Na horta com Dona Andrelina: afeto, raízes e sabedoria
Em uma visita ao Hotel Areia que Canta, em Brotas , interior de SP, vivi um reencontro com o tempo, a simplicidade da terra e o carinho de uma avó que acolhe com um sorriso e um batom vermelho

Assim que cheguei à horta, encontrei um casal de hóspedes conversando com uma senhora extrovertida e de uma alegria contagiante.
— Pode chegar, minha gente, fiquem à vontade! — disse ela.
Minha mãe observava uma flor linda, chamada Dália, quando Andrelina chegou já puxando conversa. Foi ali que percebi: uma das personagens desta expedição até Brotas, no interior de São Paulo, estava pronta para a nossa prosa.
Vaidosa, Andrelina combinava a roupa com o cenário. Com um beijo carinhoso e um abraço, me senti no colo de uma das minhas avós. Que bom sentir tudo isso de novo.
Andrelina Esther Pinotti Farsoni, 80 anos, de sorriso largo e uma expertise de vida sem igual, estava preocupada com uma coisa — e eu entendo. Minha mãe também não sai de casa sem batom.
— Mas já vamos começar? Você vai tirar foto? Espere... tem um batom para me emprestar? Não posso tirar foto sem batom! — disse ela sorrindo.
Eu a tranquilizei, dizendo que procuraria um batom para ela. Mandei uma mensagem para a neta Laura, que cuidou com muito carinho da minha hospedagem.
Passado o apuro, Andrelina finalmente encontrou seu batom vermelho, claro! Usou a câmera do meu celular como espelho — e ficou uma lindeza, como costumo chamar todo mundo.

Seguimos caminhando pela horta, o lugar de que Andrelina mais gosta. Contou que ela já esteve em outras áreas da fazenda.
— Esse pé de mamão aqui é importante. Ele faz sombra para a hortelã que plantamos aqui. O sol está muito forte nos últimos anos — explicou.
Chuchu, alho, alface, brócolis, almeirão, vagem branca... Cada cantinho que ela mostrava vinha acompanhado de uma história.
O que é produzido na horta contribui — e muito — para o restaurante do hotel. Mas é necessário complementar, e aí entra a escolha criteriosa de fornecedores. Quando a horta produz bastante e não se usa tudo na cozinha do hotel, é feita uma cesta e oferecida aos funcionários.
Durante muito tempo, Andrelina comandou a cozinha do Areia que Canta. Agora, passou essa missão para uma equipe competente, que prepara comida com sabor de fazenda, de casa, de vó — para todos que escolhem passar ali alguns dias e parar no tempo.
— Pra gente que gosta, que cuida da natureza, tem que plantar alguma coisa, uma sementinha. A terra daqui é boa, uso o esterco produzido aqui mesmo, rego duas vezes e dou muito amor e carinho. Isso é fundamental, comentou.
Parar no tempo. Isso. Mesmo trabalhando, consegui descansar nesse recanto especial.
O sol já estava forte demais. Resolvemos ficar ali, perto dos pés de mamão. Tem mamão macho e fêmea, e ela explica a diferença entre os dois: — O macho é mais comprido, demonstrou.
Laura, a neta com quem tive mais contato, apareceu na horta. Nos abraçamos e rimos muito. É que a vó Andrelina quis pegar um mamão maduro para dar aos passarinhos. E não é que ela encontrou um pedaço de pau e o usou para tirar o fruto do pé? Calma... nem Laura nem eu sofremos nada. O mamão foi direto para o chão, para a alegria dos passarinhos.

Caminhamos mais um pouco. A vó Andrelina perguntou se eu já havia experimentado ora-pro-nóbis. E eu fui sincera:— Nunca comi.
Então, como tudo tem sua primeira vez, Andrelina pegou três folhas direto do pé para a gente comer ali mesmo. E lá fui eu... Achei saboroso, mas fiquei um pouco sem graça. Algo do tipo: só isso? Laura também foi presenteada com o trio de folhas e agradeceu à avó, que a abençoou.
Eu quis saber o que ela acha da reação das crianças que nunca viram uma horta ou tiraram leite de uma vaca.
— Tem que incentivar mais essas crianças, né? A escola vai orientar para uma vida mais saudável, para que elas reconheçam que é da terra que vem o produto que estão comendo e entendam a importância de cuidar disso tudo.
Voltamos para o cantinho da horta. E, aos poucos, outras netas foram chegando. Sentamos num sofá de madeira rústica, com almofadas confortáveis. Ao som dos passarinhos e de um silêncio incrível, seguimos na prosa sobre a vida, a importância da fazenda, do hotel, desse estilo de vida que elas levam por lá.
Ah... me senti em família. Sim. O local é extremamente acolhedor, e ali trabalham pessoas que fazem tudo com muito amor.
Confira no vídeo abaixo, alguns momentos da nossa expedição Brotas. Desta vez, quem nos levou até este destino foi a Fiat Strada Ultra, cabine dupla, T200. Conforto, desempenho e economia de combustível na rodovia e nas estradas de terra.

Andrelina observava atentamente cada fala de suas três netas que ali estavam: Laura, Mariana e Gabriela. Às vezes, eu segurava sua mão. Que paz. Que saudade das minhas avós. Sorte de quem ainda pode vivenciar tudo isso.
Perguntei o que ela sentia quando estava na horta.
— Eu só penso assim: vou falando o que estou pensando, o que estou admirando e, se tem problema, deixo aqui na terra. As pessoas acham que a gente não tem, né? Eu converso com as plantas e com os passarinhos. Ontem, eu estava ali cuidando do mamão e veio um passarinho. Eu olhei para ele e ele para mim. Deixei um mamão que estava mais maduro. Ele veio, comeu. Eu disse: “Você gosta? Pode ficar à vontade.” Ele comeu, cantou e foi embora. E depois voltou.
A história dessa família e do hotel estará em outra matéria especial, onde contarei um pouco sobre a chegada dos imigrantes italianos que encontraram, nas terras de Brotas, uma nascente pra lá de especial — hoje, a principal atração do município.
E, se um dia você quiser conhecer essa avó Andrelina, do Hotel Areia que Canta, é só chegar à horta. Ela estará por lá.
Andrelina, gratidão pela conversa, pelo seu tempo comigo e pelo carinho.
Eu voltarei.
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