Depoimento revela que gari substituía colega no dia da morte; suspeito nega assassinato
Segundo colegas, Laudemir Fernandes não fazia a rota na qual morreu; suspeito negou qualquer envolvimento no crime
Minas Gerais|Maria Luiza Reis e Lucas Eugênio, do R7
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O Jornalismo da RECORD MINAS teve acesso aos depoimentos de testemunhas e suspeitos à Polícia Civil referentes ao caso do gari Laudemir Fernandes, assassinado na última segunda-feira (11), enquanto trabalhava, em Belo Horizonte. Renê da Silva Nogueira Júnior negou qualquer envolvimento no crime e colegas de Laudemir contaram que, normalmente, ele não fazia a rota em questão.
Durante depoimento, Renê informou à polícia sua trajetória no dia do crime. Ele conta que saiu de casa por volta das 8h05 e chegou ao trabalho entre 9h17 e 9h27. Renê contou ainda que pegou um congestionamento de cerca de 30 minutos e que, por não ser de Belo Horizonte, não conhece bem as vias da cidade.
Segundo seu depoimento, ele voltou para casa para almoçar e câmeras do condomínio e da empresa registraram sua chegada e saída para o almoço, às 13h10/13h15. Após trocar de roupa, desceu com os cachorros ao espaço pet e, mais tarde, por volta das 14h15/14h20, seguiu para a academia, quando foi abordado por policiais militares. O homem disse que os agentes o investigavam por um fato ocorrido em uma avenida movimentada e exibiram imagens de um carro parecido com o dele, mas alegou que não se tratava do seu veículo.
Renê informou aos militares que o veículo que estava com ele era da esposa, que é delegada da Polícia Civil. Questionado, disse que conversou com a esposa três vezes naquele dia: por volta de 08h40 para contar sobre o congestionamento, às 14h pedindo que deixasse o escritório arrumado para uma reunião e minutos antes quando foi abordado pela polícia.
Segundo depoimento, os militares mostraram imagens de câmeras de segurança que mostravam o carro de Renê nos arredores do local onde aconteceu o crime. O empresário negou que o carro fosse o da esposa, dizendo que o da imagem se tratava de um modelo elétrico e o que dela é um modelo hibrído. Questionado se sabia onde a esposa guardava as armas, ele disse que sim, mas afirmou que não usava elas.
Por fim, Renê afirmou que a pistola .380, que é de uso particular da esposa e do mesmo calibre da arma usada no crime, apresenta defeito e a esposa constantemente a leva para a delegacia para um inspetor fazer a manutenção. O empresário informou ainda que a esposa utiliza no trabalho uma arma .9mm da Polícia Civil. O declarante afirmou não ter antecedentes criminais e negou ter efetuado qualquer disparo de arma de fogo.
Relatos de testemunhas
Apesar de negar a autoria do crime, outros elementos reunidos pela investigação, como a identificação por testemunhas, possibilitaram a ratificação da prisão em flagrante. No dia do crime, quatro pessoas que trabalhavam com Laudemir prestaram depoimento à polícia.
Uma das testemunhas era a mulher que dirigia o caminhão de lixo e presenciou toda a cena. Em depoimento, ela informou que o veículo estava parado em uma rua de mão dupla, onde funciona uma oficina mecânica, e que havia carros estacionados nos dois sentidos. Quando percebeu que uma fila de veículos se formou, ela manobrou o caminhão para liberar o fluxo.
Um dos carros era um SUV de luxo dirigido pelo suspeito. Após a manobra, o gari, que estava na frente do caminhão, disse que ele poderia passar, porque tinha espaço. Segundo a motorista, quando viu a cena, colocou o rosto para fora do veículo, checou o espaço disponível e falou: “vem, vem, pode vir”. Nesse momento, ele teria apontado uma arma para ela e dito: “se você esbarrar no meu carro eu vou dar um tiro na sua cara, duvida?”.
Um dos garis interviu e disse: “você vai atirar na mulher trabalhando? Vai embora sô, segue seu caminho sô”. Ainda conforme o relato, o motorista passou pelo caminhão, sem danificar o carro. Depois disso, ele estacionou atrás do veículo. A arma utilizada por ele chegou a cair no chão. Após recuperar o armamento, ele atirou na direção dos coletores. Laudemir estava mais perto do suspeito e foi ferido na costela.
Após ser atingido, Laudemir teria dito: “me acertaram, me acertaram”. Segundo a motorista, a vítima caiu no chão e o suspeito andou tranquilamente até o carro, antes de fugir. Os colegas socorreram Laudemir, acionando a polícia e o Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência). Ele chegou a ser levado por militares para o Hospital Santa Rita, mas não resistiu aos ferimentos.
Um dos colegas disse que Laudemir não trabalhava na rota do bairro Vista Alegre e estaria substituindo um coletor que se acidentou. Ainda segundo o depoimento, o gari teria falado com a equipe que precisava ir para casa mais cedo, porque receberia uma visita do Conselho Tutelar. Laudemir havia conseguido a guarda da filha recentemente e a instituição iria conhecer a nova casa da adolescente.
Prisão preventiva
A Justiça de Minas Gerais converteu em preventiva a prisão do empresário Renê da Silva Nogueira Júnior, suspeito do assassinato do gari Laudemir Fernandes. A decisão aconteceu durante audiência de custódia, na manhã desta quarta-feira (13). A decisão é do juiz Leonardo Damasceno, que acatou o pedido do Ministério Público.
Segundo o juiz, a prisão preventiva é necessária para a garantia da ordem pública, considerando a gravidade do caso. Ainda segundo a decisão, a conduta do suspeito abala profundamente a tranquilidade social e gera um sentimento de insegurança na comunidade, indicando que a liberdade do autuado, neste momento, representa um risco real à ordem pública.
“O crime foi cometido em plena luz do dia, por motivo fútil, uma aparente irritação decorrente de uma breve interrupção no trânsito causada por um caminhão de coleta de lixo. A desproporcionalidade e a frieza da ação, na qual o autuado, após uma breve discussão, deliberadamente sacou uma arma de fogo, a preparou para o disparo e atirou contra um trabalhador que exercia seu ofício, uma atividade pública essencial de limpeza da cidade, demonstram uma periculosidade acentuada e um total desrespeito pela vida humana”, detalhou.
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