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"Mães achavam que diabetes era contagioso", diz estudante que sofreu discriminação na escola

Projeto educativo nas escolas promete acabar com desinformação e eliminar preconceito

Saúde|Fabiana Grillo, do R7

Lisandra e a filha Stella venceram o preconceito do diabetes
Lisandra e a filha Stella venceram o preconceito do diabetes Lisandra e a filha Stella venceram o preconceito do diabetes

Não foi fácil para a estudante Stella Sadocoo Paes, 17 anos, driblar o bullying na escola por causa do diabetes tipo 1, diagnosticado no primeiro ano de vida. A falta de conhecimento sobre a doença dos professores, colegas e pais chegou ao ponto de ela ser proibida de brincar com algumas amiguinhas porque “as mães achavam que o diabetes era contagioso e pegava pelo toque”, lembra a jovem menina.

Além do preconceito, a mãe Lisandra Paes, 41 anos, conta que sempre enfrentou dificuldade para matricular a filha na escola. Desde a idade pré-escolar até hoje, Stella já passou por cinco instituições de ensino. Atualmente, ela estuda na Escola Municipal de Ensino Fundamental e Médio Professor Derville Allegretti, na zona norte de São Paulo, onde a mãe é coordenadora pedagógica.

— As escolas não podem impedir a matrícula, mas quando sabem que a criança tem diabetes dificultam o processo, reforçando que a criança vai tomar lanche separado dos colegas, que os educadores não podem medir a glicemia nem aplicar insulina e assim vai.

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Até os nove anos — idade que Stella venceu o medo de aplicar a insulina sozinha — Lisandra sempre acompanhou a filha nos passeios da escola, já que era uma exigência para que a aluna pudesse participar das atividades com os colegas de sala.

— Eu faltava no trabalho para que ela não se sentisse excluída e tivesse a oportunidade de conviver com o grupo.

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Nas festas de aniversário, Lisandra levava a comida da filha, salgados e doces, para que ela não passasse vontade. Exatamente por vivenciar essa realidade, a coordenadora pedagógica recebeu em sua escola o projeto Kids, que acaba de ser lançado no Brasil, voltado à conscientização do diabetes no ambiente escolar.

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—No dia seguinte do treinamento recebido, um professor identificou um aluno com diabetes que não havia relatado que tinha a doença por medo.

Diabetes nas escolas

O projeto Kids é uma iniciativa da IDF (Federação Internacional de Diabetes) que chegou ao Brasil por meio de uma parceria com a ADJ Diabetes Brasil (Associação de Jovens Diabéticos) e a empresa farmacêutica Sanofi. Exatamente por ser pioneiro no País e visar levar educação e conhecimento sobre uma doença crônica que só cresce, conta com o apoio do Ministério da Saúde e das Sociedades Brasileira de Diabetes e de Pediatria. 

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Nesta fase inicial, 15 escolas públicas e privadas, sendo 13 no Estado de São Paulo e duas no Ceará, serão selecionadas entre uma lista de 42 que já mostraram interesse em participar do projeto, que será direcionado a crianças e adolescentes de seis a 14 anos, explica Fernanda Castelo Branco, da ADJ Diabetes Brasil.

— Nosso critério é que a escola tenha entre 700 e 1.000 alunos do ensino fundamental, sendo pelo menos dois com diabetes tipo 1. Além disso, exigimos a participação das famílias.

O curso tem duração de um dia e é dividido em módulos de 1h30 para os educadores e 45 minutos por faixa etária, com palestras lúdicas, práticas e interativas. A equipe que vai levar o conhecimento para as escolas é formada por três educadores em diabetes e quatro estagiários.

Como o Brasil é um país muito grande, a endocrinologista Denise Reis Franco, diretora da ADJ Diabetes Brasil e uma das coordenadoras do projeto Kids, avisa que o material educativo ficará disponível para download gratuito em oito línguas no site de todos os parceiros.

— A ideia é propagar o programa para o maior número de pessoas. Estamos na fase inicial e futuramente queremos fazer o treinamento em vídeo.

De acordo com a IDF, existem hoje 12 milhões de diabéticos no Brasil, sendo que de 5% a 10% do total corresponde ao tipo 1 (infanto-juvenil). A cada ano, 5.000 novos casos da doença nas crianças são diagnosticados, por isso a importância de desmistificar o assunto no ambiente escolar.

Denise explica que “embora as escolas brasileiras não possam realizar nenhum procedimento médico, é importante que os professores e colegas saibam reconhecer alguns quadros clínicos e consigam acionar quem for preciso”.

— Reverter uma hipoglicemia [queda da taxa de açúcar no sangue] com uma bala ou copo de suco de laranja pode salvar vidas. Além disso, para essas crianças a insulina é uma questão de sobrevivência e precisa ser aplicada no horário.

Depois de alguns obstáculos, Stella [a estudante do início desta reportagem] não enfrenta mais preconceito na escola. Ela administra a insulina seis vezes por dia e monitora a glicemia com a mesma frequência.

—Todo mundo sabe que tenho diabetes e não sou julgada por isso. Só evito tomar a insulina na frente dos outros porque sou tímida.

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