Tabaré Vázquez, o médico paciente, é o novo presidente do Uruguai
Internacional|Do R7
Rubén Figueroa. Montevidéu, 28 fev (EFE).- O oncologista Tabaré Vázquez, que em 2005 se tornou o primeiro presidente de esquerda do Uruguai, inicia amanhã, domingo, seu segundo mandato em que examinará o estado de saúde do país ao mesmo tempo em que se submeterá à revisão de seus cidadãos, que esperam dele políticas continuístas e leves reformas. Vázquez assume amanhã o consultório da presidência, repsonsável por prescrever as receitas que o país precisa, mas também como paciente em permanente acompanhamento da saúde de suas políticas e de sua aceitação popular. Paciente também na personalidade, por seu humor diligente e contido, que projeta a figura de um homem organizado e controlador, mas não sem carisma, que é capaz de provocar paixões entre o público mesmo sem ter a eloquência e a presença midiática de seu antecessor, José Mujica. O médico socialista venceu as últimas eleições gerais amparado pela lembrança de seus sucessos passados, com os quais acumulou 80% de popularidade no fim de seu primeiro mandato (2005-2010), e pelas promessas de continuidade, crescimento e suaves mudanças em saúde, educação e segurança. A alta simpatia popular tem a ver com a capacidade de cativar os cidadãos apesar de sua personalidade tímida e reservada, como a do médico de família acostumado a orientar seus pacientes para os bons hábitos, a curar e também a dar más notícias com gestos suaves e fala pausada. "Vázquez tem um carisma calmo e a capacidade de manter um discurso que gera reação na sociedade. Maneja bem isso de brilhar por sua ausência. Cria expectativas", explicou à Agência Efe o semiólogo e professor da Universidade de Ottawa, no Canadá, Fernando Andracht, nas últimas eleições presidenciais. Já os jornalistas, acostumados à constante presença pública de Mujica e a seus frequentes discursos pelo rádio, sabem que com Vázquez muda o terço, cuja apatia com a imprensa beira a aspereza. Diferente pensam também seus opositores, que o acusam de ser cabeça-dura, intransigente, personalista e autocrata. E também contraditório, por sua recusa em legalizar o aborto, indo contra a maioria de sua coalizão política, a Frente Ampla; e por sua incansável luta contra o tabaco, que tornou bandeira em seu primeiro mandato, o que não o impediu de aceitar a lei do governo de Mujica que autoriza a produção e a venda de maconha. Quarto filho de um operário da empresa estatal de petróleo ANCAP e de uma dona de casa, Vázquez é um homem acostumado a fazer história. Foi o primeiro médico saído do humilde bairro de Teja, onde anos depois fundou uma policlínica e um refeitório social que funcionam até hoje. Fez história também no futebol uruguaio, onde assumiu em 1979 as rédeas do Clube Atlético Progresso, então na terceira divisão e o levou até seu primeiro e único título da liga, em 1989. Do campo passou à prefeitura de Montevidéu, se tornando o primeiro prefeito de esquerda da capital, cargo que ocupou de 1989 a 1995. Outro marco histórico na trajetória de Vászquez, que após governar mais da metade dos 3,2 milhões de uruguaios que residem na capital, foi o início de sua corrida presidencial, ao ser o mais votado nas eleições de 1994 e 1999, mas sem poder assumir devido à aliança dos partidos Nacional e Colorado. Em 2005 levou à esquerda pela primeira vez ao poder e com o mandato que agora começa se transforma em uma das três únicas pessoas na história do Uruguai que foi escolhida presidente duas vezes. Mas antes de tudo Vázquez foi e é um médico. "Se algum dia a política me afastar do povo, deixo de fazer política, e uma forma de estar com as pessoas é estar na profissão médica", afirmou antes de seu primeiro mandato. Vázquez obteve o título de especialista em Oncologia e Radioterapia em 1972, e desde 1987 é professor na Faculdade de Medicina da Universidade da República, a mais importante do Uruguai. Em sua longa carreira como especialista em oncologia, prestou serviços em quatro centros assistenciais do país, pertenceu a dez sociedades científicas, foi beneficiado com sete bolsas de estudos para pesquisa no exterior e manteve atividades curriculares em EUA, Israel, Japão e França.EFE rfg/cd