Bolsonaro questiona interesse de 'tarados' por vacina para crianças
Presidente criticou recomendação da Anvisa e disse que sua filha, Laura, de 11 anos, não vai se vacinar
Brasília|Plínio Aguiar, do R7, em Brasília
Um dia após o Ministério da Saúde anunciar a inclusão de crianças e adolescentes de 5 a 11 anos no plano de vacinação contra a Covid-19, o presidente Jair Bolsonaro (PL) criticou a medida, questionou o interesse por trás da imunização infantil, disse desconhecer mortes pela doença nessa faixa etária e informou que sua filha, Laura Bolsonaro, não será vacinada.
"Eu pergunto: você tem conhecimento de criança de 5 a 11 anos que tenha morrido de Covid? Eu não tenho. Na minha frente tem umas dez pessoas, se alguém tem conhecimento, levanta o braço. Ninguém levantou o braço", disse.
O chefe do Executivo destacou os supostos efeitos colaterais da vacina e pediu que pais e mães atentassem para isso. "Uma das questões que nós colocamos para que você, pai, tem que saber, é que a Pfizer não se responsabiliza por efeitos colaterais. E a própria Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária] também diz que a criança pode sentir falta de ar e palpitações", complementou.
Bolsonaro questionou, ainda, o interesse por trás da vacinação infantil. "O que está por trás disso? Qual o interesse da Anvisa por trás disso? Qual o interesse daquelas pessoas taradas por vacina? É pela vida? Pela saúde? Se fosse, estariam preocupados com outras doenças no país, mas não estão", avalia.
A agência já informou, diversas vezes, que a imunização infantil é segura e eficaz contra a Covid-19, e inclusive encaminhou ao Ministério da Saúde questionamentos sobre o tema e detalhamento de todo o cenário de aprovação e uso de vacinas.
Em outro momento, Bolsonaro voltou a falar sobre o número de óbitos de crianças e adolescentes pela doença, mas, dessa vez, assumiu que há mortes nessa faixa etária causadas pela Covid-19. "Quanto garoto contraiu Covid-19 e não aconteceu absolutamente nada com ele? Quando morre um garoto, que contraiu Covid-19, que isso é quase, eu desconheço, mas existe, com certeza, mas é uma pessoa que tinha problema de saúde grave."
Segundo o Sistema de Informações sobre Mortalidade do Ministério da Saúde, ao menos 1.148 crianças de até 9 anos já morreram de Covid-19 no país desde o início da pandemia. O número corresponde a um patamar baixo de óbitos pelo coronavírus, mas já supera o total de mortes infantis por doenças para as quais há imunizantes.
Nesta quarta-feira (5), o Ministério da Saúde anunciou a inclusão das crianças e adolescentes no plano de vacinação, mas informou que a imunização não será obrigatória, diferentemente de todas as outras vacinações infantis previstas pelo PNI (Plano Nacional de Imunizações). Dessa forma, caberá aos pais ou responsáveis dar o aval para a aplicação — o intervalo entre as doses será de oito semanas.
Apesar de manter nas mãos dos pais a decisão de vacinar ou não as crianças, a pasta recuou em relação à cobrança de prescrição médica como condicionante para a aplicação, como havia adiantado o R7.
Bolsonaro criticou, também, governadores e prefeitos que exigiram passaporte vacinal, documento que comprova a imunização contra a Covid-19 e que é adotado em diversos países. Segundo o presidente, a ação é "barbaridade e covardia".
"Medidas que nunca se viram no Brasil. E essas pessoas têm viés autoritário, ditatorial, e estão à frente de prefeituras e governos de estados, que estão reprimindo. Jamais exigirei o passaporte vacinal, até porque tem gente com a terceira dose de vacina que está morrendo", acrescentou.
As declarações foram dadas durante entrevista à TV Nova Nordeste.
ICMS
O chefe do Executivo voltou a criticar o STF (Supremo Tribunal Federal), governadores e prefeitos. Bolsonaro informou ter acionado a Corte numa ação que pede que seja cumprido um dispositivo constitucional de 2001 que, segundo ele, estabelece que o ICMS (Imposto sobre Operações relativas à Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação) sobre combustíveis tenha uma alíquota fixa em todo o país.
"Entrei com ação no STF. Contra mim, o STF julga rapidamente, no máximo em 15 dias a gente já tem dor de cabeça. Agora, a nosso favor, está há quatro meses e não vai para a frente. O que diz essa ação? Nós queremos que seja cumprido um dispositivo constitucional, uma emenda de 2001 que diz que o ICMS tem que ser um valor fixo para todo o Brasil", destacou.
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"Agora, os governadores, em grande parte, fazem trabalho de lobby contra isso daí, porque quanto mais alto o preço do combustível na ponta da linha, na bomba, melhor para eles. Então o que o povo tem que entender é que o governo federal não pode ser o único responsável por essa questão", complementou.
Na sequência, mencionou projeto sancionado que prevê a venda direta de etanol aos postos de combustíveis. A MP (medida provisória) foi editada em agosto do ano passado. "Vai se baratear o preço do álcool? Sim, na origem. No destino? Não sei. Porque os governadores, em grande parte, não querem perder a receita. Vão inventar uma fórmula ou outra de manter esse imposto alto, que faz muito bem para o caixa deles. É a queda de braço que ficamos buscando solucionar para diminuir o preço do combustível na bomba."
Em outubro, o Confaz (Conselho Nacional de Política Fazendária) anunciou o congelamento do valor do ICMS sobre combustíveis por 90 dias. A medida ocorreu em meio ao aumento exponencial do preço da gasolina e do diesel, que alavanca a inflação e acelera a deterioração econômica das famílias.
Auxílio Brasil
Bolsonaro comentou o Auxílio Brasil, programa de transferência de renda que substituiu o Bolsa Família. "Se a gente não fizesse nada, o caos poderia se impor no Brasil, porque as pessoas com fome vão para as ruas. Nós assistíamos, lá atrás, saques em supermercados. Não tive conhecimento disso em 2020 nem em 2021", disse.
"Agora, os governadores, que fecharam comércio, não deram sustento para eles. E de quem reclamam? Do presidente. Eu não fechei nenhum comércio. Eu sempre falei que tínhamos que trabalhar, cuidar dos idosos, dos que tinham doenças, e não fazer essa política nefasta, feita por muitos governadores e prefeitos, que quase implodiram a economia brasileira."
O mandatário informou que o benefício, pago no valor de R$ 400, "veio para ficar", e que "não há dúvida" de que, com o comportamento da inflação, haverá reajustes na quantia paga.
Bolsonaro comentou a aprovação da PEC (proposta de emenda à Constituição) dos Precatórios, que viabilizou o programa Auxílio Brasil. O presidente criticou, no entanto, partidos de esquerda, que teriam dificultado a negociação "porque sabiam que essa ajuda aos mais humildes, em que pese ser uma ação meritória, tiraria deles, da esquerda, esses eleitores".
Eleições de 2022
Questionado sobre a reeleição à Presidência da República neste ano, Bolsonaro afirmou que "deve" ser candidato. "Mas, quando fala que vem, já vem a figura do vice. Se você anuncia o vice mais cedo, os outros partidos podem ficar chateados comigo", disse.
Na sequência, criticou o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), por ter surfado na onda bolsonarista em 2018. O mandatário comentou, ainda, possíveis nomes para os governos paulista e de Pernambuco: os ministros Tarcísio de Freitas (Infraestrutura) e Gilson Machado (Turismo), respectivamente. Bolsonaro rechaçou coligação do PL, seu nono partido, com qualquer partido de esquerda — o que ocorreu em diversos estados, principalmente do Nordeste, em eleições anteriores.