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Sobre Jobs, rádio e jornal

As 600 páginas de “Steve Jobs por Walter Isaacson” conta a história do criador da Apple e nos leva a refletir sobre os posicionamentos das empresas

Eduardo Costa|Eduardo Costa

Fala sobre declínios de empresas chama a atenção
Fala sobre declínios de empresas chama a atenção Fala sobre declínios de empresas chama a atenção

Conclui, no fim de semana, a leitura das 600 páginas de “Steve Jobs por Walter Isaacson”, a incrível biografia autorizada - mais que isso, solicitada - de um homem que não interferiu e não quis conhecer o texto, quando lutava contra o câncer, embora fosse conhecido por sua obsessão pelo controle de tudo ao seu redor. Adotado, rebelde, usuário de drogas, zen-budista, vegetariano, sujo, descalço, arrogante, malcheiroso, cruel, largou tudo aos 20 anos e fez peregrinação de sete meses à Índia. Voltou, montou uma empresa e aos 25 já era milionário. Cinco anos depois foi expulso, mas, voltou 12 anos depois para salvá-la da falência e transformá-la na mais valiosa do mundo.

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O livro sobre o criador da Apple é um espanto. Como alguém pode ser tão genial e insuportável em uma só encarnação? Por que o cara que cria a empresa mais encantadora não vive mais para colher os frutos do sucesso? Por que ele tem a capacidade de mudar a vida de todos os humanos a partir da tecnologia, mas, não é capaz de acolher, abraçar e ser feliz ao lado de uma filha? Entretanto, o que mais mexeu comigo foi uma fala de Jobs, capturada pelo experiente Walter - jornalista e autor de um livro que resultou de dezenas de entrevistas com o próprio Jobs e centenas de outras, com amigos, adversários - e que está entre os legados do homem que mudou nossas vidas. Disse ele:

“Tenho minha própria teoria sobre a razão do declínio de empresas como a IBM e a Microsoft. A empresa faz um grande serviço, inova e torna-se um monopólio, ou quase isso, em alguma área, e depois a qualidade dos produtos torna-se menos importante. A empresa começa a dar valor aos grandes vendedores, porque são eles que têm impacto nos rendimentos, não os engenheiros ou designers de produtos. Com isso, o pessoal de vendas acaba dirigindo a empresa... Quando o pessoal de vendas dirige a empresa, o pessoal de produtos deixa de ter importância, e muitos simplesmente perdem o interesse... Odeio pessoas que se intitulam empresários quando na realidade o que estão tentando fazer é criar uma empresa para vende-la ou abrir o capital, ganhar dinheiro e seguir adiante”.

Guardei o livro, abri o celular e vi comentários de leitores sobre pesquisa do “Data Folha” sobre a credibilidade das instituições. O primeiro leitor disse: “Vocês já fizeram pesquisa sobre sua credibilidade?” Em seguida, recebi dos amigos Carlos Rubens e Vagner Espanha, amantes do rádio como eu, notícias do fim do AM da Rádio Globo, uma grife das mais reluzentes durante a maior parte do século passado. Fiquei pensando na Xerox, na Kodac... Por que será que empresas gigantes desaparecem do mercado? Acho que Jobs me deu o Norte para entender. Os artesãos criam o sonho, o produto, a empresa; então, como a galinha precisa cantar para anunciar o ovo, os vendedores entram em ação... E, com o passar do tempo, o “vender” torna-se mais importante que o “fazer”; se há um prêmio, quem vai receber é o vendedor... O torneiro mecânico da indústria, apurador da redação, o motorista, o auxiliar, o burro de carga, bom, esse fica com o salário e agradeça... E assim, a alma, a essência das empresas vai se esvaindo... Afinal, quem está no comando ou é o vendedor ou alguém que só ouve o vendedor...

Faça esse exercício. Verifiquem se, na sua empresa, os melhores salários estão com os do chão de fábrica ou com o pessoal de vendas. Observe se, quando a Assembleia, a Câmara ou o governador vai homenagear a empresa e o presidente não pode ir quem ele indica para receber a placa: o peão uniformizado ou o vendedor engravatado? Na sua empresa, quem tem sala própria, secretária e garçom servindo cafezinho, o diretor comercial ou o chefe da produção? Esse exercício de reflexão não está repleto de ressentimentos – essa é a palavra dos nossos tempos. Na verdade, quer chamar a atenção para o simples fato apontado por Jobs. O vendedor é ótimo, merece ganhar bem e ser prestigiado. Mas, ele só vende. Se o que rala, cria, inventa e reinventa não estiver motivado, quando a primeira crise vier, o barco afunda. E o bom vendedor, o homem do comercial, vai dizer: como vender se não temos o mesmo produto da concorrência? E é provável que o presidente, se não for o próprio vendedor, vai reunir a diretoria para saber quem é mesmo o cara que devia inovar...

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