O presidente ucraniano, Volodmir Zelensky, enfrentou a Rússia, nesta quarta-feira (20), no Conselho de Segurança da ONU, onde denunciou a invasão de Moscou como "criminosa" e pediu que seja suspenso seu direito de veto. Vestindo o uniforme militar que virou sua marca registrada, Zelensky se sentou no mesmo recinto da ONU que o representante russo, que demonstrou mais interesse por seu celular. Foi a primeira vez que ambos estiveram no mesmo local desde fevereiro de 2022, quando a Rússia iniciou sua operação militar na Ucrânia. "A maior parte do mundo reconhece a verdade sobre esta guerra", disse Zelensky. "É uma agressão criminosa e não provocada da Rússia contra nossa nação com o objetivo de se apoderar do território e dos recursos da Ucrânia". Zelensky urgiu a ONU a destituir a Rússia de seu poder de veto no Conselho de Segurança, qualificando a medida de reforma vital, que também incluiria uma maior representação do mundo em desenvolvimento, onde o apoio à Ucrânia tem sido morno. "O poder de veto nas mãos do agressor foi o que levou a ONU a um ponto morto", afirmou Zelensky. "É impossível deter a guerra, porque todos os esforços são vetados pelo agressor, ou por aqueles que aprovam o agressor", afirmou. Zelensky reforçou a posição ucraniana de que o poder de veto pertencia à antiga União Soviética - um dos vencedores da Segunda Guerra Mundial, após a qual a ONU foi criada -, e não à Rússia do presidente Vladimir Putin. "Infelizmente, este assento no Conselho de Segurança, que a Rússia ocupa ilegalmente mediante manipulações nos bastidores após o colapso da União Soviética, tem sido ocupado por mentirosos, cujo trabalho consiste em encobrir a agressão e o genocídio", declarou Zelensky. O ministro russo das Relações Exteriores, Serguei Lavrov, reagiu à declaração do presidente ucraniano, afirmando que o poder de veto de seu país é um instrumento legal "legítimo" detido pelos cinco membros permanentes deste órgão. "O recurso do direito de veto é uma ferramenta legítima estipulada na Carta das Nações Unidas", declaroyu Lavrov. Não é fácil eliminar o poder de veto da Rússia, embora a Assembleia Geral da ONU tenha despojado Taiwan, em 1971, do poder de veto que a ilha tinha como representante da China, cedendo seu lugar ao governo comunista de Pequim. Antes de Zelensky tomar a palavra, a sessão começou tensa, pois a Rússia questionou que o deixassem falar primeiro. A decisão foi tomada pelo premiê da Albânia, Edi Rama, que ocupa a presidência temporária do Conselho de Segurança. O embaixador russo, Vassily Nebenzia, que pediu a palavra reiteradas vezes, disse a Rama que deixar Zelensky, um ex-comediante, falar primeiro poderia "minar a autoridade do Conselho de Segurança" e torná-lo "um monólogo unipessoal". Rama respondeu calmamente, mas com crescente irritação ao enviado russo: "para isto há uma solução: o senhor detém a guerra, e o presidente Zelensky não tomará a palavra". O secretário-geral da ONU, António Guterres, que abriu a sessão, como de costume, criticou a Rússia duramente. "A invasão russa da Ucrânia, em clara violação à Carta das Nações Unidas e do direito internacional, está agravando as tensões e as divisões geopolíticas, ameaçando a estabilidade regional, aumentando a ameaça nuclear e criando profundas fissuras em nosso mundo cada vez mais multipolar", disse Guterres. A Albânia autorizou uma lista de 63 oradores, incluindo Lavrov. Também estava prevista a presença do secretário de Estado americano, Antony Blinken. Ex-embaixador na ONU e conhecido por seus comentários mordazes, o chanceler russo chegou a Nova York na última hora da terça-feira. De acordo com veículos de comunicação oficiais, ele voou por uma rota tortuosa para evitar o espaço aéreo europeu. Putin não foi este ano a Nova York para participar da Assembleia Geral da ONU, onde os países ocidentais tentam isolá-lo. Ele também é alvo de uma ordem de prisão emitida pelo Tribunal Penal Internacional.Guardiões da paz? Confira em 7 pontos como funciona o Conselho de Segurança da ONU