Que culpa tem o repórter?
No último domingo (26), jornalistas foram agredidos durante uma manifestação na Praça da Liberdade, na região centro-sul de Belo Horizonte
Eduardo Costa|Eduardo Costa
Cada vez que o povo ocupa as ruas, ordeira e pacificamente, sem impedir a locomoção dos demais, festejo o amadurecimento da nossa jovem democracia. No entanto, algo me incomoda mais e mais e me pergunto por que não tomamos uma providência. Nós, os jornalistas, temos de dizer basta aos covardes travestidos de corajosos que se aproveitam das multidões para ameaçar repórteres que estão ali exclusivamente para trabalhar e, claro, dar divulgação ao evento. É incrível porque estão na rua - que, pública, pode e deve ser lugar de todos – e reclamam publicidade a seu protesto, mas, do nada, escolhem determinada equipe e hostilizam, ameaçam e até agridem.
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O pior é que não importa se a massa é vermelha ou verde-amarela, se é coxinha ou mortadela, se gritam Lula livre ou viva Bolsonaro... Sempre lá estão os que são fortes apenas quando em grupo, protegidos pela confusão de multidão, para espantar jornalistas e ainda posarem de heróis. Há mais tempo, a turma que torce pelo PT ameaçou colegas do rádio. No dia seguinte, pedi que os dois líderes do movimento viessem ao estúdio para discutirmos o assunto. Estavam sem agenda. Nunca mais dei espaço para eles. Claro que, se houver fato que justifique ou ordem superior estarei pronto para entrevistá-los, mas, gratuitamente, levantar bola para que façam campanha em benefício próprio (e é o que fazem) nunca mais... A propósito, eles defendem os professores, os profissionais mais importantes, de menores salários e de décimo terceiro parcelado, apesar de os tais líderes serem amigos do governador Pimentel, que afundou o Estado. Mas, estão com seus bons salários de deputados e suas vantagens em dia.
Agora, a moda de agredir repórteres, cinegrafistas e auxiliares de TV está com apoiadores de Bolsonaro. E aconteceu de novo no último domingo, na Praça da Liberdade. Sem que a polícia interviesse, sem que os líderes repudiassem, sem que os colegas jornalistas fossem embora.
É isso. Fosse eu o presidente do Sindicato ou dirigente de um veículo de comunicação faria uma campanha simples: toda vez que um profissional fosse ameaçado todos os outros iriam embora e ninguém daria qualquer notícia sobre o evento. A gente devia aprender com a PM. Toda manifestação era seguida de muita bronca contra a Corporação que dava números diferentes e mais reais do número de participantes. Ela não divulga mais. Nós, do rádio, da TV e do jornal deveríamos simplesmente ignorar manifestação que ameaça repórter. Afinal, hoje é contra o concorrente, amanhã vou chutar nosso traseiro.
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