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'Bruno e Phillips foram mortos por fotografar suspeitos', diz MPF

Segundo o Ministério Público Federal, o crime foi motivado por Bruno ter pedido a Dom que fotografasse o barco dos acusados

Brasília|Carlos Eduardo Bafutto, do R7, e Natalia Martins, da Record TV, em Brasília

Jornalista inglês Dom Phillips e o indigenista Bruno Araújo
Jornalista inglês Dom Phillips e o indigenista Bruno Araújo

Segundo denúncia apresentada pelo Ministério Público Federal nesta quinta-feira (21), a motivação do assassinato do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips teria sido o fato de Bruno ter pedido a Dom que fotografasse o barco dos acusados no dia do crime. Foram denunciados três suspeitos: Amarildo da Costa Oliveira, Oseney da Costa de Oliveira e Jefferson da Silva Lima, por duplo homicídio qualificado e ocultação de cadáver.

Segundo o MPF, Amarildo e Jefferson confessaram o crime, enquanto Oseney teve a participação comprovada por depoimentos de testemunhas. A denúncia traz ainda prints de conversas que indicam a cronologia do crime. Além disso, foram apresentados laudos periciais, com a análise dos corpos e dos objetos encontrados pelos investigadores.

De acordo com fontes ouvidas pela reportagem, o MPF pede que eles sejam processados e levados a júri popular. O quarto suspeito preso durante as investigações, Rubens Villar, também conhecido como "Colômbia", ainda não teve a partipação comprovada no crime. Ele está preso por uso de documentos falsos e associação criminosa em um esquema de pesca ilegal na região.

Ainda de acordo com o documento enviado à Justiça, o MPF afirma que já havia registro de desentendimentos entre Bruno e Amarildo por pesca ilegal em território indígena. O que teria motivado o duplo assassinato seria o fato de Bruno ter pedido a Dom que fotografasse o barco dos acusados, o que é classificado pelo MPF de motivo fútil e pode agravar a pena.


Bruno foi morto com três tiros, um deles pelas costas, sem nenhuma possibilidade de defesa, o que também qualifica o crime. Já Dom foi assassinado apenas por estar com Bruno, de modo a assegurar a impunidade sobre o crime anterior, na avaliação do MPF.

O Ministério Público designou cinco procuradores para reforçar a atuação no caso, tendo em vista a relevância e repercussão internacional, além da necessidade de respostas rápidas para uma região que registra conflitos crescentes.


Segundo Carlos Frederico Santos, coordenador e subprocurador-geral da República, o MPF segue acompanhando o processo e seus desdobramentos, além de outros episódios de violência registrados na região. O local de tríplice fronteira (Brasil, Peru e Colômbia) tem sofrido com o aumento do crime organizado.

O caso

Dom e Bruno desapareceram em 5 de junho, após terem sido vistos pela última vez na comunidade São Rafael, nas proximidades da entrada da Terra Indígena Vale do Javari. Eles viajavam pela região e entrevistavam indígenas e ribeirinhos para a produção de reportagens para um livro sobre invasões de áreas indígenas.


O Vale do Javari, a terra indígena com o maior registro de povos isolados do mundo, é pressionado há anos pela atuação intensa de narcotraficantes, pescadores, garimpeiros e madeireiros ilegais que tentam expulsar povos tradicionais da região.

Dom morava em Salvador, na Bahia, e fazia reportagens sobre o Brasil havia 15 anos para o New York Times e o Washington Post, bem como para o jornal britânico The Guardian. Bruno era servidor da Funai (Fundação Nacional do Índio), mas estava licenciado desde que havia sido exonerado da chefia da Coordenação de Índios Isolados e de Recente Contato, em 2019.

No dia 15 de junho, a Polícia Federal localizou os restos mortais dos dois. A corporação encontrou os cadáveres depois de o pescador Amarildo da Costa ter confessado os assassinatos e levado policiais até o local onde enterrou os corpos.

Exames realizados pela Polícia Federal no Instituto Nacional de Criminalística, em Brasília, constataram que o material encontrado era de Dom e Bruno. A perícia chegou à conclusão após analisar a arcada dentária das duas vítimas.

A perícia da PF informou, ainda, que o jornalista e o indigenista foram mortos com tiros de uma arma de caça. Segundo a corporação, Bruno foi atingido por dois disparos no tórax e no abdômen e outro no rosto. Dom foi vítima de um disparo na região entre o tórax e o abdômen.

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