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Doria: aposta nas vacinas, ajuste nas contas e projetos a concluir

Estagnado nas pesquisas, político pretende concorrer à Presidência e apresentar ações em áreas como segurança e ambiente

São Paulo|Gabriel Croquer, do R7

João Doria esteve no governo de São Paulo por três anos e três meses
João Doria esteve no governo de São Paulo por três anos e três meses

O ex-governador de São Paulo, João Doria (PSDB), saiu do comando do estado na última quinta-feira (31) para concorrer à Presidência da República apostando em ações que o possam credenciar ao Palácio do Planalto, mas deixando também projetos inacabados e promessas não cumpridas. 

No governo desde 2019, o político conseguiu projeção nacional durante a pandemia de Covid-19. O governador rompeu com Jair Bolsonaro (PL), político ao qual havia se aproximado durante a eleição, criando o slogan "BolsoDoria", e adotou políticas e discursos opostos aos do mandatário contra a emergência. O auge da oposição e grande trunfo político de Doria foi trazer a vacina CoronaVac, responsável pela primeira aplicação de um imunizante contra a doença no Brasil. Na pandemia, também, Doria foi protagonista da criação de regras rígidas de quarentena no estado e da criação do Plano São Paulo, o que, no entanto, acabou gerando repercussão negativa em parte dos setores da economia mais afetados, como o comércio.

Mesmo associado à vacina, Doria ainda terá que superar a alta rejeição e os 4% de intenções de voto - segundo a última pesquisa Datafolha - para chegar à Presidência. Ele chegou a ensaiar desistência ao projeto no mesmo dia em que deixaria o governo estadual, mas voltou atrás depois que o PSDB confirmou seu nome como o postulante do partido ao Planalto nas eleições de 2022.

"Ele sai de lá dessa base de apoio [ao Bolsonaro em 2018] com dois grupos bem definidos e cristalizados contra ele. (...) O Doria está rejeitado pelos dois campos que estão hoje vigorando", explica Carolina Botelho, cientista política e pesquisadora do laboratório Doxa/IESP (Instituto de Estudos Sociais e Políticos)/UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro).


"Ao mesmo tempo tem um elemento irracional, por mais que ele tenha feito em relação à vacina no momento que a gente precisava tanto, isso não foi suficiente para virem esse ator político de outra forma. Tem uma parte da rejeição dele, que ele simplesmente não vingou perto de um eleitorado, não ganhou a simpatia, não apresentou nenhum carisma", conclui. 

Além da catástrofe sanitária, que tomou a maior parte dos três anos e três meses de gestão, Doria passou por desafios clássicos de recentes governadores paulistas: a dificuldade de expansão do metrô, catástrofes causadas pelas chuvas, acusações de corrupção contra secretários do alto escalão e chacinas após operações policiais. Entre os obstáculos incomuns, se destacou o massacre em uma escola estadual de Suzano, logo no início do mandato.


Por outro lado, o governo contornou os R$ 10 bilhões de dívida encontrados em caixa no início de 2019 e encerrou o mandato com a previsão de investimento de R$ 50 bilhões para o biênio 2021-2022. Outras "vitrines" que Doria pretende mostrar dizem respeito aos trabalhos de limpeza do Rio Pinheiros, redução dos crimes violentos, da letalidade policial - após a instalação de câmeras nas roupas de policiais - e o aumento de escolas integrais da educação básica.

Projetos

Na economia, a gestão Doria comemorou a realização da reforma administrativa e especialmente a da Previdência, com a qual Executivo estima poupar R$ 58 bilhões nos próximos 15 anos. Nas reformas, também foi feita a extinção de órgãos públicos.


Dois pontos em especial trouxeram críticas. Os servidores aposentados passaram a ter de pagar a constribuição previdenciária, gerando revolta no funcionalismo. Além disso, o governo aumentou alíquotas do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) durante a pandemia ao retirar a isenção para determinados tipos de produtos.

Doria também prometeu avançar em uma série de concessões à iniciativa privada de aeroportos, de estradas e presídios (que não saíram do papel). O maior avanço veio no setor aéreo, com 22 aeroportos regionais concedidos em um leião. 

Entre as estradas, apesar da demora da volta das obras do Rodoanel, a gestão tem como símbolo a concessão do Lote Piracicaba-Panorama (Pipa) das rodovias estaduais por R$ 1,1 bilhão.

Na área dos transportes metropolitanos, Doria entregou estações na Linha 15-Prata, monotrilho na Zona Leste, e a Estação Vila Sônia, da Linha 4-Amarela. O governo também avançou em negociações paradas e novos contratos com concessionárias para expandir as linhas de metrô e trem, mas não conseguiu por exemplo entregar as estações da Linha 17-Ouro do monotrilho, na zona sul, obra que se arrasta há anos.

A gestão firmou novo contrato para a construção da Linha 6-Laranja, mas enfrentou um revés que foi a abertura de uma cratera em obra de estação na Marginal Pinheiros, que acabou interditando a via parcialmente e provocando impacto no trânsito de São Paulo. Também no tema dos transportes, o trem intercidades entre Campinas e São Paulo não teve grandes avanços.

Em relação à poluição dos rios Pinheiros e Tietê — outro problema que recebe promessas de solução há décadas — o governador colherá frutos principalmente na limpeza do primeiro. O projeto está avançado de acordo com a meta do início da gestão e conseguiu conectar 553 mil imóveis (86% do previsto até 2022) do trecho à rede de esgoto. 

Doria deixa em aberto a limpeza do rio Tietê, que prometeu concluir até 2026, como um dos projetos a serem realizados pela continuação da sua gestão, com Rodrigo Garcia (PSDB), e o próximo mandato no Palácio dos Bandeirantes. 

"Temos um índice de coleta de esgoto superior a 90% aqui na capital. Então porque a gente ainda tem rios poluídos? Porque ainda falta coletar esse restante de 10%, que em geral estão situados em casas, casebres, áreas de ocupação irregular, que não são dotados da rede coletora de esgotos", comenta o professor de engenharia hídrica da Universidade Mackenzie, Antonio Eduardo Giansante. 

Mudanças

O diretor-presidente da Escola do Parlamento da Câmara de São Paulo, Alexsandro Santos, cita como vitrines da gestão educacional a ampliação de escolas de tempo integral (de 364 para 2.050), a melhoria na infraestrutura das escolas públicas e a maior coordenação com as secretarias de educação dos municípios.

Na parte negativa, ele critica a resposta do governo, "que não alcançou o que deveria alcançar", contra a queda de aprendizagem após o início da pandemia e a diferença da qualidade do ensino público de acordo com a unidade de ensino.

"Das desigualdades, que ainda persistem quando a gente avalia o desempenho acadêmico nas escolas localizadas em territórios vulneráveis e nas escolas que não estão localizadas nesses territórios. Não houve uma queda significativa nessa desigualdade e isso é uma nota triste", completa. 

Durante a campanha ao governo, em 2018, a área de segurança pública foi uma das que mais recebeu acenos do então candidato João Doria. Apoiador de Jair Bolsonaro, o tucano prometia uma política "dura" no setor e que a polícia iria "atirar para matar" em bandidos que reagissem.

O discurso perdeu força no governo depois do massacre na comunidade de Paraisópolis, quando nove jovens entre 23 e 14 anos foram pisoteados até a morte em ação da Polícia Militar em baile funk. O ano seguinte registraria o semestre com mais mortes provocadas por policiais em 25 anos.

A gestão trocou o comando da PM, instalou câmeras nos batalhões. retreinou os agentes, e colheu baixas históricas na letalidade policial. O número de crimes violentos também diminuiu no período e especialistas elogiam o reequipamento da corporação e o investimento em novas delegacias.

"Ele fez muito pela segurança pública mas possivelmente deve ter sido um dos governadores mais odiados pelas polícias, fundamente pela sua promessa de fazer um aumento [de salário] dos policiais, e não ter cumprido sua promessa de fazer o aumento de tanto que ia fazer. Ele falou que a polícia seria uma das mais bem pagas do Brasil", pontua o professor da FGV (Fundação Getulio Vargas) e integrante do Fórum Brasileiro de Segurança Pública Rafael Alcadipani.

Governo

Em nota, o governo afirmou ao R7 que atualmente executa obras em cinco linhas do Metrô e CPTM ao mesmo tempo, com investimento de R$ 32 bilhões e a geração de cerca de 20 mil empregos. "A atual gestão já entregou 10 novas estações, sendo 7 de Metrô e 3 da CPTM, e a extensão do Metrô já chegou a 104,4 km", completou.

O governo citou que as obras em andamento atendem a Linha 6-Laranja, Linha 15-Prata e Linha 17-Ouro. "O projeto de expansão da Linha 5-Lilás até o Jardim Ângela está em fase de elaboração de projetos de obras civis e sistemas, enquanto o Trem Intercidades está em fase avançada de estudos técnicos para lançamento de edição e início das obras", diz.

Sobre as promessas às forças de segurança, o governo estadual ressaltou que concedeu reajuste acumulado de 25% às polícias. Diz também ter entregado oito novos presídios e 6,6 mil novas vagas em diversas regiões. "Em outras 5 unidades prisionais em construção atualmente, O Estado avalia a possibilidade de implantar administração por meio de PPPs", conclui.

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