Campos Neto defende 'solução equilibrada' para juros do rotativo do cartão de crédito
Na semana passada, o presidente do BC defendeu o fim do crédito rotativo do cartão, mas o comentário despertou reações de bancos
Brasília|Hellen Leite, do R7, em Brasília
O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, afirmou nesta terça-feira (15) que é preciso construir uma solução equilibrada para a questão do crédito rotativo do cartão. Na semana passada, ele tinha dado sinais de que o BC estuda acabar com a modalidade, que é um tipo de empréstimo oferecido aos clientes de cartão de crédito que não conseguem pagar o valor total da fatura até o vencimento. A declaração não foi bem recebida por bancos nem instituições financeiras.
No Senado, Campos Neto defendeu a possibilidade de o crédito ir direto para o parcelamento, no qual a taxa é de cerca de 9%. Em junho, o patamar do rotativo atingiu 437,25%.
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"A gente tem um parcelado sem juros que o prazo é muito alto, e um cartão de crédito que é muito relevante no consumo, 40%. Quando o cartão de crédito representa 40% do consumo, ele está exercendo a função além do que ele deveria, e isso é um problema", disse o presidente do BC durante um almoço com deputados e senadores da Frente Parlamentar do Empreendedorismo (FPE).
Dessa vez, o presidente do BC evitou dar detalhes da proposta que está sendo discutida, mas afirmou que a limitação do parcelamento no cartão pode diminuir também a oferta de crédito por parte dos bancos.
"Estão sendo debatidos vários tipos de soluções. Não quero entrar no mérito, pois entendo que tem opiniões diferenciadas. Se você simplesmente limitar os juros você corre o risco de ter os bancos retirando os cartões de circulação. Por outro lado, a função do parcelado sem juros é muito importante para a economia e consumo", completou.
Após o comentário de Campos Neto, a Febraban (Federação Brasileira de Bancos) disse que não pretende acabar com as compras parceladas no cartão de crédito. Em nota, defendeu a manutenção do cartão de crédito como “relevante instrumento para o consumo”.
Taxa de juros
Roberto Campos Neto reconheceu que a taxa básica de juros (Selic) no Brasil é alta, mas declarou que a taxa está mais baixa se comparada com a de outros países da América Latina.
"O Banco Central conseguiu controlar a inflação com taxa de juros mais baixas nos últimos anos, e, ao longo do tempo, temos conseguido conviver com a taxa de juros cada vez mais baixa. Tanto não é verdade que o BC tem preferência por taxa de juros alta que o BC chegou a colocar a taxa em 2% durante a pandemia", salientou.
Preço da gasolina
Ele também afirmou que o reajuste nos preços dos combustíveis — anunciado mais cedo pela Petrobras — vai afetar a inflação. O impacto deve ser de 0,40 ponto percentual entre os meses de agosto e setembro.
"O impacto do diesel não é direto, é indireto na cadeia, mas o impacto da gasolina é direto no IPCA [Índice de Preços ao Consumidor Amplo]. A gente vai ver algumas revisões [do IPCA] com o reajuste de hoje", disse.
A Petrobras anunciou um aumento de 16,3% no preço médio da gasolina e de 25,8% no do diesel vendidos a distribuidoras, a partir desta quarta-feira (16). De acordo com a empresa, o preço médio do litro de gasolina será elevado em R$ 0,41, de R$ 2,52 para R$ 2,93.
Campos Neto também disse que o Brasil tem conseguido controlar a inflação e destacou outros países com meta mais altas de inflação com o índice descontrolado. "A meta mais alta não dá mais flexibilidade à política monetária. Ela tira flexibilidade."