Os pais de Gabriel Galhardo, adolescente morto depois de ser atingido com golpes de cassetete por um policial militar durante o Carnaval de 2019 em São Luiz do Paraitinga, no interior de São Paulo, contestam o laudo do IML (Instituto Médico Legal) concluído em abril seguinte. O documento, que apontava a causa da morte como inconclusiva e citava o uso de entorpecentes, é contrariado pelo laudo pericial do médico perito contratado pela família de Gabriel, Daniel Muñoz, que afirma que o óbito pode ter ocorrido por conta de um traumatismo crânio-encefálico.
Em 5 de março do ano passado, após uma confusão durante o Carnaval na cidade do interior paulista, o adolescente de 16 anos foi atingido com um golpe de cassetete na cabeça, como relataram testemunhas, e caiu desmaiado. Ele foi socorrido, mas faleceu no mesmo dia.
Dias após a morte, sob anonimato, uma das testemunhas relatou sobre o momento em que o garoto foi atingido: “O Gabriel foi pegar a namorada dele que estava no chão, e aí o policial veio e acertou a cara dele”.
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Em meados de abril, o laudo necroscópico do IML concluiu que não houve lesões que pudessem ser causa da morte do adolescente. O documento aponta que Gabriel morreu por insuficiência respiratória, e cita que foram encontrados vestígios de álcool e substâncias tóxicas no sangue do jovem, sem concluir se seria este o motivo do óbito.
Thiago Galhardo, o pai do adolescente, que vive com a família em Taubaté, no interior de São Paulo, relatou à reportagem do R7 que manteve contato com o filho ao longo daquele dia e que o jovem aparentava estar bem e lúcido enquanto conversavam pelo telefone.
“Quando o laudo do IML saiu, sugerindo que a causa da morte fosse decorrente do uso de entorpecentes, resolvemos contratar um médico perito para fazer uma análise dos fatos”, relata o pai.
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O laudo concluído recentemente pelo perito Daniel Muñoz, pesquisador da USP (Universidade de São Paulo), agora anexado ao inquérito das investigações sobre o caso, apontou que as substâncias utilizadas não ocasionaram alterações que pudessem causar o óbito, e que o trauma crânio-encefálico pode ter sido a causa da morte de Gabriel.
“Conforme os depoimentos, antes do trauma cefálico Gabriel estava consciente, orientado e sem déficit motor, pois diante da situação tumultuosa teve reação de fuga, saltando, inclusive, sobre um arbusto. Após ter recebido pelo menos três impactos violentos (um na região frontal esquerda e dois na região dorsal do tórax), evoluiu com crise epiléptica, descrita pelas testemunhas como sendo convulsiva (espumava, virava os olhos e se debatia). Naquele momento, também teve alterações sistêmicas (sistema nervoso autonômico) como palidez, resfriamento cutâneo, baixa perfusão sanguínea periférica e ausência de incursões respiratórias”, escreve Muñoz no documento.
O médico da USP encerrou a conclusão de sua análise dizendo que “as manifestações neurológicas e sistêmicas, que o levaram ao óbito, foram imediatas ao trauma, indicando a relação direta entre tais eventos”.
Pai de Gabriel, Thiago comenta que, neste momento, “o sentimento que temos é que a justiça seja feita, que o policial seja responsabilizado. Tenho convicção que, se ele não sofresse a agressão na cabeça, ele estaria bem e conosco até hoje”.
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A reportagem procurou pela SSP (Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo), que respondeu com a seguinte nota:
O caso segue em investigação pela Delegacia de São Luís do Paraitinga. Diversos laudos estão anexados ao inquérito policial e em análise pela autoridade responsável. Novas testemunhas, apresentadas pelo advogado da vítima, serão ouvidas.