O que se sabe sobre surto de hepatite misteriosa que atinge crianças na Europa e nos EUA

Autoridades de saúde de todo o mundo investigam o misterioso o aumento de casos graves de hepatite em crianças pequenas. Mais de 130 casos foram identificados, com a maioria na Grã-Bretanha, que registrou 108 infectados desde janeiro.

Outros países, incluindo Estados Unidos, Israel, Dinamarca, Irlanda, Holanda e Espanha, também relataram números menores de casos. 

A hepatite pediátrica leve não é desconhecida, mas o surto atual causou alarde pela primeira vez na Escócia, em 6 de abril, porque as crianças estavam muito doentes. Sendo que, vários precisaram de transplantes de fígado. 

Outro fator que preocupa é que os casos não estão ligados aos vírus típicos geralmente associados à doença, hepatite A, B, C, D e E.

"Ainda é um número muito baixo de casos, mas são crianças, essa é a principal preocupação, e a outra é a gravidade", disse Maria Buti, professora de hepatologia de Barcelona e presidente da Associação Europeia do Estudo de o comitê de saúde pública do Fígado, que tem acompanhado o surto de perto com o ECDC (Centro Europeu de Controle de Doenças).

A principal teoria é de infecção viral, provavelmente com um adenovírus – uma família de vírus que pode causar resfriado comum, entre outras condições.

Há um tipo de adenovírus que normalmente causa gastroenterite aguda, e hepatite em crianças imunocomprometidas. Porém, nunca antes em crianças saudáveis.

O diretor da Public Health Scotland, Jim McMenamin, disse que o trabalho está em andamento para estabelecer se o adenovírus envolvido sofreu uma mutação para causar uma doença mais grave, ou se poderia estar causando os problemas "em conjunto" com outro vírus, incluindo possivelmente o SARS-CoV-2. o vírus que causa a Covid-19.

Ele disse que 77% das crianças na Grã-Bretanha testaram positivo para o adenovírus.

Qualquer ligação com as vacinas contra a Covid-19 foi descartada, pois as crianças na Grã-Bretanha, onde a maioria dos casos foram encontrados, não foram vacinadas.

Outros cientistas disseram que a redução da imunidade causada pela redução do convívio social durante o isolamento da pandemia pode ser uma explicação.

"Esta pode ser uma resposta exagerada à estimulação do sistema imunológico que não está acostumado com tal insulto, essa é uma boa teoria", disse Simon Taylor-Robinson, hepatologista e consultor e professor de medicina no Imperial College of London.

Outros pesquisadores argumentam que as infecções por adenovírus podem ser coincidência, já que estão com alta circulando nesta época do ano.

Alertas de saúde pública nos Estados Unidos e na Europa pediram aos médicos que fiquem atentos à condição e testem crianças para adenovírus se suspeitarem de hepatite.

Os sintomas incluem urina escura, amarelamento de olhos e pele (icterícia), enjoo, fadiga, febre, perda de apetite, náuseas, vômitos, dor abdominal, fezes de cor clara, dor nas articulações.

Não há tratamento específico para a hepatite, mas medicamentos como esteróides podem ajudar, assim como medicamentos para tratar os sintomas.

Os pais estão sendo orientados a observar os sinais dos filhos a entrar em contato com um profissional de saúde se estiverem preocupados.

Para evitar uma maior disseminação, a Agência Britânica de Segurança da Saúde pediu a lavagem das mãos e "boa higiene respiratória completa", como tossir e espirrar em um lenço de papel.

Especialistas disseram que o aumento no número de casos foi relativamente lento, mas alertaram que mais casos são esperados. "Se você presta atenção em uma coisa, você vê mais", ressaltou Buti.