Entenda por que adultos lideram casos de dengue em MG, mas vacinação inicial é para crianças
Estado recebeu 78 mil doses de imunizantes contra a dengue, nesta quinta-feira (22), e segue orientação do Ministério da Saúde
Minas Gerais|Maria Luiza Reis e Pablo Nascimento, Do R7
Apesar do maior número de casos prováveis de dengue em Minas Gerais estar entre o público de 30 e 39 anos, a primeira remessa da vacina será destinada para crianças de 10 e 11 anos.
O estado recebeu 78 mil doses de imunizantes contra a dengue, nesta quinta-feira (22), e segue orientação do Ministério da Saúde para priorizar o público infantil. O lote será destinado a 22 cidades prioritárias.
Atualmente, segundo o Painel de Monitoramento de Arboviroses do Ministério da Saúde, 21.581 pessoas entre 30 e 39 anos estão com suspeita de dengue no estado. O número é aproximadamente 2,5 vezes maior que o de crianças e adolescentes entre 10 e 19 anos com suspeita da doença, que é de 8.312.
Eduardo Prosdocimi, subsecretário de Vigilância em Saúde da SES-MG, explica que a decisão do Ministério da Saúde em priorizar as crianças têm relação com o comportamento da doença. "Os jovens e idosos estão entre os grupos etários com maior grau de hospitalização por causa da dengue. Como a vacina é contraindicada para idosos, restaram os jovens", detalha.
O Ministério da Saúde elencou as crianças e adolescentes de 10 a 14 anos como prioritários na campanha de imunização pelo SUS (Sistema Único de Saúde). Segundo o órgão federal, 16,4 mil pessoas nesta faixa etária foram internadas em função da dengue entre janeiro de 2019 e novembro de 2023.
“Minas Gerais começa a gerenciar a vacinação, com a primeira dose, das crianças de 10 e 11. Posteriormente serão vacinadas aquelas com 12, 13 e 14 anos. Mas é importante esclarecer que as vacinas são uma estratégia de proteção de médio e longo prazo. Para o momento crítico que estamos vivendo, ainda é necessário investir em outros cuidados, como não deixar água parada e procurar as unidades de saúde ao menor sinal de dengue”, ressaltou o médico Fábio Baccheretti, secretário de Saúde de Minas Gerais.
Na avaliação do médico Estevão Urbano, presidente da Sociedade Mineira de Infectologia e diretor da Sociedade Brasileira de Infectologia, o critério estabelecido é questionável em alguns aspectos.
"O que colocaram [o Ministério da Saúde] em relação às crianças é justo porque o segundo episódio de dengue costuma ser mais grave que o primeiro. Então, uma criança de 12 anos tem mais probabilidade de já ter tido um primeiro episódio do que uma criança de 8 anos. Mas o critério não fundamenta não atender a faixa de 30 anos, que tem mais chance ainda de já ter passado por um primeiro episódio", problematizou.
"Li alguns estudos do comitê que apontam que a decisão também está associada ao fato de crianças e adolescentes ainda terem outras vacinas para tomar. Com isto, vão ao posto de saúde com mais frequência e a adesão acaba sendo maior do que em outras faixas etárias", comenta o médico."Mas é uma decisão do Ministério da Saúde que precisa ser respeitada e o ideal é ter vacina para todas as pessoas", completa.
Quem está fora da faixa etária classificada como prioritária pode procurar a vacina na rede particular. No entanto, o imunizante Qdenga é contraindicado para gestantes e imunossuprimidos. Pessoas com mais de 60 anos também não são incentivadas, mas quando necessário, o médico pode receitar a injeção para os idosos.
"Essa restrição acontece, principalmente, pela falta de estudo clínico desta vacina para esse grupo. O imunizante com vírus vivo atenuado é complexo para pessoas frágeis", comenta Estevão Urbano sobre a restrição.
Cidades escolhidas para vacina
Para selecionar os municípios prioritários para receber o medicamento, o Ministério da Saúde levou em consideração três critérios: possuir pelo menos um município de grande porte, ou seja, com mais de 100 mil habitantes, com alta transmissão de dengue registrada em 2023 e 2024, e com maior predominância do sorotipo DENV-2.
Em Minas, 71 municípios entraram em situação de alerta devido ao avanço da dengue, quase metade (47%) das cidades estão na Grande BH ou na região central do estado.
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