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R7 Brasília

Lula critica falta de investimentos em estruturas e diz que reconstrução do RS vai custar ‘o dobro’ da manutenção

É a terceira vez que o presidente visita o estado desde o início da tragédia, que já deixou 149 mortos e 806 feridos

Brasília|Ana Isabel Mansur, do R7, em Brasília

Lula visitou um abrigo em São Leopoldo (RS) Ricardo Stuckert/Presidência da República - 15.5.2024

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou nesta quarta-feira (15) a falta de investimentos para a manutenção das estruturas de contenção de água no Rio Grande do Sul, que enfrenta fortes chuvas e enchentes há pelo menos duas semanas. Na avaliação do presidente, o custo para reconstruir o estado vai ser “o dobro” do que seria gasto na manutenção dos equipamentos. A fala ocorreu no RS, durante novo anúncio do governo federal de socorro aos gaúchos.

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“Eu não sei se o governador [Eduardo Leite (PSDB)] já tem o cálculo dos prejuízos que o estado já teve até agora com essas chuvas, mas tenho certeza que é o dobro do que custaria a gente ter resolvido esse problema definitivamente”, declarou Lula.

É a terceira vez que o presidente visita o estado desde o início da tragédia, que já deixou 149 mortos e 806 feridos, segundo o balanço mais recente da Defesa Civil local. Outras 108 pessoas estão desaparecidas e mais de 538 mil gaúchos estão desalojados. Os cidadãos em abrigos ultrapassam 76,5 mil. Até o momento, 76.588 pessoas e 11.427 animais foram resgatados.

Nas duas visitas anteriores, Lula reuniu-se apenas com autoridades e sobrevoou as áreas afetadas — que somam 90% do estado, 449 dos 497 municípios do RS. Na viagem desta quarta (15), no entanto, o petista visitou um abrigo em São Leopoldo (RS). “Tive o encontro que precisava ter, com as pessoas que estão nos abrigos”, declarou.


“Nosso trabalho é tentar sensibilizar as pessoas que o máximo que parece que a gente tá fazendo não é o máximo, é apenas o necessário, o óbvio. O que estamos fazendo é mostrar que é possível minimizar [os danos], logico que não vai poder resolver tudo na hora, é tanto dinheiro. A questão do dinheiro vem da nossa vida pessoal, quem tem que pagar o salário sempre acha que é muito, quem recebe acha que é pouco, é assim na vida. Quanto mais o [ministro da Fazenda, Fernando] Haddad achar que está colocando muito dinheiro, mais o [governador] Eduardo vai falar ‘não dá'. Os prefeitos vão falar para o governador também ‘não dá’ e o morador vai falar para o prefeito ‘não dá’. É um processo, faz parte da nossa cultura”, acrescentou Lula.

Novas medidas

O governo anunciou nesta quarta (15) uma série de novas medidas voltadas para as pessoas atingidas pelas chuvas no Rio Grande do Sul. Entre as ações, estão Pix de R$ 5,1 mil para famílias que perderam bens durante as enchentes, incorporação de mais beneficiários no Bolsa Família e liberação de parcelas adicionais de seguro-desemprego.


“É uma ajuda para as pessoas que perderam suas geladeiras, fogões, móveis, colchões, e que será atestado pela Defesa Civil de cada município as ruas que as pessoas perderam seus objetos. Essas pessoas terão de forma rápida e facilitada, via Caixa Econômica Federal, a transferência nas suas contas via Pix de R$ 5.100″, afirmou o ministro da Casa Civil, Rui Costa.

“A comprovação se dará apenas pelo endereço que a pessoa mora. Quem perdeu todos os documentos, vai lá, diz o CPF e vai ser via aplicativo com a autodeclaração das pessoas. Esse endereço, evidente, será checado”, acrescentou. O benefício deve ter impacto de R$ 1.2 bilhão e deve atingir pouco mais de 200 mil famílias.


Os gaúchos atingidos pelas chuvas poderão sacar até R$ 6.220 pelo FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço). O governo antecipou para sexta-feira (17) o pagamento dos beneficiários do Bolsa Família. “De imediato, foram incorporadas 21 mil famílias para que já possam ter uma renda a partir deste mês”.

Além disso, a gestão anunciou a antecipação do pagamento do abono-salarial, a liberação de duas parcelas adicionais do seguro-desemprego e a restituição antecipada do imposto de renda para todos os brasileiros do Rio Grande do Sul. O valor é de R$ 1,1 bilhão. “Esse dinheiro volta para ser injetado na economia do estado”, informou Costa.

As pessoas que estão em abrigos ou em casas de familiares podem procurar na sua cidade um imóvel à venda, que será comprado pelo governo federal via Caixa Econômica Federal. As construtoras vão poder negociar diretamente com o governo federal, ao invés das famílias beneficiadas. Os valores, ainda não definidos, devem seguir os critérios do Minha Casa, Minha Vida, programa habitacional que tem preço de residência de até R$ 170 mil.

“Todas as casas que estavam para leilão serão retiradas, o governo vai quitar e vai entregar para as famílias que precisam”, destacou o ministro-chefe da Casa Civil. “O sistema está aberto no site do Ministério das Cidades, por favor, entrem o mais rápido possível para dizer quantas casas, a localidade, enfim... Nós vamos repor as casas e já temos 600 casas de imediato para repor”.

Por fim, o governo informou a abertura de estudos de alternativas para o sistema Guaíba-Lagoa dos Patos. A reformulação do sistema de proteção de cheias da região metropolitana de Porto Alegre deve incluir uma solução para a retenção de água e contenção das bacias.

Secretaria de Apoio ao Rio Grande do Sul

Durante a cerimônia, Lula assinou a medida provisória que cria a Secretaria Extraordinária da Presidência da República Para Apoio à Reconstrução do Rio Grande do Sul. O cargo será ocupado por Paulo Pimenta, atual chefe da Secom (Secretaria de Comunicação Social). “Mais de 80 mil pessoas foram salvas por essa força-tarefa e que envolveu também o trabalho extraordinário de milhares de voluntários... Nós temos consciência e noção da responsabilidade do desafio que temos pela frente. É um fenômeno que ainda não está concluído”, afirmou o novo titular. Será o 39º ministério do governo.

Agenda

Lula desembarcou em Canoas (RS) na manhã desta quarta-feira (15). A ideia do Executivo era contar com a presença dos Três Poderes no anúncio, porém, o petista estava acompanhado apenas de prefeitos, integrantes do governo e do presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Luís Roberto Barroso. Convidados, os presidentes Arthur Lira (Câmara dos Deputados) e Rodrigo Pacheco (Senado) não participaram da comitiva em função de agenda legislativa.

Antes do anúncio, Lula visitou um abrigo para as pessoas afetadas pelas chuvas no Rio Grande do Sul. O local escolhido, da Unisinos em São Leopoldo, é justamente onde foi encontrado morto o médico voluntário Leandro Medice, de 41 anos. O profissional da saúde, que era do Espírito Santo, estava ajudando as vítimas das enchentes que assolam o estado - ele sofreu um mal súbito e não resistiu.

De acordo com dados da universidade, são cerca de 1.500 pessoas acolhidas, o maior espaço do tipo no município. A visita de Lula ao local ocorreu por volta de 11h35 e não estava na agenda oficial. Na sequência, o petista se reuniu com o governador gaúcho, Eduardo Leite.

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