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"Me senti culpada, burra, sem-noção", diz mulher que perdeu R$ 63 mil com golpe do namoro

Vítimas relatam a dor de encontrar o amor da vida e depois descobrir que caíram em golpe

Cidades|Do R7

24/06/2015 - 00h12 (Atualizado em 19/08/2025 - 20h02)

O golpe do amor ou scam romance é uma das variações mais cruéis dos chamados “golpes da Nigéria”, porque resultando em prejuízo financeiro ou não, provoca na vítima danos emocionais muitas vezes difíceis de superar. O R7 relata cinco histórias de pessoas que viveram essa experiência. Algumas ainda tentam lidar com a decepção. Outras transformaram dor em motivação para evitar que os estelionatários façam novas vítimas

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“Perdi 63 mil. Estou sobrevivendo”

Em junho de 2014, a vendedora L., 42 anos, moradora do
interior de São Paulo, conheceu pelo Skype, software que permite conversar pela
internet, um homem que se apresentava como Seth, um soldado norte-americano em
missão no Afeganistão. Os dois se comunicavam em inglês e, na medida em que o
tempo passava, estreitavam laços.

— Tivemos um namoro virtual com palavras, poemas,
declarações de amor, promessas. Foi um sonho que virou um pesadelo. Eu me
deixei levar por tantas histórias. Tudo começou em julho e terminou em
dezembro.

Só quando perdeu R$ 63 mil, L. se deu conta de que havia
sido vítima de um golpe.

— Um dia, ele me enviou um e-mail dizendo que estava me
mandando uma encomenda que continha US$ 3,5 milhões. Disse que tinha que entrar
em contato com um diplomata. Pediu empréstimo para pagar liberação dos
documentos para o embarque da mercadoria. Falou que o tempo dele [no
Afeganistão] terminava em duas semanas e que viria para o Brasil. O dinheiro
que estava enviado era para construirmos uma vida feliz. Pretendíamos nos casar
e ter dois filhos.

Segundo L., o golpista alegava que o valor que supostamente
seria enviado foi obtido por mérito.

— Ele explicou que esse dinheiro não estava com ele, e sim
assegurado por um banco do Exército e que o diplomata tinha como retirar o
valor para me enviar. Então, foram R$ 63 mil para liberar o dinheiro.

Além dos falsos soldado e diplomata, mais um personagem
entrou na história.

— O diplomata foi indicado pelo soldado americano e tinha
como missão vir para o Brasil entregar a encomenda. Porém, abandonou a missão.
Então, apareceu um agente de diplomata. Esse estava no Brasil, no aeroporto de
Guarulhos. Ele pediu dinheiro alegando que a Polícia Federal iria abrir a
encomenda e se isso acontecesse, eu poderia ser presa por lavagem de dinheiro

A vendedora afirma que não desconfiou de nada até perder os
R$ 63 mil, quantia que pegou emprestada com o ex-marido.

— Cai em um golpe, perdi dinheiro, deixei me levar. Agora, o
que mais me chama a atenção é que todos os depósitos foram feitos no Brasil.
Tenho CPF de todos. Fiz um dossiê com todas as informações e entreguei na
delegacia. Até agora, a polícia não me procurou.

Indagada sobre como reagiu ao constatar que foi enganada, L.
diz que tem dificuldade para descrever o que sentiu.

— Eu me senti culpada, burra, sem-noção. Justo eu que um dia
pensei que jamais pudesse cair nessa. Não sei nem o que dizer. Hoje estou
sobrevivendo

A comerciante só descobriu que fora vítima de um golpe ao
ser informada por Crystal e por outras “caçadoras”, mulheres que trabalham
alertando vítimas e combatendo a ação dos scammers.

— A Crystal o rastreou e chegou até mim. Ela me avisou. Em
um só dia, recebi várias mensagens de alerta. Eu chorava muito, dia e noite,
pois o amava. Foi quando me dei conta de que estava sendo usada.

Com os juros do empréstimo, ela teve prejuízo de R$ 5.000.

— Todo mês, quando ia pagar o empréstimo, voltava chorando.
Eu me sentia um lixo ao extremo. Pensei que nunca mais conseguiria me reerguer.

Com o apoio de Crystal e das outras mulheres, A. foi ficando
cada vez mais fortalecida e também se tornou uma “caçadora”. Ela retomou a
vida, teve um relacionamento real, mas ainda assim, não se sente plenamente
recuperada das sequelas deixadas pelo estelionatário.

— Até hoje sinto um vazio imenso. Eu era uma
mulher alegre. Hoje, sou completamente calada, sempre de cabeça baixa

“Caço todos eles”

A auxiliar de escritório D., 54 anos, manteve um
relacionamento virtual com um scammer durante dois meses e meio. O golpista a
abordou no Facebook e disse se chamar Taylor, um militar norte-americano de 52
anos que estava em missão no Afeganistão. O contato entre os dois aconteceu há
dois anos.

Depois de um determinado tempo de “namoro”, vieram os
pedidos de dinheiro, o que deixou D. desconfiada.

— Houve um dia que fui a um parque aquático com meu filho, e
chegando em casa, contei a ele sobre o passeio. Ele foi grosseiro, o que não
costumava ser. E me disse assim: “Você não fez o meu depósito e foi passear”.

A auxiliar então decidiu pesquisar na internet e descobriu
que o perfil do amado era, na verdade, de um golpista.

— Fiz uma pesquisa e encontrei o blog da Crystal. Mandei um
e-mail para ela.

Em um primeiro momento, D. ficou arrasada com a notícia.
Chegou a ter depressão e precisou de medicamentos para se recuperar

“Até hoje não me apaixonei daquele jeito”

Há quatro anos o auditor capixaba W.,32 anos, pensou que
havia encontrado a mulher ideal em um site de relacionamento. Ela era uma bela
russa de 29 anos, inteligente e meiga. Foram quatro meses de
namoro virtual e uma paixão fulminante.

— Até hoje não me
apaixonei daquele jeito. Aquelas “cartas de amor”. Nunca vi uma mulher escrever
daquela maneira. Usava truques psicológicos incríveis.

Mais tarde, o auditor descobriria que aquela mulher
irresistível era, na verdade, uma personagem criada por scammers. A
desconfiança surgiu quando ela pediu US$ 600 com o intuito de completar a
quantia necessária para comprar a passagem com destino ao Brasil.

— Ela falava que não tinha pai nem mãe. Sempre dizia estar
com problemas na família e que queria se mudar para o Brasil e morar comigo. O
papel era de moça carente, com dificuldades financeiras, incompreendida e
esperando por um salvador. Contava que morava em Kazan. Mostrou fotos da cidade
e tudo mais.

Depois do pedido de dinheiro, W. pesquisou o e-mail da amada
e encontrou o blog de Crystal.

— Havia fotos dela no site e cópias dos e-mails
de outra vítima. Eu nem sabia que mundo era aquele. É uma máfia que cresce a
cada dia. Vítima é o que não falta. Este mundo solitário está cheio de solteiro
otário. Para mim, na época, foi a mesma coisa que droga para “noiado”. Estava
carente e aparece uma russa linda falando que mudaria minha história

Com a real história descortinada, o sentimento do auditor foi de “tristeza
e de desilusão”.

— Imagine você amar alguém e essa pessoa, esse sonho ser
destruído? Saber que tudo aquilo foi ilusão?

W. se reergueu e hoje ajuda Crystal a identificar perfis
de golpistas.

— Sempre mostro para ela. Já sabemos identificar os perfis.
A primeira dica que dou é: Nunca dê dinheiro para entrar em emprego ou
relacionamento

O golpe do amor ou scam romance é uma das variações mais cruéis dos chamados “golpes da Nigéria”, porque resultando em prejuízo financeiro ou não, provoca na vítima danos emocionais muitas vezes difíceis de superar. O R7 relata cinco histórias de pesso...

O golpe do amor ou scam romance é uma das variações mais cruéis dos chamados “golpes da Nigéria”, porque resultando em prejuízo financeiro ou não, provoca na vítima danos emocionais muitas vezes difíceis de superar. O R7 relata cinco histórias de pessoas que viveram essa experiência. Algumas ainda tentam lidar com a decepção. Outras transformaram dor em motivação para evitar que os estelionatários façam novas vítimas Experimente grátis: todos os programas da Record na íntegra no R7 Play

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