‘Países não ficariam na sala se Putin fosse ao G20′, diz Lula
Presidente russo não virá à cúpula de líderes no Rio de Janeiro; tribunal internacional expediu mandado de prisão contra ele
Brasília|Ana Isabel Mansur, do R7, em Brasília
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta sexta-feira (8) que a presença do presidente da Rússia, Vladimir Putin, na cúpula de líderes do G20 seria “muito desconfortável”. “O problema é que você tem no G20 vários presidentes que não ficariam na sala se o Putin entrasse”, declarou, ao citar como exemplo nações europeias e os Estados Unidos. O G20 reúne as maiores economias do mundo e é presidido pelo Brasil neste ano. O encontro de líderes será no Rio de Janeiro (RJ) em 18 e 19 de novembro.
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Embora a Rússia faça parte do grupo, Putin já afirmou que não virá ao evento. Há um mandado de prisão do TPI (Tribunal Penal Internacional) contra ele, aberto em março do ano passado. O tribunal internacional acusa Putin de deportação ilegal de crianças na guerra contra a Ucrânia, iniciada com a invasão russa ao país, em fevereiro de 2022. O Brasil faz parte da corte e, a princípio, teria de prender Putin se ele estivesse em solo brasileiro.
Mesmo sem Putin, a Rússia terá representação na cúpula — o R7 apurou que a delegação do país deve ser chefiada pelo Chanceler Sergey Lavrov.
“O problema não é apenas proteger o Putin para não ser preso no Brasil, que essa é a coisa mais fácil de fazer”, continuou Lula. “Nós precisamos trabalhar para que essa guerra acabe de uma vez por todas, e o Putin volte com o direito de andar no mundo e participar dos eventos. Não é importante para um mundo que quer construir democracia ver um presidente de um país importante como a Rússia isolado, porque ele tomou uma decisão, e um tribunal internacional o julgou”, completou. As declarações foram feitas em entrevista a um canal norte-americano.
Lula também destacou que “as coisas do Putin vão ser resolvidas quando acabar a guerra com a Ucrânia.” “Aí, ele pode participar de uma reunião do G20, como pode participar o [Volodymyr] Zelensky [presidente ucraniano], que poderia ter sido convidado [para o G20]. Acontece que eu não quero discutir a guerra da Ucrânia e da Rússia no G20. Eu quero discutir a aliança global contra a fome, a questão climática, a questão energética, o empoderamento das mulheres. Quero discutir coisas que são importantes”, acrescentou o presidente.
Em outubro, Putin confirmou a ausência no G20. “Entendemos perfeitamente que, incluindo ou excluindo o fator TPI, toda a discussão será apenas sobre isso. E isso perturbaria o trabalho do G20. Para quê? Somos adultos”, declarou o russo a jornalistas estrangeiros. Ele descartou a presença na cúpula do G20 quatro dias depois de a Ucrânia pedir às autoridades brasileiras que cumpram o mandado de prisão do TPI.
Documento final do G20
A declaração final da cúpula de líderes do G20, documento que reúne os principais pontos da presidência brasileira do grupo, deve incluir trechos sobre as guerras no Oriente Médio e na Europa. A expectativa é que o texto peça a promoção da paz e o fim dos conflitos entre Israel e o grupo terrorista Hamas e entre Rússia e Ucrânia.
Segundo o secretário de Assuntos Econômicos e Financeiros do Ministério das Relações Exteriores, embaixador Mauricio Lyrio, a iniciativa ressalta a defesa que o Brasil faz da reforma dos organismos multilaterais. “Estamos negociando com os demais países a questão dos parágrafos sobre geopolítica que constarão na declaração, é um tema importante”, explicou.
“Há uma discussão entre os governos para se chegar a uma linguagem consensual sobre esses dois temas, mas a mensagem principal, naturalmente, é a mensagem de que precisamos chegar à paz em relação não só a estes conflitos, mas a todos os conflitos, que, aliás, reforça a prioridade brasileira de reforma para a governança global. É preciso ter paz para que nós possamos concentrar atenção política e recursos financeiros naquilo que deveriam ser os objetivos mais altos da comunidade internacional, que é o combate à pobreza e a promoção do desenvolvimento sustentável, inclusive ao combate à mudança do clima”, destacou.
Além da Rússia, as demais nações envolvidas nos conflitos não devem participar do encontro. A Ucrânia, que não integra o G20, não foi convidada. O R7 apurou que Israel e o Líbano, recentemente envolvido na guerra no Oriente Médio, também não foram chamados pela presidência brasileira.