Cerca de 300 alunos não têm vagas no 1º ano em escolas públicas de SP
São crianças moradoras de Pedreira, zona sul, e que estão em casa desde início do ano letivo. Imóvel ainda estaria em reforma, segundo prefeitura
São Paulo|Joyce Ribeiro, do R7
Antes mesmo da decisão de suspender aulas em escolas públicas por causa do coronavírus, cerca de 300 crianças que ingressariam no 1º ano do Ensino Fundamental I não tem sequer perspectiva de quando vão poder ir ao colégio e começar o ano letivo. Elas são moradoras da região de Pedreira, na zona sul de São Paulo, e até agora não têm vagas garantidas na rede municipal.
Um comunicado de 31 de janeiro enviado pela DRE (Diretoria Regional de Ensino) Santo Amaro às EMEIs (Escola Municipal de Educação Infantil) Jardim Apurá, Pedreira, Virgílio Tavora e Raul Joviano do Amaral pedia que os pais de alunos sem vagas fossem, a partir de 17 de fevereiro, para o CEU Alvarenga para fazer a pré-matrícula das crianças que seriam encaminhadas para a EMEF (Escola Municipal de Ensino Fundamental) Pedreira.
Leia mais: Coronavírus: prefeitura de SP decreta estado de emergência
A dona de casa, Fabiana Cordeiro Machado, está com o filho Luis Octávio Machado, de 6 anos, em casa no Jardim Apurá. "Cheguei 7h no CEU Alvarenga e sai 13h30. Tinha muita gente para fazer matrícula, mas não sabiam dar informações e só anotavam dados. Tinham duas atendentes e gente até remarcando. Foi tipo um cala a boca porque a gente ficava cobrando, daí fizeram essa matrícula, mas não tem data nem nada", lembrou.
Fabiana sabe que centenas de crianças da região estão na mesma situação, justamente no período de alfabetização. "Tô em casa cuidando dele que está fora da escola. Se a mãe, por vontade própria, não leva o filho para estudar, tem que responder pelo ato. Agora se é o governo que não tem vaga, nada acontece", disse indignada.
O informe da DRE de janeiro ressaltava que o imóvel passava por reforma para adequação do espaço. A previsão de início das aulas era a segunda quinzena de março, prazo que não será cumprido. A Secretaria Municipal de Educação disse que a escola era um casarão que está sendo adaptado e ampliado, mas que as fortes chuvas atrasaram as obras da unidade, que deve receber 280 crianças.
Veja também: Prefeitura de SP abre cadastro para pais pedirem uniforme escolar
No Jardim Bandeirantes, a professora Elaine Oliveira Costa afirma que está vivendo agora com a filha Mariana Rodrigues da Costa, o mesmo problema que viveu com o filho. "É o tipo de problema que dá para prever, o governo tem que ter logística, são alunos que já estavam na rede. Meu filho iniciou o ano letivo já com aulas começadas em 2019. Agora a situação se repete com minha filha de 6 anos".
Elaine disse que foi informada que a escola Sete Praias, novo nome da EMEF, está em construção e sendo adaptada para receber alunos. Ela e outros pais batalham pela vaga, uma vez que, desde dezembro, o cenário está indefinido. "Tô tirando recurso que já não tenho para pagar alguém para cuidar da minha filha. Eu trabalho justamente no período que seriam as aulas e não confio em deixá-la com desconhecidos", ressaltou.
Leia ainda: Escola da zona oeste de SP reabre um mês após danos com chuvas
Com a incerteza de quando o filho Juan Carlos, de 6 anos, poderia frequentar a nova escola, a mãe, Jéssica Gonçalves Damasceno, decidiu fazer um esforço em família e pagar um colégio particular. "Liguei várias vezes na Secretaria de Ensino, falavam que não tinha um posicionamento ainda. Eu não tenho condições financeiras nenhuma, tô desempregada e tá muito complicado. Consegui uma bolsa de 50% pelo Educa Mais e pago R$280 a mensalidade e R$ 110 de transporte", contou.
Segundo ela, desde a construção do Residencial Espanha, na região do Parque dos Búfalos, a demanda por vagas em serviços públicos no Jardim Apurá só aumentou. O empreendimento está localizado na área da estrada do Alvarenga e represa Billings e tem 3.860 unidades habitacionais, divididas em 193 prédios, além de 84 edifícios comerciais, entre outros.
Veja também: Funcionário teme que Metrô vire centro de propagação de covid-19
A informação foi confirmada pela Secretaria de Educação, que reconheceu uma defasagem de vagas em virtude do residencial e da nova demanda. Para Jéssica, a prefeitura erra ao não garantir vagas aos alunos já matriculados: "Juan está na rede municipal desde os 3 anos, passou por creche, EMEI, era pra ser automático o ingresso no 1º ano. Moro no Apurá há 7 anos, tinha que ter preferência".
Jéssica Gonçalves também tem um bebê na creche municipal e uma filha de 11 anos que estuda no CEU Alvarenga. Apenas Juan foi para escola particular. "A bolsa de estudos é só por um ano. Em 2021 ele vai ter que voltar para a escola pública. Como já comprei uniforme, material, não vou perder o investimento feito, mas é um custo enorme que eu não previa ter, por um erro que não é meu", revelou.
Secretaria de Educação
Em nota, a Secretaria Municipal de Educação garantiu que até a primeira semana de abril todos os alunos matriculados serão realocados na EMEF Sete Praias (novo nome), que vai atender inicialmente cerca de 300 estudantes. A promessa é de que a unidade terá capacidade para até 700 crianças para acompanhar a expectativa de aumento da demanda na região.
Leia ainda: Fake news e violência sexual contra alunos são alvos de CPI na Alesp
Apesar de a unidade ainda estar em reformas, a prefeitura afirmou que, a partir desta semana, os pais poderiam efetivar as matrículas e tirar dúvidas na própria EMEF, que fica na estrada do Alvarenga, nº 5095. A Secretaria ressaltou que nenhum aluno será prejudicado e os 200 dias letivos previstos na Lei de Diretrizes e Bases (Lei nº 9.394/96) serão cumpridos.