'Venezuela cobiça os tesouros deste país', diz jornal guianense sobre referendo de anexação territorial
População foi às urnas para se manifestar a favor ou contra a incorporação de Essequibo, região que corresponde a 75% da Guiana
Internacional|Do R7

A imprensa guianense se posicionou de forma veemente contra o referendo em que a população da Venezuela votou, no último domingo (3), a favor ou contra a anexação do território de Essequibo, que corresponde a 75% da Guiana. Jornais afirmaram que o governo venezuelano é violento e sempre "cobiçou os tesouros" do país, rico em minerais, como ouro, cobre, diamante e petróleo. Mais de 95% dos eleitores que participaram do plebiscito apoiaram a proposta. Embora a consulta não tenha consequências legais, as autoridades esperam que ela reforce a reivindicação territorial.
"A Venezuela cobiça os tesouros deste país, que causaram tantos conflitos duros dentro da Guiana", afirma um editorial do Kaieteur News, um dos principais jornais do país. "É melhor recobrarmos o juízo e tirar o melhor partido da nossa riqueza. Caso contrário, há vizinhos que vão se mudar e ocupar o espaço que nos resta."
Segundo o editorial, a população guianense não deve "baixar a guarda" e precisa estar "sempre vigilante" para antecipar "todo e qualquer desenvolvimento" do conflito. Apesar disso, o texto ressalta que qualquer movimento do ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, no sentido de invadir Essequibo é uma possibilidade improvável, uma vez que isso teria um grande "custo político" para ele. Para o veículo, "avançar através das fronteiras poderia levar a um inferno internacional que consumiria o seu país e o seu povo".
"A Guiana reuniu seus bens e arranjou seus amigos. Eles são grandes, são maus e ainda têm uma má disposição para a Venezuela. (...) O presidente Maduro não deve passar despercebido pelo que ele está ouvindo e vendo da comunidade internacional. Um erro de cálculo, qualquer passo em falso, e ele se transforma em picadinho", escreve o Kaieteur News.
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De acordo com o Guyana Times, outro importante jornal local, o referendo de domingo tem base na "suposição" de um advogado americano que, em 1949, atuou em defesa da Venezuela. Ele apresentou um memorando que denunciava uma suposta imparcialidade dos juízes que decidiram pela sentença arbitral de Paris, emitida em 1899, que deliberou sobre a questão de forma favorável ao Reino Unido em detrimento da Venezuela pelo domínio da região. O editorial afirma que o advogado apresentou "calúnias" e que não teve a coragem de divulgar sua conjectura quando ele ou as outras partes envolvidas estavam vivas.
Essequibo está sob controle da Guiana desde que o país se tornou independente, em 1966. Antes disso, era dominada pelo Reino Unido, desde meados do século 19. O referendo realizado no domingo na Venezuela remonta a uma disputa iniciada naquela época, durante o processo de independência das ex-colônias espanholas.
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Os britânicos apoiavam seu direito ao território com base no fato de que, em 1648, os espanhóis cederam toda a área a leste do rio Orinoco, um dos principais da América do Sul, aos holandeses — e parte dessa terra foi posteriormente passada para o Reino Unido. A Venezuela, por sua vez, alega que o território pertence a ela, já que era parte do Império Espanhol.
O Guyana Times, que define o referendo da Venezuela como uma "agressão", escolheu adotar um posicionamento igualmente firme ao do Kaieteur News em relação ao plebiscito de Maduro, mas com um tom mais pacífico. O editorial, intitulado "Vamos rezar pela paz", pondera que "a indignação diante da ousadia absoluta da Venezuela deve ser temperada pelo nosso dever de continuar a ajudar os seus cidadãos que migraram para cá e pelo nosso amor pelos nossos irmãos sul-americanos". O jornal também lamenta a escalada da violência e de conflitos ao redor do mundo, a exemplo das guerras entre Rússia e Ucrânia e entre Israel e o grupo terrorista palestino Hamas.
"Sim, fomos injustiçados de muitas maneiras pelo nosso vizinho maior e mais poderoso, mas não devemos ceder ao ódio e ao desprezo. Deixemos o amor prevalecer (com o firme entendimento de que Essequibo é nosso)", finaliza o texto.