram condenados 25 políticos, empresários e banqueiros, entre os quais figuram importantes dirigentes do PT na época, como o então ministro da Presidência e "mão direita" do ex-mandatário, José Dirceu. Os magistrados começaram a julgar os chamados embargos de declaração. São recursos que pedem uma revisão no cálculo das penas. O juiz Barroso foi o primeiro a tomar a palavra no reinício do processo conhecido como "Ação Penal 470" e começou "felicitando" o Tribunal por ter "devolvido à sociedade a confiança na justiça". Barroso rejeitou os primeiros recursos das defesas e foi duro com a classe dirigente do país. O magistrado disse que "a sociedade brasileira está cansada de como a política é feita no país" e assegurou que esse "sentimento" foi "palpável" durante os maciços protestos que estremeceram o Brasil durante as duas últimas semanas de junho. Barroso criticou o "papel central do dinheiro como consequência do custo astronômico das campanhas" e afirmou que "uma campanha de um deputado pode custar R$ 4 milhões", quando seu salário será inferior R$ 20 mil por mês. "Desse modo, um deputado que tem um mandato de quatro anos não pode ganhar o dinheiro que investiu na campanha, o que transforma a política em um negócio, em uma busca voraz de recursos", disse o magistrado. Após o voto emitido por Barroso, que rejeitou os primeiros recursos, os outros nove magistrados deverão se pronunciar. Segundo os cálculos do próprio tribunal, para julgar todos os recursos que foram apresentados pelos advogados dos 25 réus condenados serão necessárias entre quatro e seis audiências. EFE ed/ff