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Entregadores querem vacina contra a covid-19: 'Somos linha de frente'

Protesto desta sexta também pede aumento de taxas de entrega. Em fevereiro, sindicato da categoria enviou ofício por imunizantes

São Paulo|Guilherme Padin, do R7

Motoboys e bikers trabalham mesmo nas fases mais restritivas
Motoboys e bikers trabalham mesmo nas fases mais restritivas Motoboys e bikers trabalham mesmo nas fases mais restritivas

Entregadores de aplicativo se manifestam nesta sexta-feira (16), entre outras demandas (saiba mais aqui), para serem priorizados nos planos de vacinação contra a covid-19.

Segundo André Mendonça, líder do movimento Entregadores Unidos, que organiza o ato, cerca de 5.000 pessoas deverão protestar a partir das 13h, começando na Praça Charles Müller, no Pacaembu, zona oeste de São Paulo (SP), e passando por importantes avenidas da capital paulista. 

“Não é porque não somos saúde, educação ou segurança que não estamos na linha de frente. Somos linha de frente, sim. Viajamos pela cidade todo dia e nem sabemos se o cliente pode estar contaminado ou não”, afirma Mendonça.

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Desde o início da pandemia, em março de 2020, motoboys e bikers trabalham mesmo nas fases mais restritivas. Além de não receberem EPIs adequados, eles alegam que, expostos ao vírus, podem colocar em risco suas famílias e as dos clientes ao longo das dez horas diárias trabalhadas que, em média, cruzam as cidades.

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Médico sanitarista e professor da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, Gonzalo Vecina Neto vê razão para a demanda.

“Quem pega a doença é quem anda na rua, e esse pessoal anda na rua, então tem grandes chances de pegar a doença. A sorte, para eles, é que na maioria dos casos são jovens. Mas estão totalmente expostos à doença. E a desigualdade é um fator de mortalidade muito levado em conta: a mortalidade dos pobres é maior que a dos ricos, e dos negros aos brancos. Acho que eles têm razão. Deve se repensar o critério”, aponta Vecina, fundador da Anvisa.

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Veja também: Entregadores param hoje em SP: veja quais são as reivindicações

A afirmação de Vecina se confirma em dados oficiais. O projeto 'Impacto MR' avaliou informações de 50 UTIs do Brasil, sendo 70% hospitais públicos e 30% privados, para apontar o impacto das desigualdades socioeconômicas na pandemia: as principais vítimas fatais da covid-19 são homens e pobres, de acordo com o estudo.

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O epidemiologista Paulo Petry, professor da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), concorda que os trabalhadores que atuam na linha de frente devem ser vacinados.

O problema, segundo ele, está na falta de imunizantes no país: “vivemos um momento de falta de vacinas e não temos o quantitativo necessário de vacinas. E se está priorizando os grupos com mortalidade maior. Mas a reivindicação de qualquer trabalhador na ativa é justa”.

Sindicato também tenta garantir vacinação

Paralelamente ao protesto desta sexta, o SindimotoSP (Sindicato dos Mensageiros Motociclistas, Ciclistas e Mototaxistas Intermunicipais do Estado de São Paulo) também tem atuado em busca de priorização da categoria nos programas de imunização contra o novo coronavírus.

Em fevereiro, o sindicato enviou ofícios aos governos federal e paulista, além da prefeitura, para questionar a respeito da inclusão da categoria na vacinação contra a doença.

A gestão municipal não respondeu e a estadual somente ressaltou os critérios já estabelecidos para o programa de imunização.

Em um e-mail de 24 de fevereiro, a CGPNI (Coordenação Geral do Programa Nacional de Imunizações), do governo federal, ressaltou a importância da categoria. Porém, não comentou a respeito da inclusão solicitada pelo sindicato. O órgão escreveu, ainda, que não há estudos sobre a eficácia da vacina para a redução de transmissibilidade da doença.

Gilberto Almeida, presidente do sindicato, aponta duas razões principais para a demanda: o fato dos entregadores estarem na linha de frente desde o começo da pandemia e o risco de que, uma vez contaminado, o entregador pode ser um vetor do vírus, já que tem contato com muitas pessoas ao longo do dia de trabalho.

Em 2020, sindicato conseguiu 100 mil vacinas conta o vírus influenza para a categoria
Em 2020, sindicato conseguiu 100 mil vacinas conta o vírus influenza para a categoria Em 2020, sindicato conseguiu 100 mil vacinas conta o vírus influenza para a categoria

“São dois motivos suficientes para o governo colocar a mão na cabeça e entender que a categoria tem que estar priorizada na linha de vacinação. Nossa categoria está na linha de frente da pandemia de ponta a ponta. Quando o governo do estado anunciou o primeiro fechamento, quem estava atuando era a gente. Mas não vimos a contrapartida em relação à vacina”, afirma o presidente do SindimotoSP.

No ano passado, o órgão conseguiu 100 mil vacinas conta o vírus influenza, por meio da prefeitura paulistana, para entregadores de vários setores.

Devido a discordâncias entre os Entregadores Unidos e o sindicato, no entanto, as duas partes atuam em paralelo.

Precarização atrapalha ainda mais a categoria

Para além da exposição ao vírus há mais de um ano, os motoboys e bikers ainda enfrentam a precarização da categoria.

Além da falta de direitos trabalhistas, trabalham no mínimo dez horas por dia para ganhar, ao fim do mês, pouco mais de dois salários mínimos.

André Mendonça, dos Entregadores Unidos, pontua ainda que, no caso dos motoboys, boa parte desse dinheiro se vai com a manutenção das motocicletas e com o combustível, sobrando pouco mais da metade do faturamento bruto.

Ao longo da pandemia, segundo relatam os profissionais, muitos tiveram de arcar com os custos dos EPIs (equipamentos de proteção individual) contra a covid-19.

Segundo um estudo realizado em 2020 por pesquisadores da Remir Trabalho (Rede de Estudos e Monitoramento da Reforma Trabalhista), da Unicamp, a partir do início da pandemia, os entregadores dobraram as horas trabalhadas e mesmo assim perderam renda.

O levantamento, que ouviu trabalhadores em 26 cidades brasileiras, apontou que 56,7% dos entregadores têm uma jornada de nove horas ou mais durante a pandemia, e 52% trabalham agora nos sete dias da semana. No entanto, com a queda nas taxas dos bônus, a remuneração diminuiu 60%, em média.

Como o poder público se posiciona em relação à pauta

A reportagem solicitou posicionamentos a respeito da demanda de vacinação para os entregadores ao Ministério da Saúde e o governo do Estado de São Paulo. Além disso, um questionamento foi feito à prefeitura paulistana, que anteriormente disponibilizou ao sindicato 100 mil doses de vacina contra a influenza.

O governo do estado afirma que a destinação de mais vacinas contra covid-19 pelo Ministério da Saúde "é crucial para continuidade da campanha e expansão dos públicos-alvos" e que a inclusão de novos públicos segue os critérios técnicos definidos pelo PNI (Programa Nacional de Imunizações). De acordo com o governo, a execução da campanha (com organização e distribuição de quantidades na rede de saúde, e a aplicação das doses) é responsabilidade dos municípios. 

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