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Uma decisão judicial polêmica, que dividiu opiniões, levou a dona de casa Adelir Carmen Lemos de Góes, de 29 anos, à mesa de cirurgia para a realização de uma cesariana, na última terça-feira (1º), em Torres (RS). Em entrevista ao R7, o promotor Octavio Noronha, que ouviu a médica que atendeu a paciente e fez o pedido à Justiça, definiu o caso como “extremo”
Reportagem: Fernando Mellis, do R7Reprodução/Rede Record
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Adelir procurou o hospital Nossa Senhora dos Navegantes na tarde do último dia 31. A paciente estava na 42ª semana de gestação, já tinha feito outras duas cesarianas e o bebê estava em pé. Esses motivos foram suficientes para a obstetra indicar a necessidade de uma internação. Segundo o promotor, a grávida se recusou e assinou um termo de responsabilidade.
— Por conta disso, o hospital nos contatou, já no início da noite, eu fiz contato com a Secretária Municipal de Saúde, para ela tentar convencer de forma amigável a retornar ao hospital. A secretária me retornou dizendo que não conseguiu contato com a gestante, apenas com o esposo dela, o qual comunicou que eles não iriam retornar ao hospital, que eles iriam insistir no parto normal, no parto natural, com os procedimentos em casaReprodução/Rede Record
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Noronha foi até o hospital para conversar com a médica, que lhe mostrou a situação, e assinou um laudo sobre os riscos que a gestante e o bebê corriam.
— Considerando que era um caso extremo, considerando a resistência da gestante e da família, eu reuni os documentos do hospital, incluindo o laudo, e entrei na Justiça com o que se chama de medida protetiva. [...] O que eu pedi e o que a juíza deferiu foi que a gestante recebesse o atendimento médico adequado para salvaguardar a vida, a saúde, a integridade física da criança. Se esse atendimento médico fosse a cesárea, que fosse feita então a cesárea, se fosse parto normal, que se fizesse parto normal. Eu não sou médico para definir isso.
Procurado pelo R7, o Hospital Nossa Senhora dos Navegantes afirmou que a realização da cesariana foi uma medida acertada. A instituição explicou que a presença de mecônio (fezes) do bebê na cavidade abdominal da mãe, observada no parto, é um sinal de que havia sofrimento fetal. Leia maisReprodução/Rede Record
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Um oficial de Justiça foi à casa de Adelir e a levou até o mesmo hospital, onde passou por uma cesariana. A menina nasceu saudável, com 3,6 kg. Em um vídeo, a mãe manifestou indignação.
— Me sinto frustrada, muito chateadaReprodução/Record
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O pai da criança, Emerson Guimarães, de 41 anos, disse que pretende recorrer à Justiça para entender por que a mulher foi obrigada a passar pelo procedimento.
— Essa doutora tirou o direito da minha esposa de [fazer] parto natural, colocou ela em risco fazendo uma cirurgia e me tirou o direito de ver o nascimento da minha filha.
O hospital diz que procurou a Promotoria "diante do risco iminente de morte fetal e possibilidade de morte materna nas horas seguintes, considerando a evolução do trabalho de parto sem a assistência hospitalar e considerando ainda a distância da residência da paciente"Reprodução/Rede Record