Mauro Cid diz à PF que Bolsonaro se reuniu com generais após perder a eleição, mas nega ter participado
Alto escalão das Forças Armadas teria debatido termos da minuta de um golpe de Estado; declaração ocorreu na noite desta segunda
Brasília|Natália Martins, da RECORD
O ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro Mauro Cid disse que o ex-presidente se reuniu com generais após perder as eleições de outubro do ano passado, mas negou ter participado do encontro em que o alto escalão das Forças Armadas teria debatido os termos da minuta de um golpe de Estado. A declaração ocorreu durante o depoimento à Polícia Federal, na noite desta segunda-feira (11).
Até a última atualização desta reportagem, Cid, que chegou à sede da PF por volta das 15h, ainda se encontrava no prédio da corporação, mais de oito horas depois. Ele foi chamado para depor após investigadores apontarem inconsistências (leia mais abaixo) nos relatos da delação premiada fechada por ele em setembro de 2023 e nos depoimentos de outros envolvidos, principalmente o do ex-comandante do Exército, general Freire Gomes.
Mauro Cid foi questionado pelos delegados sobre uma reunião que teria ocorrido no Palácio da Alvorada entre os comandantes da Marinha (Almirante Almir Garnier), da Aeronautica (brigadeiro Baptista Júnior) e do Exército (general Antônio Freire Gomes), em 9 de dezembro de 2022. Na resposta, ele negou ter marcado presença na reunião.
Naquela sexta-feira de 9 de dezembro, depois de 40 dias em silêncio após a derrota nas urnas, Jair Bolsonaro resolveu falar com apoiadores em frente ao Palácio do Planalto.
Ao som de um coro dos populares gritando "eu autorizo", o então presidente — que deixaria o cargo dentro de alguns dias — disse que "tudo dará certo no momento oportuno" e afirmou que entre as funções dele como presidente da República, uma era ser o chefe supremo das Forças Armadas.
"As forças armafas são essenciais em qualquer país do mundo, sempre disse, ao longo desse quatro anos, que as Forças Armadas são o último obstáculo para o socialismo".
Divergências
A primeira divergência surgiu no tópico da "minuta do golpe", documento que teria como suposto objetivo o "estado de defesa" na sede do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), sob o pretexto de investigar supostos casos de abuso de poder.
Porém, na delação premiada, Cid afirmou que Bolsonaro teria recebido a minuta do então assessor para assuntos internacionais Filipe G. Martins, mas não externou sua opinião sobre o documento, e não teria dito que levaria adiante o plano previsto na minuta.
O segundo ponto seria a reunião ministerial de julho de 2022, na qual Bolsonaro antevê a possibilidade de ser derrotado nas eleições daquele ano e pede a seus ministros que acionem o "plano B".