Escudo térmico do telescópio James Webb é aberto com sucesso
De acordo com os responsáveis pelo equipamento, essa era a etapa mais delicada de toda a fase de posicionamento do instrumento
Tecnologia e Ciência|Do R7
O telescópio espacial James Webb superou nesta terça-feira (4) uma etapa importante ao abrir completamente seu escudo térmico, um guarda-sol de cinco camadas, necessário para a observação do cosmos, informou a Nasa.
Embora faltem muitas operações para que o observatório esteja pronto, a abertura desse guarda-sol era o item "mais difícil" da lista, admitiu Thomas Zurbuchen, chefe de missões científicas da Nasa, em um comunicado.
Cada uma das camadas desse escudo térmico tem o tamanho de uma quadra de tênis e é necessária para proteger os instrumentos científicos do calor do Sol. Desde esta segunda-feira (3), cada uma delas foi aberta e estendida.
O telescópio é grande demais para ser acomodado em um foguete. Por isso, foi preciso dobrá-lo sobre si mesmo como um origami e desdobrá-lo no espaço, um procedimento extremamente perigoso.
"É um dia muito especial", tuitou o astrônomo Klaus Pontoppidan, cientista-chefe do James Webb. "Acho que é hora de nos darmos conta de que em breve talvez tenhamos um telescópio espacial gigante completamente operacional."
Astrônomos de todo o mundo aguardavam com ansiedade o James Webb, o telescópio espacial mais potente, que permitirá observar as primeiras galáxias, formadas poucas centenas de milhões de anos após o Big Bang.
O observatório foi lançado há pouco mais de uma semana da Guiana Francesa, e atualmente se encontra a mais de 900 mil quilômetros da Terra. Segue rumo à sua órbita definitiva, a 1,5 milhão de quilômetros da Terra, ou seja, quatro vezes a distância entre nosso planeta e a Lua.
Nesse local, se algum problema surgisse, não se poderia contar com uma missão de reparos.
A abertura, dirigida de Baltimore, deveria ser realizada sem tropeços. Mais de uma centena de engenheiros se revezou noite e dia para garantir que tudo transcorresse conforme o previsto.
A Nasa transmitiu o procedimento ao vivo pela internet. Como não há câmera a bordo do James Webb, as únicas imagens disponíveis eram da sala de controle de operações. A equipe explodiu em alegria quando a abertura foi concluída.
"Alívio"
"O clima é difícil de descrever. Foi um momento incrível. Havia muita alegria, muito alívio", disse à imprensa Hillary Stock, encarregada da abertura do guarda-sol, na Northrop Grumman, sócia da Nasa. "Tudo correu bem", acrescentou.
O guarda-sol mede 20 m por 14 m e tem o formato de um diamante. Suas camadas, tão finas quanto um fio de cabelo, estavam dobradas como uma sanfona, e agora vão se esticar até ficar a dezenas de centímetros de distância entre si.
São feitas de Kapton, material escolhido por sua resistência às temperaturas extremas, já que a face mais próxima do Sol pode alcançar os 125°C, e a mais longínqua, -235°C.
A abertura do escudo foi possível graças a centenas de polias e cabos para sua condução, além de motores para estender cada vela de cada ponta do diamante. Nesta segunda-feira, as primeiras três camadas foram abertas e esticadas com sucesso. Na manhã desta terça-feira, as equipes fizeram o mesmo com as duas últimas.
Antes, foram ativadas as duas "estruturas de paletas" que continham o escudo solar.
Esse escudo térmico é essencial porque os instrumentos científicos do James Webb só funcionam a temperaturas muito baixas e às escuras.
A grande novidade desse telescópio é que ele vai operar por meio do espectro infravermelho próximo e médio, comprimentos de onda visíveis a olho nu. Para poder detectar a luz fraca, procedente dos confins do universo, ele não pode ser afetado pela radiação solar, tampouco pela radiação emitida da Terra e da Lua.
O passo seguinte é a abertura dos espelhos: primeiro, um secundário, menor e colocado ao final de um tripé; depois, o principal, recoberto de ouro e com 6,6 m de diâmetro.
Uma vez configurado, o James Webb chegará ao seu destino, conhecido como o ponto Lagrange 2. Então, será preciso esfriar e calibrar os instrumentos, além de ajustar os espelhos com muita precisão.
Seis meses após o lançamento, o telescópio estará pronto para remontar às origens do universo e buscar entornos habitáveis fora do nosso Sistema Solar.