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G. Dias diz à CPMI do 8/1 que não mandou adulterar relatório da Abin enviado ao Congresso

Porém, mensagens obtidas pelo R7 revelam que ele pediu a retirada do nome

Brasília|Bruna Lima, do R7, em Brasília

Gonçalves Dias depõe à CPMI do 8 de Janeiro nesta quinta
Gonçalves Dias depõe à CPMI do 8 de Janeiro nesta quinta

O general Gonçalves Dias, ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República durante o 8 de Janeiro, negou ter adulterado o relatório com a relação de nomes que receberam informes da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) sobre os atos extremistas. "Não mandei ninguém adulterar nada, de nenhum documento, ou retirar meu nome de relatório", disse em depoimento à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) nesta quinta-feira (31). Porém, mensagens obtidas pelo R7 mostram que G.Dias pediu que o nome dele fosse retirado do documento entregue aos parlamentares. 

Na conversa à qual o R7 teve acesso, G. Dias, como é conhecido o general, questiona o então diretor-adjunto da Abin, Saulo Cunha, sobre a possibilidade de excluir o nome dele do relatório que seria entregue ao senador Esperidião Amin (PP-SC), então presidente da Comissão Mista de Controle da Atividade de Inteligência do Congresso Nacional.

A troca de mensagens ocorreu em 17 de janeiro, três dias antes do envio do relatório ao Congresso. Além de pedir a retirada do nome, o ex-GSI se certifica de que o documento não chegou a ser compartilhado com outras pessoas e reitera a demanda pela exclusão. 

Confira o diálogo

- G. Dias: Será que meu nome pode ser retirado daquela relação.


- Saulo Cunha: Aquela relação é só para seu conhecimento.

- G.Dias: Ela ia ser entregue para o Espiridiao


- Saulo Cunha: Negativo. Eu pedi que levasse ao senhor primeiro para avaliarmos.

- G. Dias: Ha mais alguém que sabe??


- Saulo Cunha: Não.

- G.Dias: Pode tirar o meu nome?

- Saulo Cunha: Claro. O senhor não era parte da operação.

- G.Dias: Me mande outra....lacrada...

Leia mais: Infiltrado no GSI teria facilitado acesso de extremistas a armas no Planalto durante o 8/1, diz ex-Abin

Depoimento

Na CPMI, o militar justificou que solicitou "apenas, tão somente, que organizasse as informações que deveriam ser dadas a CCAI em uma lógica única: com os alertas de segurança aberto com informações de fontes abertas haviam sido passado em grupo de WhatsApp constituído de órgãos públicos, e não com meu nome", disse, completando que ele não integrava os grupos e usava o número particular. "Não constava o nome de pessoas no relatório, apenas órgãos. Determinei que informações fossem padronizadas a fim de respondermos a CCAI com presteza e com a verdade."

A mudança de versões é o principal gancho que parlamentares da oposição com quem a reportagem conversou devem explorar. O depoimento é estratégico para aliados de Jair Bolsonaro (PL), que querem proteger o ex-presidente. 

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Após a oitiva, o caminho estudado é a apresentação de um relatório paralelo que consiste em tirar Bolsonaro do foco e concentrar a responsabilização da invasão dos prédios dos Três Poderes nas forças de segurança do DF e na omissão dos gestores federais do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Atos extremistas

Diretor-adjunto da Abin: 'Estamos cobertos'

Ao fim do dia 8 de janeiro, às 23h15, na conversa com o ex-secretário da Abin, Saulo Cunha disse: "Estamos cobertos". Ao que Singer respondeu: "A princípio, sim. Precisamos agora apresentar aquele material ao G. Dias". "Outra: de alguma maneira temos que dizer a ele [Gonçalves Dias, então ministro do GSI] que alguém(s) da equipe dele facilitou a entrada dos manifestantes nos recintos onde armamento estava armazenado", completou o ex-secretário da Abin.

Singer sugere que pode ter havido ajuda aos invasores por parte de integrantes do GSI. "Não é fácil entrar e nem é fácil achar isso. Uma hipótese forte é coordenação entre gente do GSI e gente da manifestação." O ex-secretário ainda sugeriu que a agência se preservasse ao "insinuar isso tudo com muita leveza e sabedoria" ao então ministro.

O dia seguinte: 'precisamos nos blindar'

Na segunda-feira, 9 de janeiro, Leonardo Singer afirmou, às 7h36, que o então ministro Gonçalves Dias estava sendo "fortemente atacado, assim como o GSI" e alertou Saulo Cunha: "Narrativa pode mudar contra nós".

Singer prosseguiu com um plano para que os dois se protegessem, preservando o ex-ministro: "Saulo, precisamos nos blindar de todas as formas, mas sem relar no G. Dias". "Recomendo conseguir um espaço com algum figurão do MJ [Ministério da Justiça] ou assessoria do Alexandre de Moraes [ministro do STF]", sugeriu o ex-secretário.

Às 7h52, Leonardo Singer afirma: "Estávamos sabendo também que o povo desceria a Esplanada para vandalizar, mas temos um material que está ficando quente demais nas nossas mãos". Ele diz que o tal "material" tem que ser entregue "de preferência a uma autoridade que nos dê suporte posteriormente".

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