‘Ação da polícia foi violenta e sinaliza problema da universidade’, diz diretor do DCE da USP
O uso de força bruta para a liberação dos portões foi negado pela sala de imprensa da PM
Educação|Do R7
Membros do Sintusp (Sindicato dos Docentes da USP) e do DCE (Diretório Central dos Estudantes da USP) afirmam que a ação de policiais militares para liberar, na manhã desta quarta-feira (20), os portões da Cidade Universitária bloqueados por grevistas foi violenta e deixou entre seis e oito manifestantes feridos. O uso de força bruta por parte dos policiais foi negado pela sala de imprensa da PM (Polícia Militar).
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Segundo Camilo Martins, diretor do DCE e estudante do curso de história que estava presente no “trancaço” organizado por alunos e funcionários nesta manhã, “em nenhum momento houve tentativa de negociação por parte da Polícia Militar para o desbloqueio dos portões”.
— A ação da polícia foi violenta e sinaliza um problema da universidade, que não só se valeu do corte de ponto dos funcionários, mas também da ação da polícia para reprimir a greve.
“Não existe diálogo da comunidade nem com o reitor e nem com o governo do Estado para solucionar a crise da USP”, afirma o estudante.
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Em nota sobre o ocorrido, o comando de greve da USP relata: “Às 05h30 da manhã, com 12 viaturas da Força Tática e 20 motos da ROCAM [Ronda Ostensiva Com Apoio de Motocicletas], a polícia reprimiu brutalmente as pessoas que estavam no protesto no portão 3.”
"Funcionários e estudantes foram encurralados tanto pela desproporcional quantidade de policiais para cada manifestante presente, mas também devido ao uso de bombas de gás lacrimogêneo, efeito moral e balas de borracha", diz trecho do texto.
O diretor do Sintusp, Magno Carvalho, que também esteve presente na manifestação, diz que “a violência da polícia foi generalizada”.
— [No portão 1 da Cidade Universitária, próximo à avenida Vital Brasil, na região oeste da cidade], os policiais chegaram soltando bombas de efeito moral. Jogaram bombas em um monte de gente desde a rua Alvarenga até a avenida Vital Brasil, chegando a atingir pessoas que estavam entrando na estação Butantã do metrô e nem sabiam o que estava acontecendo.
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Segundo Carvalho, funcionários foram atingidos por balas de borracha no rosto e na região do abdome: “Sei que um deles foi para o hospital”. O funcionário diz que um homem precisou passar por uma cirurgia no abdome porque uma bala de borracha transfixou sua pele e outro manifestante teve ferimentos no rosto por conta de estilhaços de bomba de efeito moral.
A assessoria de imprensa do HU (Hospital Universitário) confirmou que pessoas feridas na manifestação deram entrada no hospital, mas até às 11h ainda não se sabia o número total de vítimas atendidas.
Os grevistas afirmam que a Tropa de Choque já havia sido previamente acionada pela reitoria e pelo governo do Estado de São Paulo. De acordo com a PM, por volta das 5h40, a Força Tática conseguiu liberar os portões 2 e 3 do campus Butantã da USP.
A reitoria e a Adusp (Associação dos Docentes da USP) ainda não comentaram o episódio. A assessoria de imprensa da USP informou que uma nota sobre o assunto será emitida durante o dia.
Ainda hoje, a diretoria do Sintusp foi intimada para uma audiência de conciliação. A sessão a ser realizada nesta tarde julgará o processo aberto pelo reitor Marco Antonio Zago que exige que a Justiça considere como abusiva e ilegal a greve na USP.
Próximos passos
Hoje, às 15h, estudante e funcionários farão uma coletiva de imprensa na Cidade Universitária para comentar o confronto com a PM e falar sobre o rumo da greve, iniciada no dia 27 de maio.
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Estudantes, funcionários e docentes convocaram para o dia 26 de agosto uma plenária geral para decidir linhas comuns ao movimento em defesa da universidade pública. Também no dia 26, o Conselho Universitário da USP se reunirá para tomar uma decisão sobre a greve.
A próxima reunião do Cruesp (Conselho de Reitores das Universidades do Estado de São Paulo) está agendada para o dia 3 de setembro e decidirá sobre as reivindicações grevistas das três universidades estaduais paulistas (USP, Unesp e Unicamp) que seguem paralisadas devido ao congelamento de reajuste salarial neste ano.
Crise financeira
Os servidores das três universidades estaduais paulistas estão em greve desde maio. No período, uma crise financeira nas instituições foi anunciada e levou as universidades a congelarem reajustes salariais neste ano.
No primeiro semestre, o comprometimento do orçamento da USP com o pagamento dos seus mais 20.000 funcionários (entre docentes e técnico-administrativos) foi de 105,5% — total de R$ 2,27 bilhões, sendo que os recursos repassados pelo Estado à instituição no mesmo período atingiram apenas R$ 2,15 bilhões.
No último dia 15, o reitor Zago se reuniu com cerca de 80 diretores de unidades de ensino e pesquisa da universidade para anunciar medidas prevendo um reequilíbrio orçamentário. Na ocasião, foi oficializada a proposta de um programa de demissão voluntária de 3.000 funcionários e de direcionamento do HU (Hospital Universitário) para o governo estadual.
Os grevistas na USP exigem reajuste salarial de 9,78% e são contrários às medidas de reequilíbrio orçamentário propostas pela reitoria.