Parlamentares se surpreendem com Gleisi Hoffmann na Secretaria de Relações Institucionais
‘Se funcionar, terá os méritos. Se não funcionar, vai assumir o ônus de ter contrariado a percepção de boa parte da base’, diz Efraim Filho

A escolha do presidente Lula de entregar a Secretaria de Relações Institucionais (SRI) à presidente do PT, Gleisi Hoffmann, surpreendeu parlamentares e líderes de todos os campos políticos.
Recentemente, a vaga ocupada por Alexandre Padilha, que agora assume a pasta da Saúde, era cobiçada por partidos do centrão. Porém, até mesmo aliados do governo avaliavam que colocar um nome de centro seria a melhor escolha para a articulação do governo.
O líder do União Brasil no Senado, Efraim Filho (PB), disse ao blog que escolher Gleisi foi “uma aposta do presidente, que traz seus riscos. Se funcionar, terá junto com a Gleisi e o PT os méritos. Se não funcionar, vai assumir o ônus de ter contrariado a percepção de boa parte da base que desejava um nome mais articulado com o centro, que preside as duas Casas do Congresso, já que os outros postos do Palácio já são do PT”.
Um parlamentar próximo a Lula avaliou, em reservado, que o presidente está “isolado, não escuta conselhos”, e que a presença de Gleisi no Planalto pode ser “uma voz capaz de falar a verdade para Lula e ministros”. Porém, para ele, o governo fica ainda mais “empurrado para a esquerda”, além de enfraquecer o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, com quem Gleisi tem divergências históricas e públicas em pautas econômicas, como o arcabouço fiscal e discussões sobre o aumento do salário mínimo.
Logo após receber o convite de Lula, o blog apurou que Gleisi falou com líderes e ministros. Uma das ligações foi, justamente, para o ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
“Lula apostou na boa briga e reconstrução de imagem pela esquerda”, avaliou um parlamentar de esquerda, que disse ter ficado sabendo do nome da presidente do PT na SRI apenas na quinta-feira (27). Antes, a indicação dela era esperada para a Secretaria-Geral da Presidência.
O líder do PL, Sóstenes Cavalcanti, disse ao blog que Lula “trocou seis por meia dúzia” e que “para nós do PL, nada muda. Já o centrão fica frustrado, porque sonhava com alguém do centrão neste ministério”.
Outros líderes se posicionaram reservadamente e avaliaram que a entrada de Gleisi é uma sinalização ao mercado que Lula continuará com o “núcleo duro do PT dentro do Palácio do Planalto”.
Historicamente, Lula costuma dar preferência para nomes petistas e aliados próximos em cargos dentro do Palácio do Planalto. Com a popularidade baixa e problemas recentes na articulação política, era esperado que o presidente cedesse para partidos de centro.