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Ministério da Justiça faz quase 60 sugestões ao Senado para corrigir PL Antifacção de Derrite

Relator do projeto no Senado deve apresentar parecer à proposta na semana que vem

Brasília|Do Estadão Conteúdo

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LEIA AQUI O RESUMO DA NOTÍCIA

  • Ministério da Justiça apresentou 58 sugestões ao Senado para corrigir o PL Antifacção de Guilherme Derrite.
  • Senador Alessandro Vieira deve apresentar parecer sobre o projeto na próxima semana.
  • Documentos do MJSP apontam "caos jurídico" e críticas à nova tipificação de crimes no projeto aprovado na Câmara dos Deputados.
  • Governo quer manter a distribuição atual dos recursos apreendidos, argumentando que mudanças afetariam a capacidade das polícias federais.

Produzido pela Ri7a - a Inteligência Artificial do R7

Rio de Janeiro (RJ), 29/10/2025 - Ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, durante entrevista coletiva para falar sobre ação policial da Operação Contenção, contra o Comando Vermelho. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil
PL Antifacção foi elaborado pela pasta chefiada por Ricardo Lewandowski Fernando Frazão/Agência Brasil - 29.10.2025

O MJSP (Ministério da Justiça e Segurança Pública) enviou ao senador Alessandro Vieira (MDB-SE), relator do projeto de lei antifacção no Senado, um documento com 58 sugestões de correção no texto aprovado na Câmara, de autoria de Guilherme Derrite (PP-SP), deputado licenciado e secretário de Segurança Pública de São Paulo.

O senador havia solicitado aos envolvidos na discussão documentos que pudessem embasar o seu relatório sobre o projeto. Vieira, considerado um parlamentar equidistante do governo e da oposição bolsonarista, deve terminar o parecer até a próxima semana.


O documento de 35 páginas do MJSP faz uma série de equiparações entre o texto de Derrite e o projeto original, elaborado pela Secretaria Nacional de Segurança Pública do ministério, e aponta alguns aspectos que considera problemáticos na versão que Vieira recebeu da Câmara.

O ministério critica, sobretudo, o que vem chamando de “caos jurídico” que pode ser criado a partir de uma eventual aprovação do projeto de Derrite.


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Isso porque o texto aprovado cria um arcabouço do zero, o Marco Legal de Combate ao Crime Organizado, com uma nova tipificação. O projeto do governo apostava em atualizar legislações já existentes, como a Lei das Organizações Criminosas e o Código Penal.

“Criar um outro diploma para tratar paralelamente de ‘organizações criminosas ultraviolentas’, ao invés de fortalecer o combate ao crime organizado, poderá criar um conflito de normas e interpretações. O novo marco legal apresenta definição confusa do que seria essa ‘organização criminosa ultraviolenta’. No mesmo dispositivo, ainda apresenta o conceito de facção criminosa, sem correlação com a definição prevista no art. 2º da legislação atual”, diz o documento.


O governo também argumenta que o projeto atual pode, na sua visão, criminalizar movimentos sociais e manifestantes. O trecho em questão diz que “restringir, limitar, obstaculizar ou dificultar a livre circulação de pessoas, bens e serviços, públicos ou privados” passa a constituir crime.

“Malgrado as boas intenções, pode permitir a criminalização de ações políticas e sociais não-delitivas em sua origem, como movimentos meramente reivindicatórios de direitos”, diz o MJSP.


Em seguida, sugere a inclusão de um inciso para proteger civis inocentes: “O disposto neste artigo não se aplica à conduta individual ou coletiva de pessoas em manifestações políticas, movimentos sociais, sindicais, religiosos, de classe ou de categoria”.

Recursos apreendidos do crime

A questão da redivisão de recursos apreendidos do crime — o calcanhar de Aquiles do texto de Derrite, que levaria a uma descapitalização da verba da Polícia Federal — também recebeu sugestões do governo federal.

Enquanto Derrite sugere o rateio em partes iguais entre o FNSP (Fundo Nacional de Segurança Pública) e os Fundos de Segurança Pública dos respectivos estados ou do Distrito Federal dos valores apreendidos em caso de atuação conjunta entre a PF e as forças de segurança pública estaduais ou distritais, o MJSP alega que a medida viola as vinculações legais e constitucionais já estabelecidas.

O governo, no entanto, apoia a manutenção das regras atuais:

  • Bens e valores do tráfico de drogas devem ser destinados ao Funad (Fundo Nacional Antidrogas);
  • Bens e valores de crimes cometidos por milícias devem ser direcionados ao FNSP;
  • Bens e valores obtidos nos crimes de lavagem de dinheiro vão para o Funapol (Fundo para Aparelhamento e Operacionalização das Atividades-fim da Polícia Federal); e
  • Bens e valores decorrentes das multas, recursos confiscados e alienados em favor da União dos crimes em geral vão para o Funpen (Fundo Penitenciário Nacional).

“Descapitalizar os fundos federais, no final das contas, é descapitalizar a PF, a Polícia Rodoviária Federal e Polícia Penal Federal, bem como as ações destas polícias no combate ao crime organizado. As receitas de perdimento de bens representam fonte vital de recursos para a execução das políticas públicas de segurança e justiça”, diz o documento.

O governo afirma que, em 2025, as receitas vindas de bens apreendidos somaram aproximadamente R$ 367,48 milhões, e que a retirada ou redistribuição desses valores reduziria a capacidade operacional e financeira dos órgãos e fundos, “afetando diretamente a execução de políticas públicas”.

Governo não admite esvaziamento da PF

O secretário de Assuntos Legislativos do MJSP, Marivaldo Pereira afirmou que o governo “não vai admitir” a retirada de competência ou de recursos da PF e que vai “lutar até o fim” para derrubar o que chamou de obstáculos criados por Derrite a medidas para descapitalização das organizações criminosas e o bloqueio de patrimônio de criminosos.

Pereira mudou o discurso da semana passada logo após a aprovação no plenário da Câmara, quando ele declarou que a aposta do Palácio do Planalto era salvar o projeto original no Senado:

“Nunca há da parte do Executivo apego à aprovação do texto original. Estamos agora tentando salvar o sistema existente e evitar caos jurídico que a proposta, tal como está, vai criar no sistema de persecução penal, de combate a organizações criminosas. É possível ter outra proposta, mas precisa respeitar o sistema existente. Não fazemos questão de que seja o texto do governo”, afirmou.

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