Primeiro-ministro e presidente que não tomou posse: morte de Tancredo completa 40 anos
Primeiro civil eleito após Ditadura Militar, ex-presidente foi internado na véspera da posse; vice José Sarney foi empossado no lugar
Brasília|Ana Isabel Mansur, do R7, em Brasília

A morte do ex-presidente Tancredo Neves (PMDB, hoje MDB) completa 40 anos nesta segunda-feira (21). O falecimento do político, o primeiro civil eleito, indiretamente, depois da Ditadura Militar (1964-1985), coincide com o dia em memória de outro mineiro — Tiradentes. Consenso entre militares e apoiadores da abertura do regime, Tancredo foi essencial para a transição democrática, mesmo que tenha morrido sem tomar posse. Um dia antes da cerimônia, o político precisou ser internado às pressas no Hospital de Base de Brasília (DF) e teve de passar por uma cirurgia de emergência.
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No lugar de Tancredo, tomou posse o vice, José Sarney, recém-filiado ao PMDB, em 15 de março de 1985. Sarney fazia parte do PDS, partido que sucedeu à Arena, legenda de sustentação da Ditadura Militar.
Ele deixou o PDS, o qual comandava, junto a outros dissidentes, que discordavam da candidatura de Paulo Maluf à presidência. Maluf acabou derrotado por Tancredo no Colégio Eleitoral, por 480 a 180 votos.
O colégio foi o sistema responsável pela eleição do mineiro. Sem a participação popular direta, o presidente foi escolhido por integrantes do Congresso Nacional e das assembleias legislativas dos estados. O formato fazia parte do acordo de transição para a democracia feito com os militares.
Candidato da Aliança Democrática, Tancredo Neves foi o primeiro presidente civil, eleito em 15 de janeiro de 1985, após mais de 20 anos de ditadura militar. Na foto, o político mineiro em palanque com Ulysses Guimarães e José Sarney em Goiânia
Candidato da Aliança Democrática, Tancredo Neves foi o primeiro presidente civil, eleito em 15 de janeiro de 1985, após mais de 20 anos de ditadura militar. Na foto, o político mineiro em palanque com Ulysses Guimarães e José Sarney em Goiânia
Embora tenha morrido antes da posse, Tancredo é oficialmente um dos ex-presidentes brasileiros, graças a uma lei de 21 de abril de 1986, sancionada por Sarney. “O cidadão Tancredo de Almeida Neves, eleito e não empossado, por motivo de seu falecimento, figurará na galeria dos que foram ungidos pela Nação brasileira para a Suprema Magistratura, para todos os efeitos legais”, diz o texto da legislação.
Carreira política: ministro de Getúlio Vargas e primeiro-ministro
Nascido em 1910 em São João del-Rei (MG), o primeiro cargo de Tancredo foi como vereador da cidade, em 1935. Até ser eleito para a presidência da República, a trajetória do político também incluiu postos locais e nacionais.
Foi deputado estadual e relator da constituição mineira de 1947. Atuou como deputado federal na década de 1950 e depois entre 1963 e 1979. Licenciou-se da Câmara dos Deputados para ser ministro da Justiça de Getúlio Vargas, cargo que ocupou por quase um ano, de junho de 1953 até o suicídio do ex-presidente, em agosto de 1954.
De volta à Câmara, foi um dos articuladores da candidatura à presidente do também mineiro Juscelino Kubitschek, eleito em outubro de 1955.
Com a renúncia de Jânio Quadros, em agosto de 1961, as configurações da política do país levaram à instauração do parlamentarismo. A saída foi a solução encontrada para garantir a posse de João Goulart, o Jango, vice de Jânio.
O vice assumiu o cargo em setembro e, um dia depois, Tancredo tomou posse como primeiro-ministro de Jango. Essa parte da experiência parlamentarista brasileira durou 16 meses — ele atuou como primeiro-ministro até julho de 1962.
Em 31 de março de 1964, Jango sofreu o golpe que instalou a Ditadura Militar no Brasil. Tancredo, 21 anos depois, ajudou a enterrar o período de arbítrio no país.
Tancredo foi governador de Minas Gerais entre março de 1983 e agosto de 1984, quando se afastou para dar prioridade à campanha presidencial.
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