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Após 'boom' na pandemia, fim do ciclo das reformas freia PIB da construção

Minha Casa, Minha Vida, retomada do PAC e queda dos juros são esperança para o setor, que amargou perdas no terceiro trimestre

Economia|Alexandre Garcia, do R7

Reformas na pandemia ajudaram a construção
Reformas na pandemia ajudaram a construção Reformas na pandemia ajudaram a construção

A evolução do home office durante a pandemia do novo coronavírus teve um papel determinante para a construção civil, com a necessidade de aperfeiçoamento dos lares encarada por muitos brasileiros durante o isolamento social. Com o fim do ciclo de reformas, o movimento é visto como algo decisivo para a retração do setor no terceiro trimestre.

Entre julho e setembro, o PIB (Produto Interno Bruto) da construção encolheu 4,5% ante o mesmo período do ano passado, a primeira baixa em 11 trimestres na base de comparação. Houve também queda de 3,5% em relação aos três meses anteriores, mostram os dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Ana Maria Castelo, coordenadora de projetos da construção do Ibre/FGV (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas), afirma que o movimento negativo tem origem na busca das famílias por pequenas obras e reparos residenciais. “Depois daquele ‘boom’ de reformas observado em 2020 e 2021 em função do home office e da necessidade de adequação das residências pelas questões sanitárias, agora há um movimento contrário”, explica ela.

A economista Ieda Vasconcelos, da CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção), também classifica o fim do ciclo de reparos domésticos como determinante para a recente perda de fôlego do setor, que figura em nível 14% superior ao período pré-pandemia, mas ainda 21% abaixo do pico de atividade, apurado em 2014.

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"Nós tivemos o fim do ciclo de pequenas obras e reformas, que se iniciou com a pandemia, em virtude de as famílias irem para dentro de casa e preferirem aumentar seus espaços e melhorar seus ambientes", analisa Ieda ao observar a desaceleração desde meados do ano passado.

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Outro dado que evidencia a perda de ritmo do setor após a redução do volume de reformas envolve os resultados do comércio de materiais, que teve um ciclo positivo no acumulado de 12 meses entre junho de 2020 e fevereiro de 2022. De lá para cá, a atividade opera no campo negativo e tem queda de 5% até setembro.

"Estávamos ainda na pandemia quando foi iniciado um consumo alto [de materiais para construção], quando você tinha as pessoas em casa, precisando fazer adaptações nas suas residências, muitas vezes com o uso de recursos do Auxílio Brasil para isso", recorda Renato Correia, presidente da CBIC.

Com a tendência de queda, a CBIC projeta uma contração de 0,5% da construção civil neste ano. Para o ano que vem, a expectativa é positiva e dá sinais de um crescimento de 1,3% do setor. Mais otimista, o Sinduscon-SP (Sindicato da Construção Civil do Estado de São Paulo), estima avanços de 1,2% e 2,9%, respectivamente.

Luzes no fim do túnel

Para os próximos períodos, os especialistas apostam no maior crescimento da construção, apoiado no ritmo de quedas da taxa básica de juros, no Programa Minha Casa, Minha Vida e na reformulação do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento).

“O setor, fundamental para o país ser competitivo, vem sofrendo muito com a taxa de juros, e nós precisamos reverter isso”, diz Correia. “A construção desacelerou e frustrou nossas expectativas e mostra o estrago que os juros elevados foram capazes de trazer para o nosso nível de atividade”, complementa Ieda Vasconcelos.

Ana Maria Castelo, no entanto, avalia que a produção de obras ainda reflete o ciclo passado, quando a taxa básica de juros atingiu o menor nível da história, de 2% ao ano. "Essas vendas realizadas de 2020 até meados de 2022, quando as condições estavam melhores, se traduziram em obras", diz ela.

Luiz França, presidente da Abrainc (Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias), destaca a importância da queda dos juros para alterar o movimento de diminuição dos lançamentos de imóveis de médio e alto padrão. "Serão necessárias novas reduções na taxa Selic e nos juros do financiamento habitacional para corrigir essa situação", defende.

Minha Casa, Minha Vida

MCMV passou a financiar imóveis para famílias com renda de até R$ 8.000
MCMV passou a financiar imóveis para famílias com renda de até R$ 8.000 MCMV passou a financiar imóveis para famílias com renda de até R$ 8.000

Outro alento para a construção surge do mercado de habitação popular, com a reformulação do programa Minha Casa, Minha Vida anunciada no último mês de julho. “A perspectiva é que a habitação popular vai puxar novamente a atividade da construção no próximo ano”, estima Ana Maria, do Ibre.

Das 64,54 mil novas unidades colocadas no mercado nos primeiros nove meses de 2023, 29,65 mil (46% do total) foram do programa habitacional do governo, segundo a CBIC. Ainda assim, Ieda ressalta que a demora para a definição das novas condições do programa impediu uma recuperação maior do setor. "Esperávamos que as novas condições fossem apresentadas no início do ano", lamenta.

A Abrainc também cita, no último balanço apresentado, o fato de que o Minha Casa, Minha Vida continua com um papel fundamental no crescimento da construção, com uma alta de 27,8% no valor das vendas e de 77,4% no volume de lançamentos entre janeiro e agosto.

Com as mudanças, a Faixa 3 do programa habitacional passa a beneficiar famílias com renda mensal de até R$ 8.000. O grupo pode usufruir taxas de juros abaixo das praticadas no mercado, entre 7,16% e 7,66% ao ano, e de um prazo de 35 anos para o pagamento.

Volta do PAC

O retorno do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), já anunciado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com a previsão de investimentos de R$ 1,7 trilhão para a realização de obras em todos os estados do Brasil até 2026, também enche de esperança o setor da construção.

De acordo com Ana Maria Castelo, a reformulação do projeto de infraestrutura auxilia nas projeções mais otimistas apresentadas para o setor nos próximos meses. "A reedição do PAC traz elementos importantes para incorporar a iniciativa privada e retomar o andamento de obras paradas", observa.

"Como a condução do PAC envolve recursos públicos, nós sabemos que tudo está condicionado à questão fiscal, que traz incertezas e pode contaminar o início dos novos projetos", diz Ana, que também ressalta a importância da definição de bons projetos com condição de serem concluídos. 

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