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Trump, Milei e COP30: veja os desafios de Lula no cenário internacional em 2025

Relação com norte-americano e argentino e agendas prepositivas na área ambiental são obstáculos para brasileiro, segundo especialistas

Brasília|Plínio Aguiar, do R7, em Brasília

A política internacional foi comandada pelo trio Lula-Mauro Vieira-Celso Amorim Ricardo Stuckert/PR - 01.12.2023

O maior embate enfrentado por Luiz Inácio Lula da Silva na política internacional em 2024 foi com a Venezuela. Se antes os presidentes se chamavam de amigos, hoje a relação do petista com o ditador é marcada por crítica e pressão. E o cenário geopolítico global não deve dar sinais de paz, pelo menos por enquanto. Na visão de especialistas ouvidos pela reportagem, o brasileiro vai enfrentar outros desafios em 2025, como a relação com o norte-americano Donald Trump e o argentino Javier Milei e a luta por decisões práticas na agenda ambiental, de olho na COP30, que será realizada na região amazônica pela primeira vez na história.

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A professora de relações internacionais e doutora em ciência política pela Universidade de São Paulo Denilde Holzhacker afirma que o ano de 2024 não foi fácil para Lula na política internacional, tendo como principal exemplo de embate a Venezuela. As eleições no país vizinho ocorreram em julho e Nicolás Maduro foi proclamado vencedor, mas sem a apresentação das atas eleitorais. O ato de não transparência fez com que a comunidade internacional pressionasse o ditador e tampouco reconhecesse sua vitória.

“A Venezuela foi o maior acirramento do ano de 2024. É o nosso problema estratégico mais relevante, seja pelo impacto da fronteira, das pressões que existem com o aumento da tensão entre Maduro e Guiana na disputa pelo território de Essequibo. Foi um grande desafio para o governo brasileiro, que mudou de posição. Se antes tinha uma maior aceitação com os atos e movimentos de Maduro, hoje existem cobranças e pressões contra o presidente venezuelano”, disse.

“De certa forma, o Brasil demorou para aderir à construção de uma aliança com o México e a Colômbia na tentativa de pôr fim ao debate gerado com a eleição na Venezuela. Depois, demorou para reagir às pressões feitas pelo Maduro contra o Brasil. Então foi uma grande situação em termos geopolíticos. Em determinado ponto, conseguiu uma vitória ao barrar a entrada da Venezuela no Brics, mas manteve essa dificuldade de lidar com o Maduro”, acrescentou a professora.


A professora de ciência política na Universidade Federal do Rio de Janeiro Mayra Goulart lembra que, principalmente após a Segunda Guerra Mundial, o Brasil adota papel protagonista no fortalecimento de instituições multilaterais, no qual os órgãos são não apenas reprodutores das vontades dos países mais fortes e, sim, capazes de defender nações e povos periféricos. E essa trajetória é identificada na história de Lula, mas que foi interrompida durante o governo Bolsonaro.

Nesse sentido, o Brasil atuou como líder regional na questão com a Venezuela e tenta fazer o mesmo movimento em outras partes do globo, como nas guerras na Faixa de Gaza e na Ucrânia. “Mas no caso dos conflitos, veja, o governo brasileiro não tem esse papel de liderança com esses países, pelo menos não imediata, claro, muito em função da área geográfica. E o ideal periférico fica meio turvo quando se pensa no território ucraniano, por exemplo. Esse lugar não está muito bem definido, então quando Lula entra para falar disso fica um pouco nebuloso, e o retorno em termos de soft power, de credibilidade, de prestígio, fica um pouco sacrificado”, analisa.


Trump, Milei e COP30: desafios para 2025

O principal fator para o Brasil em 2025 será o presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, que assume o posto no próximo janeiro. “É um governo que já vem fazendo pressão em relação aos países considerados não tão alinhados com os norte-americanos, principalmente na questão do comércio. Então, como o Brasil vai lidar com as ameaças trumpistas podem ser uma questão-chave”, alerta Denilde. A professora lembra também que a relação com a China pode ser um fator que impulsione eventual briga com o republicano, uma vez que os dois países disputam o título de mais importante do globo.

O cientista político e pesquisador da Universidade de Helsinque, na Finlândia, Kleber Carrilho destaca que o maior desafio para o Brasil será Trump. “O início do governo do presidente norte-americano vai ser decisivo para entender o futuro das relações internacionais. Nesse sentido, como o governo brasileiro vai conseguir se desenvolver diante do aspecto fundamental para a sobrevivência brasileira como player internacional, que tem sido, mas sem perder a relevância”, afirma.


“Então a diplomacia brasileira, até mais que o presidente, precisa ter um trabalho muito competente, e Lula precisa ser um líder inspirador. O brasileiro tem tentado esse posto, o que não tem sido fácil, até porque o mundo de 2024 é outro de 2003. Mas vamos acompanhar. 2025 será bem interessante”, completa Carrilho.

A COP30 (Conferência da Organização das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas) será realizada em Belém (PA), em novembro de 2025. Trata-se da primeira vez em que as autoridades mundiais vão debater a agenda em território amazônico. Um dos principais desafios para o Executivo e o estado do Pará é o aumento da capacidade da rede hoteleira. E a agenda se coloca como um fator para o Brasil.

E a construção da principal agenda ambiental no mundo pode ser colocada em xeque pelo governo de Trump, uma vez que o republicano não vê na área uma prioridade do Executivo. “Vai ser importante que o Brasil consiga construir um consenso em um cenário de desengajamento da temática. Então vai ser chave a forma com que o país vai trabalhar justamente para evitar um eventual esvaziamento do evento, considerado os Estados Unidos com viés ante acordos multilaterais e sem uma própria agenda ambiental”, diz Denilde.

“Dependendo de como for o primeiro ano de Trump, o evento pode ser esvaziado em termos de decisões. Pode vir a ser um encontro bonito, na Amazônia, mas pode ser azedado, a depender das ações ambientais tomadas pelos Estados Unidos e seus aliados. O desafio está em chegar até a COP30 com a possibilidade de uma agenda positiva e viável”, pontua Carrilho.

Na visão da professora da UFRJ, o Brasil tem vocação de liderança na dinâmica internacional. “Somos um país continental, temos a Amazônia majoritariamente situada em território brasileiro, uma biodiversidade singular em termos globais e nos apresentamos como país que pode ser potência global nessa área. E o presidente Lula parece encampar essa proposta e quer liderar iniciativas protagônicas nesse sentido, como a COP30. É uma vitrine para lançar o Brasil nessa posição de liderança.”

Por fim, Mayra pontua a relação do Brasil com a Argentina. “A vitória de Javier Milei é um desafio para o governo brasileiro, uma vez que o argentino é radical e se posiciona de maneira muito agressiva publicamente, destoando da figura de Lula, que é moderado. E esse cenário ganha novos contornos com a vitória de Donald Trump, por ser um representante mais alinhado com o pensamento de Milei”, argumenta.

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