A Grécia solicitou formalmente nesta quinta-feira (19) à zona do euro a prorrogação por seis meses de seu acordo de empréstimo, oferecendo grandes concessões, num esforço para evitar a falta de dinheiro dentro de algumas semanas e vencer a resistência dos parceiros céticos liderados pela Alemanha.
Com o programa de resgate da UE/FMI prestes a expirar dentro de pouco mais de uma semana, o governo do esquerdista primeiro-ministro Alexis Tsipras precisa urgentemente garantir uma tábua de salvação financeira para manter o país à tona a partir de março.
Os ministros das Finanças da zona do euro vão se reunir na sexta-feira à tarde, em Bruxelas, para avaliar o pedido, disse o presidente do Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem, em um tuíte. Isso fez aumentarem as esperanças de um acordo para evitar uma possível falência e a saída da Grécia do euro, moeda comum de 19 países.
O Ministério das Finanças da Alemanha rejeitou já nesta quinta a nova proposta de Atenas, dizendo que não atende às condições definidas pelos parceiros da Grécia na zona do euro.
"A carta de Atenas não é uma proposta que leva a uma solução substancial", disse o porta-voz do ministério Martin Jaeger em comunicado.
Um funcionário grego disse à Reuters que o governo pediu uma extensão do Acordo Master sobre o Instrumento de Assistência Financeira com a zona euro, mas insistiu que os dirigentes do país estão propondo condições diferentes de suas atuais obrigações de resgate.
A Grécia se comprometeu a manter o equilíbrio fiscal durante o período do acordo, promover reformas imediatas para combater a evasão fiscal e a corrupção, e adotar medidas para lidar com o que Atenas chama de "crise humanitária" e dar a arrancada no crescimento econômico, disse ele.
No documento visto pela Reuters, a Grécia promete cumprir as suas obrigações financeiras para com todos os credores, reconhecer o programa da UE/FMI existente como uma estrutura legal com a qual está comprometida e abster-se de ação unilateral que prejudique as metas fiscais.
O mais significativo é que o governo grego aceita que a prorrogação seja monitorada pela Comissão Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional, um recuo de Tsipras, que prometeu acabar com a cooperação com a troika de inspetores, acusados de infligir profundo dano econômico e social à Grécia.
O período de seis meses seria usado para negociar um acordo de longo prazo para a recuperação e o crescimento, incorporando novas medidas de alívio da dívida prometidas pelo Eurogrupo em 2012.
Os parceiros da zona do euro vêm dizendo até agora que a Grécia tem de cumprir com os termos do resgate atual, que exige um superávit primário de 3 por cento este ano, antes do pagamento do serviço da dívida.
Autoridades da zona do euro vão realizar uma teleconferência nesta quinta-feira para discutir o pedido grego.
A linguagem escolhida poderia ajudar a satisfazer pelo menos algumas das preocupações que impediram um acordo nas duas últimas semanas, permitindo que o governo grego não tenha de dizer que está prorrogando o atual programa de resgate, ao qual se opõe, ao passo que os credores podem evitar aceitar um "contrato de empréstimo" sem incluir condições.
Ainda precisam ser esclarecidos detalhes cruciais, como metas fiscais, reformas do mercado de trabalho, privatizações e outras medidas que deverão ser implementadas no âmbito do programa existente.
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O porta-voz do governo Gabriel Sakellaridis negou informações de um jornal alemão, segundo as quais a Grécia estava sob pressão para impor controles de capital sobre os correntistas gregos, que estão tirando seu dinheiro dos bancos locais. Ele disse à Reuters que tal cenário "não tem nenhuma relação com a realidade".
Uma porta-voz do BCE também desmentiu a reportagem do Frankfurter Allgemeine Zeitung, dizendo que não houve discussão sobre controles de capital em uma reunião do Conselho do BCE na quarta-feira, que aumentou levemente o limite de empréstimos de emergência para os bancos gregos.
Esses desdobramentos provocaram o aumento do preço das ações gregas nesta quinta-feira, com o índice referencial do mercado de ações de Atenas chegando a subir mais de 4 por cento.
"Estamos fazendo de tudo para chegar a um acordo mutuamente benéfico. O nosso objetivo é concluir esse acordo em breve", disse mais cedo Sakellaridis à TV Skai. "Estamos tentando encontrar pontos em comum."
Compromisso alemão
A Alemanha, principal economia da União Europeia, e outros governos da zona do euro vêm insistindo que não está em negociação nenhum acordo de empréstimo sem as condições integrais do resgate. Tsipras foi eleito em janeiro com a promessa de abandonar as medidas de austeridade impostas pelos credores.
O ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schaeuble, tem feito pouco caso das ideias de que a Grécia poderia negociar uma prorrogação do financiamento da zona euro sem fazer quaisquer promessas para levar adiante cortes orçamentários e reformas econômicas.
Mas, na quarta-feira, ele indicou que pode haver alguma possibilidade de compromisso. "A nossa margem de manobra é limitada", disse ele durante um debate em Berlim, acrescentando: "Precisamos ter em mente que temos uma enorme responsabilidade para manter a Europa estável".
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