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Funcionários da Americanas têm futuro incerto, e sindicatos querem apoio do governo na crise

Comunicado da empresa menciona reestruturação; ministro do Trabalho diz que a crise preocupa a área econômica do governo 

Economia|Do R7, com agências

Unidade das Lojas Americanas no centro de São Paulo
Unidade das Lojas Americanas no centro de São Paulo Unidade das Lojas Americanas no centro de São Paulo

As maiores centrais sindicais do país divulgaram um comunicado conjunto nesta segunda-feira (30) em que defendem a participação direta do Ministério do Trabalho no processo de recuperação judicial da Americanas. Na quarta (25), seis centrais e duas confederações sindicais entraram na Justiça com um pedido de bloqueio de bens dos três principais acionistas da companhia, os bilionários Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira e Marcel Telles. 

Em reunião com os sindicatos, o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, disse que "aparentemente, pode ter havido irresponsabilidade empresarial" na crise. Ele afirmou que "é fundamental conseguir preservar a continuidade da atividade econômica das Lojas Americanas, independentemente de quem seja seu controlador".

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A varejista é uma das maiores empregadoras do Brasil, com cerca de 45 mil funcionários, divididos entre os mais de 1.800 pontos de vendas espalhados pelo país, os escritórios e toda a estrutura do comércio online.

Desde que a empresa divulgou "inconsistências" de R$ 20 bilhões em seus balanços, em 11 de janeiro, os trabalhadores vivem um misto de desconfiança e negação da realidade. Continuam a cumprir sua rotina normalmente, recebendo seus salários, mas, por precaução, alguns já começaram a se movimentar — estão com o currículo atualizado, a caminho de outras empresas do setor. 

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A Americanas, em um comunicado interno enviado a todos os trabalhadores logo depois que a Justiça do Rio aceitou o pedido de recuperação judicial, no dia 19, disse que a rede não vai falir. A companhia explicou aos colaboradores que "a recuperação judicial é justamente uma forma de empresas viáveis economicamente seguirem com suas operações, com seu caixa preservado e negociando com seus credores".

Quanto às possíveis demissões, foi dito que, neste momento, a Americanas está focada na manutenção das operações. Porém, "um plano estratégico de otimização dos recursos está em andamento, para que decisões que garantam a sustentabilidade da companhia tenham efeitos em curto prazo". Finalmente, a empresa admitiu que, "em processos como esse, é comum que haja reestruturação".

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Para as lideranças sindicais, esse é o ponto crucial. Ricardo Patah, presidente do SecSP (Sindicato dos Comerciários de São Paulo) e da UGT (União Geral dos Trabalhadores), avalia que nas entrelinhas está escrito que pode haver demissões.

"A empresa não responde claramente se as demissões vão ocorrer, mas quem tem experiência sabe que a reestruturação, citada na última frase, é isso."

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As centrais sindicais querem preservar os empregos na varejista, além dos "centenas de milhares" na rede de fornecedores. Por isso, oito entidades, incluindo a CUT (Central Única dos Trabalhadores), a Força Sindical e a UGT, assinaram o pedido, que foi apresentado nesta segunda ao ministro. 

"Por esses motivos, as centrais solicitaram ao Ministro do Trabalho e Emprego que o governo participe diretamente do processo, com o objetivo de estabelecer diálogo tripartite e total transparência, neste que é um dos maiores processos de recuperação empresarial do país", diz o documento.

Marinho disse que se reuniu com as centrais sindicais para ouvir as demandas dos trabalhadores e afirmou que o governo "não tem uma saída para apresentar a vocês [trabalhadores], mas queremos pensar juntos com vocês".

'Aves de rapina'

Marinho comentou que a crise da Americanas "também preocupa a área econômica do governo" e que "os problemas dos bancos não podem ser maiores que os problemas relacionados a trabalho e emprego, com milhares de pessoas e famílias que podem ser atingidos por esse impacto", disse.

"É preciso encontrar como responsabilizar os acionistas, que devem ter aprontado para dar esse rombo", declarou o ministro. Ele disse esperar que os problemas estejam limitados à varejista, e não ao setor como um todo.

"Parece que é uma questão isolada das Lojas Americanas, que devem ter tido alguma 'ave de rapina' que encontrou uma brecha para aprontar e para ficar mais bilionária do que já era", falou. Marinho disse, ainda, que os órgãos fiscalizadores, como a CVM [Comissão de Valores Mobiliários], deverão observar se não houve fraude.

Bloqueio bilionário

A ação civil pública ajuizada pelos sindicalistas na 8ª Vara do Trabalho de Brasília, na última quarta-feira (25), pede à Justiça o bloqueio de R$ 1,53 bilhão da conta pessoal de Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira e Marcel Telles, os principais acionistas da Americanas.

O argumento usado foi a necessidade de garantir que as 17 mil ações trabalhistas contra a varejista que já estão em curso sejam pagas.

O pedido de liminar foi assinado, além da UGT, por CUT, CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil), Força Sindical, CSB (Central dos Sindicatos Brasileiros), NCST (Nova Central Sindical de Trabalhadores), Contracs-CUT (Confederação dos Trabalhadores no Comércio e Serviços) e CNTC (Confederação Nacional dos Trabalhadores no Comércio). Até o momento da publicação desta reportagem, a Justiça não havia se pronunciado sobre o pedido.

De acordo com Patah, apesar de a ação civil pública ser voltada para a garantia dos processos em curso, "a intenção é conseguir sensibilizar o juiz, para que os acionistas injetem os recursos necessários para cobrir a recuperação judicial".

Procurada, a Americanas informou, por meio de sua assessoria, que "ainda não foi notificada formalmente da ação e que se manifestará a seu respeito nos autos do processo, dentro dos prazos legais fixados".

As centrais convocaram um ato para sexta-feira (3), no Rio de Janeiro, com o objetivo de chamar atenção para a situação dos trabalhadores da rede varejista, que acumula mais de R$ 40 bilhões em dívidas.

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