UnB e Anac desenvolvem projeto sobre presença de mulheres na aviação civil
Serão identificadas as dificuldades que impedem a participação das mulheres na aviação civil com objetivo de reduzir a desigualdade de gênero
Luiz Fara Monteiro|Luiz Fara Monteiro e Luiz Fará Monteiro
A UnB (Universidade de Brasília) e a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) lançaram o projeto de pesquisa Mulheres na Aviação Civil: Estudos para uma Regulação Inclusiva no Setor. A iniciativa tem como objetivo mapear a participação da mulher no setor aeronáutico brasileiro e levantar dados que podem ser usados para subsidiar a tomada de decisões dos atores públicos visando à redução da desigualdade de gênero.
A participação feminina na indústria da aviação civil é baixa em todos os países, afirmou a professora Inez Lopes. Segundo dados da Anac, No mundo, as mulheres ocupam apenas 5% dos cargos de piloto. No Brasil, a estimativa é de que o índice é ainda menor: 3%.
De acordo com a professora Inez Lopes, supervisora acadêmica do programa, o projeto Mulheres na Aviação Civil permitirá, a partir dos dados levantados, identificar barreiras que impedem ou dificultam a participação das mulheres no mercado brasileiro de aviação civil, fomentar a produção científica sobre questões de gênero no setor e subsididar tomadores de decisão em relação aos temas da área.
“Esse é um grande avanço em relação às questões de gênero em uma indústria com um peso enorme em razão do tamanho de sua cadeia econômica e da importância estratégica para o país”, afirmou a professora Inez Lopes. “Tenho certeza que as participações da Anac e de todos os pesquisadores envolvidos vão render excelentes frutos não apenas para uma melhor compreensão do tema do ponto de vista acadêmico, mas também na formulação, acompanhamento e avaliação de ações para promover a inclusão no setor.”
O diretor em exercício da Anac, Ricardo Catalan, explicou que o projeto com a UnB se insere em uma estratégia de apoio ampla com iniciativas que tem o objetivo de corrigir o problema da falta de equidade no setor da aviação civil. “É uma questão estratégica do ponto de vista social, político e econômico. Nossa expectativa é identificar, com a ajuda da UnB, quais são os gargalos que se constituem em barreiras para que esse setor tenha maior participação de mulheres”, disse. Catalan citou como exemplos a maioria de mulheres na atividade de comissárias de bordo, enquanto são minoria como pilotas de aeronaves.
A reitora Márcia Abrahão destacou a expertise das áreas envolvidas com o projeto. Além da FD, mais três unidades da UnB fazem parte da pesquisa, a Faculdade UnB Gama, sob a coordenação da professora Polliana Martins; Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Gestão de Políticas Públicas, com o professor Victor Rafael Celestino; e o Instituto de Psicologia, com a professora Carla Antloga.
“São unidades com experiências muito bem-sucedidas em pesquisas com órgãos públicos. Tenho certeza que muito em breve terão resultados importantes para a Anac e para o nosso país. Esperamos que consigamos mudanças concretas para garantir a equidade de gênero”, afirmou a reitora, que ressaltou dados apresentados pela Revista Darcy sobre a baixa presença feminina em determinadas áreas do conhecimento.
A diretora da Faculdade de Direito da UnB, Daniela Marques de Moraes, ressaltou a importância dada à presença feminina nos cargos de gestão da Universidade e a disposição da Anac, instituição de referência nacional e internacional, em discutir a inserção de mulheres na aviação civil.
INTEGRANTES – O projeto será desenvolvido por pesquisadores de quatro unidades acadêmicas da UnB – Faculdade de Direito (professora Inez Lopes Matos Carneiro de Farias), Faculdade do Gama (professora Polliana Cândida Oliveira Martins), Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Gestão de Políticas Públicas (professor Victor Rafael Rezende Celestino) e Instituto de Psicologia (professora Carla Sabrina Xavier Antloga).
Polliana Martins, que é formada em engenharia mecânica e trabalha com projeto aeronáutico e estruturas aeronáuticas, manifestou expectativas para a transformação do mercado de trabalho a partir da pesquisa. “Vamos ter oportunidade de tomarmos ações efetivas para aumentar a presença de mulheres na área de aviação civil. Vai fazer com que nós tenhamos mais cuidado e mais olhares voltados ao porquê dessa ausência e ao porquê da falta de tantas mulheres nesse mercado que está em crescimento. Nós precisamos tratar para que seja igualitário.”
Carla Antloga desenvolve pesquisa na área de trabalho feminino há cerca de 15 anos. Ela conta que as pesquisas têm demonstrado que é preciso agir para colocar mulheres em locais de poder e de decisão. “Se ações concretas não forem tomadas, vamos levar muito mais tempo que imaginamos para pensar em equidade de gênero”, alerta.
A equipe será composta por cinco pesquisadores seniores, quatro pesquisadores de pós-graduação (mestrado e doutorado), dois de apoio técnico e seis graduandos ou graduados para apoio operacional. O projeto tem prazo inicial de 15 meses.
A Fundação de Apoio à Pesquisa (Funape), vinculada à Universidade Federal de Goiás, fará a gestão financeira do projeto. A superintendente da Fundação, Kamila Rabelo, ressaltou a importância da temática e da parceria com a UnB. Atualmente, a Funape administra e gerencia 938 projetos, sendo 72 deles com a UnB. “É uma parceria muito importante e que tem se consolidado.”
MEMÓRIA – O ano de 2023 foi marcado por importantes ações implementadas na Universidade de Brasília de combate à desigualdade de gênero, principalmente, nas áreas das ciências exatas. Nesse ano, a Semana Universitária – a maior da história da UnB – teve como tema “O Futuro é Feminino”, destacando a potência dos sujeitos para além das ideias pré-estabelecidas socialmente sobre gênero e comportamento.
Um edital inédito, chamado Mulheres e Meninas na Ciência: o futuro é agora, selecionou 20 projetos de extensão, oferecendo duas bolsas em cada iniciativa. O objetivo foi incentivar a participação feminina nas áreas de ciência e tecnologia, buscando construir uma universidade mais inclusiva, participativa, multicultural, democrática, sustentável e criativa.
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