Ex-PM diz que primeira recordação sobre planejamento de matar Marielle é de agosto de 2017
O R7 teve acesso à delação de Élcio Queiroz; no depoimento, ele também revelou que a arma usada no crime havia sido extraviada anos antes
Brasília|Gabriela Coelho e Bruna Lima, do R7, em Brasília
O ex-PM Élcio Queiroz disse, em delação premiada à Polícia Federal, que a primeira recordação sobre o planejamento de matar a vereadora Marielle Franco é de meados de agosto de 2017. A parlamentar foi assassinada em 14 de março de 2018. Foi a partir de elementos dessa delação que a Polícia Federal e o Ministério Público do Rio de Janeiro realizaram, nesta segunda-feira (24), uma operação para prender o ex-bombeiro Maxwell Simões Correa, o Suel, por suspeita de envolvimento nos homicídios da vereadora e do motorista Anderson Gomes.
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A recordação relatada por Queiroz surgiu a partir de uma conversa entre ele e o sargento da Polícia Militar reformado Ronnie Lessa, também preso preventivamente sob suspeita de envolvimento no crime. "Ao conversar sobre uma bateria nova que vira na casa de Ronnie Lessa, este contou que seria utilizada em um 'carro ruim', uma 'cabra', jargões comuns para veículos adulterados. Vindo a saber pouco depois que se tratava do Cobalt prata", diz o relatório da PF.
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Segundo Queiroz, Lessa relatou que, no Réveillon entre os anos de 2017 e 2018, durante uma das campanas, houve a oportunidade de "chegar até esse alvo", mas ele não conseguiu porque Suel, que dirigia, alegou problemas mecânicos no carro no momento da aproximação.
"Contudo, Lessa estava chateado, pois sua percepção era de que o real o motivo do fracasso fora o 'refugo' [hesitação] do motorista. Esclareceu, ainda, que nesta tentativa frustrada a vítima estaria em um táxi", afirmou.
Na delação, o ex-PM disse que a arma usada no assassinato da vereadora havia sido extraviada do Bope (Batalhão de Operações Policiais Especiais).
Sobre a submetralhadora MP5, o colaborador ouviu de Lessa que seria oriunda de um extravio ocorrido muitos anos antes num incêndio do Bope. A arma teria ficado com uma pessoa que a reformou e lhe vendeu, possivelmente, cerca de um ano antes do fato.
Trataria-se de uma arma com a qual Lessa trabalhou durante seu período no referido batalhão e, por isso, "teria grande valor sentimental", afirmou Queiroz em um trecho do depoimento.
Mas um relatório da Polícia Federal ressalta que as provas coletadas "não permitem qualquer conclusão sobre a relação da arma usada na execução de Marielle Franco e Anderson Gomes e os referidos incêndios".
"Ressalta-se que as declarações de Élcio Queiroz sobre esse assunto decorrem do que Ronnie Lessa teria dito, acarretando ainda mais incerteza e imprecisão sobre os fatos. Não obstante, a confirmação de que houve pelo menos dois incêndios em unidades do BPChq e de que havia submetralhadoras HK MP5 em seus arsenais torna o relato sobre a origem da arma verossímil", completa o relatório.
Queiroz está preso desde 2019, assim como o ex-policial reformado Ronnie Lessa. Os dois vão ser julgados pelo Tribunal do Júri pelo crime, mas a data do julgamento ainda não foi definida.
Dia do crime
No dia do crime, Queiroz contou, na delação, que trabalhava na escolta de caminhões quando, por volta das 12h, recebeu uma mensagem de Ronnie Lessa, que lhe perguntava onde ele estava e dizia que precisava de alguém para dirigir um veículo. Na sequência, Lessa lhe enviou uma foto com algumas mulheres; ele olhou rapidamente, sem entender o que era. Como o aplicativo destrói as mensagens após a visualização, Queiroz só saberia depois que se tratava do evento na Casa das Pretas, no mesmo dia.
No carro, antes do crime, Queiroz disse que Lessa ficou no banco do carona. Afirmou ainda que viu pelo retrovisor quando Lessa colocou um casaco preto e vermelho, tirou uma submetralhadora da bolsa, instalou o silenciador, colocou uma touca e pegou um binóculo para observar o movimento.
Marielle apareceu na rua após um tempo, e Lessa cogitou matá-la no local, revelou Queiroz, mas ele alertou de que havia muitas pessoas na rua. Depois disso, o carro foi atrás do automóvel da vereadora e, quando Lessa viu a oportunidade, fez os disparos.
Após o crime, eles seguiram para a casa da mãe de Ronnie Lessa, a mando dele, no bairro do Méier. De lá, seguiram em um táxi para a Barra da Tijuca. A polícia confirmou que o irmão de Lessa foi quem fez o pedido na cooperativa de táxi.
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O endereço na Barra era um bar, onde eles se encontraram com Maxwell. Queiroz disse que, naquele momento, já falavam da morte da vereadora na imprensa e que a primeira coisa que ouviu Maxwell dizer a Lessa foi “eu sabia que eram vocês”.
No dia seguinte, os três teriam se encontrado para se livrar do veículo; os comparsas estariam com outra placa em mãos e a trocaram. Além disso, fizeram uma varredura para apagar qualquer vestígio do carro.
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Em relatório, a Polícia Federal afirmou que restou apenas a possibildade de confrontar os registros de chamadas e os dados em nuvem, a fim de corroborar circunstancialmente o contéudo das declarações de Queiroz sobre o pré-crime.
"O que de fato aconteceu de forma satisfatória no entender desses subscritores. Uma vez que as evidências apresentadas são inequívocas, ao comprovar de forma objetiva a existência de um liame entre o trio investigado, bem como a sugestiva e intensa interação nos meses anteriores e posteriores ao fato criminoso apurado."