O ultramaratonista brasileiro Alexandre Sartorato, conhecido como o único homem que já deu uma volta ao mundo correndo entre 90 km e 130 km por dia, se prepara para sua segunda jornada ao redor do globo terrestre. Da primeira vez, em 2007, o atleta atravessou 20 países em cinco continentes durante 116 dias, percorrendo 10.300 km.Agora, Sartorato sairá das Pirâmides de Gizé, no Egito, para percorrer aproximadamente entre duas e três maratonas por dia (cada uma tem 42 km), enfrentando temperaturas que variam de -20ºC a 50ºC. O atleta embarca neste domingo (23) com destino ao Cairo, capital do Egito, e, no fim do mês, dará início à jornada. Além do país africano, Sartorato passará por:Segundo o atleta, a ideia é chamar a atenção para causas urgentes, como o combate ao racismo e à miséria. “Não é aceitável que fome, miséria e racismo ainda existam no nosso planeta. Quero usar essa jornada para dar voz a essas causas e sensibilizar o mundo para a urgência de combatê-las”, afirma o ultramaratonista.A ideia de divulgar causas sociais vem de sua própria história. “Quando eu era criança, era comum minha mãe dizer que estava sem fome e não iria jantar, quando na verdade, a comida era pouca e ela deixava de comer para que eu e meu irmão pudéssemos comer”, relata.“Senti na pele o que isso pode fazer com uma família”, acrescenta. A viagem contará com a participação de um médico, que avaliará as reações do corpo humano quando submetido a condições extremas, além do esforço severo que a prova exige. Durante a jornada pelos cinco continentes, o ultramaratonista não usará nenhum tipo de transporte terrestre. Ele só viajará de avião ou barco quando tiver que cruzar oceanos entre países ou continentes.“E quando tiver que pegar um avião, vou correndo até o aeroporto. Não entro em carros ou ônibus a não ser, eventualmente, dentro do aeroporto para ir do terminal até a aeronave, pois não é permitido correr nessas áreas”, conta. Sartorato vem se preparando há cinco anos para a nova jornada. Além dos treinos diários, que envolvem corridas de quatro horas pela manhã e outras quatro horas à noite, o atleta já viajou por diferentes países para criar uma rede de apoio logístico. As viagens também envolvem estudos de rotas, hospedagens, clima, segurança, entre outros aspectos. O ultramaratonista diz que, desde 2020, vem realizando alguns desafios simulados. Ele correu de Cananéia (SP) a Paraty (RJ) em apoio ao Natal Solidário. Também atravessou o litoral de Santa Catarina em apoio aos Médicos Sem Fronteiras e correu 850 km em uma semana na esteira em favor das Aldeias Infantis SOS.Aliás, também na esteira, ele fez 1.000 km em nove dias, com o objetivo de divulgar, diariamente, diferentes iniciativas.E não para: Sartorato conta que desafiou os 5.330 km entre Oiapoque (AP) e Chuí (RS) em 61 dias para divulgar o Movimento Amanhã sem Câncer, do Instituto Nacional de Câncer.Neste novo desafio, uma equipe de cinema acompanhará a trajetória de Sartorato, produzindo um filme sobre os desafios superados. A expedição poderá ser acompanhada pelas redes sociais no perfil oficial de Sartorato: @sartoratoinfinitemarathon.Sartorato começou sua vida nos esportes na infância como jogador de futsal. “Naquela época, não havia substituição no futsal, o que nos obrigava a ter bom preparo físico”, explica. Durante os treinos de Sartorato, o técnico de atletas maratonistas Antônio Sérgio Quitério, conhecido como Índio, o viu correr e percebeu que havia ali um talento para a ultramaratona. Isso porque o jovem atleta se destacava em provas de resistência. Isso fez com que Sartorato passasse a treinar como ultramaratonista.O ultramaratonista conta que, aos 26 anos, era comum correr até seis horas por dia. “Eram duas horas de manhã, duas à tarde e outras duas à noite. Em média, 60 km a 70 km por dia”, contabiliza. O treinador Antônio Sérgio Quitério morreu em decorrência de um câncer. A doença também levou muitos familiares de Sartorato, e isso motivou o atleta a defender a causa do combate ao câncer.Em 2001, ainda no início da carreira, Sartorato se tornou recordista sul-americano de corrida de 24 horas, marca que conquistou no campeonato europeu, realizado em Apeldoorn, na Holanda. Ele conquistou o 1º lugar em sua categoria, e o 6º na colocação geral do torneio.“Estava bem no início da carreira. Poderia ter feito marcas muito melhores se continuasse, mas o meu objetivo sempre foi as distâncias quilométricas”, afirma. Em 2003, o ultramaratonista correu do Oiapoque ao Chuí, cravando mais um recorde: o da travessia do Brasil. “Essa marca continua imbatível até hoje”, garante.Quando chegou ao Chuí, prometeu que até 2005 ele daria a volta ao mundo. No entanto, essa marca teve de ser adiada devido a uma tragédia familiar: a mãe de Sartorato morreu em um acidente. Com isso, o atleta adiou em dois anos seu projeto, que foi realizado em 2007.A carreira de Sartorato teve uma nova pausa quando o atleta passou a se dedicar ao cuidado com o pai, que estava doente. Após a morte do pai, o ultramaratonista só voltou a correr em 2012.Naquele ano, ele se desafiou a correr a maior quilometragem possível na estrada em 30 dias. No entanto, um assalto durante a jornada o fez pensar em desistir. Mas, em 2019, Sartorato começou a se preparar para uma nova volta ao mundo. Agora com mais maturidade e controle emocional, o atleta se diz pronto para o desafio. “A primeira volta ao mundo fiz só com a força do corpo, pois estava definhado psicologicamente”, lembra. “Agora, estou muito bem fisicamente. O controle psicológico que adquiri com a experiência é um grande aliado, sobretudo nesse tipo de prova”, argumenta.