Com desaceleração, concessões de crédito caem 9,5% em fevereiro
Dados divulgados pelo Banco Central mostram que o estoque total de crédito recuou 0,1% no mês, a R$ 5,319 trilhões
Economia|Do R7
As concessões de empréstimos no Brasil tiveram queda de 9,5% em fevereiro na comparação com o mês anterior, informou o BC (Banco Central) nesta quarta-feira (29). O estoque total de crédito recuou 0,1% no período, a R$ 5,319 trilhões, dando sequência a uma tendência de desaceleração.
No mês, os financiamentos com recursos livres, nos quais as condições dos empréstimos são livremente negociadas entre bancos e tomadores, tiveram queda de 9,6% em relação a janeiro. Já as operações com recursos direcionados, que atendem a parâmetros estabelecidos pelo governo, registraram retração de 8,6% no período.
Fernando Rocha, chefe do Departamento de Estatísticas do BC, afirma que um processo de desaceleração do crédito está em curso desde meados do ano passado, quando a maioria das modalidades do setor atingiu seu pico.
"No segundo semestre do ano passado também foi o momento em que houve uma desaceleração da própria atividade econômica como um todo no país, então acho que [esse é] um fator por trás do comportamento de crédito", disse, em entrevista coletiva, acrescentando que o ciclo de aperto monetário também contribui para a desaceleração do crédito.
A principal causa desse aperto é a manutenção da taxa Selic, a taxa básica de juros da economia, em 13,75%, depois de o BC promover um longo e intenso processo de aumento dos juros, que foram tirados do menor patamar histórico, de 2%. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem criticado as condições monetárias, argumentando que a Selic alta pode desencadear uma crise de crédito.
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Para Rocha, a crise da varejista Americanas, que despertou preocupações sobre 'contágio' do setor de crédito doméstico mais amplo, teve "impacto muito pontual", ficando mais limitada aos setores de crédito de desconto, ofuscada pelo cenário macroeconômico de desaceleração da atividade.
Quanto ao impacto dos temores globais sobre o crédito, na esteira da crise de bancos no exterior, o especialista do BC diz que irá atualizar suas projeções sobre o segmento em seu RTI (Relatório Trimestral de Inflação), a ser divulgado na quinta-feira (30).
No mês passado, a inadimplência no segmento de recursos livres ficou em 4,5%, repetindo a taxa do mês anterior. Os juros cobrados pelas instituições financeiras no crédito livre ficaram em 44,2%, um aumento de 0,7 ponto percentual em relação ao mês anterior. Por outro lado, nos recursos direcionados, houve recuo de 0,8 ponto no mês, a 11,0%.
O spread bancário, diferença entre o custo de captação dos bancos e a taxa final cobrada do cliente, aumentou para 31,6 pontos percentuais nos recursos livres, contra 30,6 pontos no mês anterior.