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Uso de versão genérica de anestésico pode revolucionar o tratamento da depressão grave

Um de cada cinco participantes de estudo relatou desaparecimento total dos sintomas após um mês de injeções quinzenais de cetamina

Saúde|Do R7

Pesquisadores apontam vantagem da cetamina genérica para a manutenção do tratamento
Pesquisadores apontam vantagem da cetamina genérica para a manutenção do tratamento Pesquisadores apontam vantagem da cetamina genérica para a manutenção do tratamento

Uma versão de baixo custo do anestésico cetamina para tratar a depressão grave apresentou resultados positivos em um teste duplo-cego, comparando-a com o placebo.

A cetamina é um medicamento utilizado como alternativa no tratamento da depressão para pacientes que não obtiveram sucesso com abordagens convencionais.

Ela age de forma rápida e diferente dos antidepressivos tradicionais, por afetar diretamente o sistema glutamatérgico do cérebro.

Estudos mostram que a cetamina pode aliviar rapidamente os sintomas depressivos em pacientes, inclusive os considerados resistentes a tratamentos anteriores. Ela pode ser administrada por injeção intravenosa ou intramuscular.

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Pesquisadores liderados pela Universidade de Nova Gales do Sul (UNSW Sydney) e pelo Instituto Black Dog, afiliado à universidade, descobriram que mais de um de cada cinco participantes do estudo alcançou remissão total dos sintomas da depressão após um mês de injeções quinzenais, enquanto um terço viu seus sintomas melhorarem em pelo menos 50%.

Os achados foram publicados na quinta-feira (13) no British Journal of Psychiatry.

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"Para pessoas com depressão resistente ao tratamento — aquelas que não se beneficiaram de diferentes formas de terapia, antidepressivos comumente prescritos nem eletroconvulsoterapia —, uma remissão de 20% é realmente bastante boa", afirma a pesquisadora principal, professora Colleen Loo.

Os autores do trabalho descobriram que a cetamina teve um desempenho claramente superior ao placebo, com 20% dos participantes que relataram que não tinham mais depressão clínica, em comparação com apenas 2% do grupo placebo. 

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"Essa é uma diferença enorme e muito evidente, que traz uma evidência definitiva para o campo, que antes só contava com estudos menores que comparavam a cetamina com o placebo", complementa a pesquisadora. 

Como foi feito o teste

Os pesquisadores recrutaram 179 pessoas com depressão resistente a tratamento. A todas foi administrada uma injeção de uma forma genérica de cetamina que já está amplamente disponível na Austrália, como medicamento para anestesia e sedação, ou um placebo.

Os participantes receberam duas injeções por semana em uma clínica, onde foram monitorados por cerca de duas horas, enquanto os efeitos dissociativos e sedativos agudos diminuíam, geralmente dentro da primeira hora.

O tratamento durou um mês, e os participantes foram solicitados a avaliar seu humor ao fim do teste e um mês depois.

Como foi um teste duplo-cego, nem os participantes nem os pesquisadores que administraram o medicamento sabiam quais pacientes receberam cetamina genérica nem quais receberam placebo, para garantir que os vieses psicológicos fossem minimizados.

Importante destacar que um placebo que também causa sedação foi escolhido para melhorar o mascaramento do tratamento.

O midazolam é um sedativo normalmente administrado antes de uma anestesia geral, enquanto em muitos estudos anteriores o placebo era uma solução salina.

"Porque não há efeitos subjetivos da solução salina; em estudos anteriores ficou óbvio quem estava recebendo a cetamina e quem estava recebendo o placebo", explica a professora.

"Ao usar midazolam — que não é um tratamento para a depressão, mas faz você se sentir um pouco tonto e fora de si —, há muito menos chance de saber se você recebeu cetamina, que tem efeitos agudos semelhantes", afirma a pesquisadora. 

Outros aspectos do teste recente que o diferenciaram de estudos anteriores incluíram a aceitação por parte de pessoas que já haviam recebido ECT (eletroconvulsoterapia).

"As pessoas são aconselhadas a fazer a ECT para tratar sua depressão quando todos os outros tratamentos foram ineficazes", argumenta Colleen. "A maioria dos estudos exclui pessoas que já fizeram ECT, porque é muito difícil um novo tratamento funcionar quando a ECT não funcionou", complementa. 

Outra diferença desse teste foi a entrega do medicamento por via subcutânea (injeção na pele), em vez de gotejamento, o que reduziu muito o tempo e a complexidade médica.

O estudo também é o maior do mundo até o momento que compara cetamina genérica com placebo no tratamento de depressão grave.

Tratamento acessível

Além dos resultados positivos, um dos principais benefícios do uso da cetamina genérica no tratamento da depressão resistente é que ela é muito mais barata do que o spray nasal de cetamina patenteado atualmente usado na Austrália.

Enquanto o S-cetamina (versão spray) custa cerca de 800 dólares (cerca de R$ 3.800) por dose, a cetamina genérica é uma fração disso e custa apenas 5 dólares (R$ 24), dependendo do fornecedor e se o hospital a compra no atacado.

A autora do trabalho acrescenta que tanto a S-cetamina quanto os tratamentos com cetamina genérica geralmente têm efeitos positivos, que desaparecem após alguns dias ou semanas, então um tratamento contínuo pode ser necessário, dependendo da situação clínica de cada pessoa.

No entanto, os custos proibitivos do medicamento e do procedimento tornam essa uma proposta insustentável para a maioria dos australianos.

"É por isso que estamos solicitando um número de item do Medicare [plano de saúde local] para financiar este tratamento agora, porque ele é tão poderoso."

"E, se você considerar que muitas dessas pessoas podem passar vários meses no hospital, ou não conseguem trabalhar, e muitas vezes estão com bastante pensamento suicida, é muito econômico quando você vê quão rápida e poderosamente funciona. Já vimos pessoas voltarem ao trabalho, aos estudos ou saírem do hospital por causa deste tratamento em questão de semanas."

Os pesquisadores agora pretendem realizar testes maiores de cetamina genérica em períodos mais longos e aprimorar o monitoramento de segurança do tratamento.

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