LinkedIn é uma rede social em que somos mentirosos, vítimas ou otários
A onda de demissões nas empresas de tecnologia escancara a dificuldade de lidar com momentos profissionalmente difíceis
Tecnologia e Ciência|Marco Antonio Araujo, do R7

A chance de eu estar errado é próxima de zero: não há rede social mais chata, desgastante e inútil que o LinkedIn. Para piorar, nesses tempos recentes, marcados por um grande volume de demissões nas empresas de tecnologia, percebe-se como essa plataforma pode ser tóxica e constrangedora.
Com seus 850 milhões de usuários, o LinkedIn promete, aos desavisados, ajudar as pessoas a se colocar (e se manter) no mercado de trabalho. Isso gera um ambiente em que todos precisam se mostrar capacitados e bem relacionados. Em resumo, empregáveis. É um mundo de gente talentosa, bem-sucedida e apta a novos “desafios”.
É como optar por estar em um estado de tensão permanente, como aqueles que, sabiamente, se mantêm sóbrios na festa da firma. Um porre ao contrário.
Em meio a esse clima de autovigilância, você é obrigado a ler uma sucessão de posts que o faz se sentir um fracassado. E sabe que, na sua hora de escrever, não há como não se achar um babaca participando de um jogo de cena.
Na hora da demissão, essa angústia se torna mais evidente. A escolha é impossível, postar um texto em que agradece à empresa que acaba de lhe dar um pontapé ou em que reclama da vida injusta e cruel. Não há saída. Ou você sai como vítima ou como otário.
É tudo emocionalmente insalubre. E os resultados que a rede promete são, no mínimo, duvidosos, para não dizer falsos. Dá ranço.