Toquinho fala sobre o novo álbum, amizades com estrelas da música, caso Cuca e paixão pelo Corinthians
Amigo de todos na MPB, cantor e compositor revela detalhes das novas versões de seus clássicos, regravados com convidados de peso, e revela episódios saborosos vividos com famosos da música
Entrevista|Eduardo Marini, do R7
O cantor, compositor, produtor, arranjador e violonista Antonio Pecci Filho, o Toquinho, acaba de lançar a versão deluxe de seu mais novo projeto: o álbum digital Novas Cores, Eternas Canções.
O nome não poderia ser mais apropriado. Vários clássicos do artista, criados na solidão ou com parceiros do quilate do poeta Vinicius de Moraes, do cantor e compositor Jorge Benjor e do baterista e produtor Mutinho, estão entre as faixas selecionadas.
A edição estendida do álbum traz dez versões inéditas mais do que a primeira. Em 12 das 18 músicas, Toquinho divide os vocais com convidados ilustres. Aquarela, sucesso mundial, o maior da carreira do artista, é repaginada ao lado de Carlinhos Brown. Com essa música, Toquinho se tornou o primeiro brasileiro a receber um disco de ouro na Itália.
Sandy divide com ele outra explosão popular: a doce O Caderno; Caetano Veloso, Tarde em Itapuã; Mart’nália, Regra Três; Camilla Faustino, Tonga da Mironga do Kabuletê; Giulia Be, O Velho e a Flor. E por aí vai. O lançamento, apenas em streaming e nas redes sociais, tem ação da agência Atabaque em parceria com o selo Músicas do Brasil, da Hurst Capital.
Nesta conversa com o R7 ENTREVISTA, Toquinho revela detalhes do álbum e faz jus à fama de estrela mais admirada por outras estrelas da música brasileira, o artista mais querido pelos colegas famosos de profissão.
E também a de excelente contador de histórias. Desfila um punhado de episódios saborosos que envolvem de Dorival Caymmi a Belchior e Rita Lee, passando por seu eterno parceiro Vinicius de Moraes, Chico Buarque, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Jorge Benjor, Paulinho da Viola, Rita Lee... Todos, claro, amigos queridos.
De quebra, explica como criou, em 1982, o segundo hino de seu Timão amado, a música Corinthians do Meu Coração, a pedido da Democracia Corintiana, dispara comentários sobre a fase atual da equipe e opina sobre a passagem-relâmpago do técnico Cuca pelo comando do time. Bola na rede, gol de placa ou música fina para bons ouvidos. Como queiram. Acompanhe:
A versão deluxe do álbum Novas Cores, Eternas Canções traz uma coleção de clássicos de sua carreira que marcaram época. Como foi o processo de produção?
Toquinho – O álbum foi feito de maneira intuitiva, seguindo um caminho que, no início, não sabia onde ia dar. Comecei a gravar as bases apenas com o violão e o metrônomo, aquele aparelho que marca o andamento, imaginando arranjos. Sozinho, no estúdio, na solidão criativa. Depois fui orientado a procurar o Bruno Estevez Santos, grande produtor, baterista e percussionista, que cuidou dos arranjos de complementos percussivos, mixagem e masterização. Ainda não tem a versão física, e acredito que nem terá. A digital cumpre o objetivo do projeto, que é apresentar arranjos novos para canções consagradas e disponibilizar o álbum nas plataformas de streaming e redes sociais.
Cada convidado foi chamado por ter identidade com determinada canção do álbum. Depois das vozes prontas%2C o percussionista e produtor Bruno Estevez coloriu cada música à sua maneira%2C a partir de arranjos gerais concebidos por mim%2C e o álbum tomou a forma final%2C com 18 das 21 músicas inicialmente selecionadas
Você recrutou uma legítima constelação, de Caetano Veloso e Carlinhos Brown a Sandy e Mart’nália, passando por Clara Buarque, Giulia Be e Camila Faustino, entre outros. Deve ter sido difícil...
Nós dois, Estevez e eu, seguimos no escuro [risos]. Cada convidado foi chamado por ter identidade com determinada canção. Depois das vozes prontas, Estevez coloriu cada música à sua maneira, a partir de arranjos gerais concebidos por mim, e o álbum tomou a forma final, com 18 das 21 músicas inicialmente selecionadas.
Pensa em fazer temporada de shows específica para esse álbum?
No momento não há essa ideia. Seria muito complicado. Minha agenda, sozinha, já é complicada. Agora imagine juntar pelo menos alguns desses artistas, cada um com sua agenda e seus compromissos? Seria tarefa quase impossível. Talvez venhamos a fazer algumas coisas em televisão e outras mídias, pontuais, com alguns dos convidados, mas ainda não há ideia de uma programação de show ligada ao álbum.
Sua obra é toda bem-aceita, mas duas canções em particular, presentes neste álbum, explodiram no Brasil e no mundo: O Caderno, apresentada pela primeira vez em 1983 por seu amigo Chico Buarque, e Aquarela, o maior sucesso de sua carreira. Fale sobre elas.
Você lembrou de duas canções com carisma especial, né? Por incrível que pareça a coincidência, ambas remetem a dois mundos: o infantil e o adulto. As crianças percebem os elementos lúdicos e os adultos se emocionam, na certa recordando momentos passados de suas vidas. Fazem muito sucesso em todo lugar em que eu canto. As pessoas se emocionam de maneira geral, inclusive nos shows noturnos, com presença quase total de adultos. Aquarela é lembrada até hoje nas festas de colégio de várias gerações. Essas músicas ficam na vida das pessoas, dos filhos e até dos netos, por enquanto. É difícil explicar. Concebemos essas canções como as outras. Em O Caderno, é ele quem conversa com uma menina. Imagine o poder de identificação com adultos e crianças que fizeram diários, escreveram confissões. Aquarela fala da vida de uma forma até fatalista, mas lúdica.
Tive parceiros italianos em 'Aquarela'%2C o Guido Moura e o Maurizio Fabrizio. Vinicius de Moraes é parceiro póstumo. A melodia da primeira parte foi retirada por mim%2C após a morte dele%2C de uma canção que fizemos juntos. 'O Caderno' eu fiz com meu querido Mutinho%2C excelente baterista e melodista%2C sobrinho do gigantesco compositor Lupicínio Rodrigues e meu parceiro em várias músicas%2C entre elas 'Escravo da Alegria'%2C 'Turbilhão' e 'A Bicicleta'
Como foram as parcerias nessas duas músicas?
Tive parceiros italianos em Aquarela, o Guido Moura e o Maurizio Fabrizio. Vinicius de Moraes é parceiro póstumo. A melodia da primeira parte foi retirada por mim, após a morte dele, de uma canção que fizemos juntos. O Caderno eu fiz com meu querido Mutinho, excelente baterista e melodista, sobrinho do gigantesco compositor Lupicínio Rodrigues e meu parceiro em várias músicas, entre elas Escravo da Alegria, Turbilhão e A Bicicleta.
Você citou Vinicius de Moraes e Mutinho, os dois maiores parceiros, em volume, na sua trajetória...
O que posso falar sobre o talento, a genialidade e a generosidade do Vinicius que ainda não se sabe? Ele viveu de forma muito exposta, não só na poesia, mas também no lado humano. Se jogou na vida sem esconder os atalhos percorridos. Sempre deixou tudo muito claro em termos de valores e conduta. Foi meu grande parceiro. Tive o grande privilégio de conviver com ele nos momentos principais da minha existência, cristalizando valores dos 22 aos 33 anos. Ele me deu um alicerce humano imenso, poder de criação e certa familiaridade com as palavras. Aprendi muito vendo-o buscar as palavras precisas, perfeitas, para cada trecho de cada melodia.
Mutinho?
É um melodista de talento raro, compositor de ideias lindas. Fizemos várias melodias juntos. Na maioria dos casos, coloquei a letra depois. Vinicius era mais letrista, poeta. Graças a Deus tenho um poder de adequação grande para trabalhar com esses diferentes talentos. Os estudos harmônicos que tive, por causa do violão, me deram essa versatilidade.
Relembre o que talvez tenha sido o único caso de “roubo” protagonizado por você: o da letra da canção Tarde em Itapuã, clássico seu e do Vinicius, por sinal em mais uma — e bela — regravação neste álbum recente, desta vez ao lado de Caetano Veloso.
(Risos) Isso é superverdadeiro. O Vinicius escreveu o poema na casa que alugava na praia de Itapuã, em Salvador, na Bahia. Estava lá com ele. Eu era jovem, tinha de 22 para 23 anos. Parceiro novo: havíamos feito apenas umas duas canções àquela altura. De repente, vi aquele poema lindo na máquina de escrever Olivetti dele. Perfeito: três estrofes e um refrão lindo no meio. Animado, me ofereci para musicar. Ele foi irônico, mas taxativo: “Não. Vou passar para o Dorival Caymmi. Você é muito jovem para isso”. Precisei ir a São Paulo e não perdi tempo: roubei, literalmente, o poema da máquina, fiquei dois dias tentando achar a composição, mas consegui e voltei. Ele estava em polvorosa tentando achar o papel com a letra ou refazer o poema de cabeça.
Estava na casa do Vinicius%2C em Salvador. Vi aquele poema lindo na máquina de escrever. Três estrofes e um refrão perfeito. Era a letra de 'Tarde em Itapuã'. Ofereci-me para musicar. Ele foi taxativo%3A “Não. Vou passar para o Dorival. Você é muito jovem”. Precisei ir a São Paulo. Não perdi tempo%3A roubei o poema%2C fiz a melodia em dois dias e voltei. Vinicius estava em polvorosa à procura da letra%2C tentando refazer o poema de memória. Contei a verdade e entreguei a fita. Ele ouviu a música várias vezes%2C por uns 40 minutos%2C chamou-me e disse%3A "Vai ficar assim". Imagino ter conquistado ali a confiança musical do poeta
E então?
Contei a ele a verdade, admiti minha falha e ousadia e mostrei a melodia. Depois de uns 40 minutos ouvindo a música e voltando o gravador, ele me chamou e disse: “Vai ficar assim mesmo, não vou mais mandar a letra para o Caymmi”. Imagino ter conquistado ali a confiança musical do poeta. Sem falsa modéstia, penso que ela ficou muito boa, caminhou bem e, ao que parece, ficará na história da MPB.
Caminhávamos eu%2C Dorival Caymmi e o jornalista Tarso de Castro para meu carro%2C no Rio. Tarso perguntou a Dorival%3A “Qual foi o maior tempo gasto por você para fazer uma canção%3F”. Dorival o olhou com a calma habitual%2C esperou alguns segundos e mandou%3A “Tarso de Castro%2C uns 12 anos”. Justificou explicando que foi o tempo levado entre a composição da primeira e a da segunda parte de 'João Valentão'%2C um de seus clássicos. Corre em setores da Bahia a brincadeira carinhosa de que lá existem três categorias de tempo%3A lento%2C lentíssimo e Dorival Caymmi
Você é a grande figura da MPB mais admirada por outras grandes figuras. O amigo de todos. Teve e tem a amizade e o carinho de praticamente todos os grandes astros mais velhos e de boa parte das revelações da música brasileira. Além disso, sua fama de bom contador de histórias é conhecida. Vamos, então, a algumas. Comecemos por Dorival Caymmi. Como foi mesmo o episódio do tempo que ele gastava para compor uma música?
(Risos) Essa é boa. Em meados da década de 1970, fui com o querido Dorival ao Canecão, no Rio, em um show lindo da Maria Bethânia e do Chico Buarque que fez sucesso durante meses no país, e gerou um belíssimo disco ao vivo. Na saída, Dorival, eu e o jornalista Tarso de Castro fomos caminhando até meu carro para irmos jantar. No meio da caminhada, Tarso perguntou a Dorival: “Qual foi o maior tempo gasto por você para fazer uma canção?”. Dorival o olhou com a calma habitual e mandou: “Tarso de Castro, uns 12 anos”. Justificou explicando que foi o tempo levado entre a composição da primeira e a da segunda parte de João Valentão, um de seus clássicos. Uma brincadeira carinhosa dá conta de que há três categorias de tempo na amada Bahia: lento, lentíssimo e Dorival Caymmi.
Elis morou em casa por uns tempos ao chegar de Porto Alegre. Tentei de tudo para namorá-la%2C mas%2C infelizmente%2C não deu. Ela era uma gracinha%2C aquela gauchinha cantando pra burro%2C e eu garoto ingênuo. Imagine as minhas fantasias... Tentei%2C tentei. Ela me deu um exemplar do livro 'O Pequeno Príncipe' com a dedicatória%3A “Você é responsável por aquilo que cativas”. Quem eu poderia imaginar que tivesse cativado o coração dela%3F Eu%2C claro... Só que não. Primeira frustração amorosa da minha vida. Com dona Elis Regina. Ainda bem que era garoto e me refiz (risos)
Elis Regina. Ela morou na casa em que você vivia com seus pais, em São Paulo, nos primeiros meses após chegar de Porto Alegre. É verdade que vocês namoraram?
Tentei de tudo, mas, infelizmente, não [risos]. Ela era uma gracinha, né? Aquela gauchinha cantando pra burro, uma explosão de musicalidade, e eu ali, garoto ingênuo... Fiquei animadíssimo com a presença dela em minha casa. Imagine as fantasias que eu tinha. Tentei, tentei. Ela deu-me de presente um exemplar do livro O Pequeno Príncipe, clássico de Antoine de Saint-Exupéry, com a dedicatória: “Você é responsável por aquilo que cativas”. Quem eu poderia imaginar que tivesse cativado o coração dela? Achei que era eu, claro... Só que não. Primeira frustração amorosa da minha vida. Com dona Elis Regina. Ainda bem que era garoto e me refiz [risos].
Paulinho da Viola. Além de amigos há décadas, vocês são apaixonados por sinuca. Disputaram muitas partidas. Quem joga melhor?
Meu Deus do céu... Somos amigos há mais de 50 anos. Fizemos shows juntos. Agora, tem uma coisa: o Paulinho precisa me ganhar na sinuca porque jamais me ganhou (risos).
Paulinho da Viola jamais me ganhou na sinuca. Uma vez ele e eu fomos para a final de um torneio%2C na Rede Bandeirantes%2C com prêmio de 2.000 dólares. Ele veio com fama do 'carioca excelente jogador de sinuca'. Mas perdeu solenemente. Ganhei o jogo%2C o prêmio e ele nada. Então%2C é melhor nem comentar. No futebol%2C nem se fala. Ele foi um jogador modesto. Joguei mais bola do que ele. Mas%2C na música%2C aí é outro papo%3A ele é único%2C espetacular. Não há%2C nem haverá%2C sambista com a categoria e a grandeza do meu querido irmão Paulinho da Viola
Sério?
Verdade. Uma vez ele e eu fomos para a final de um torneio, na Rede Bandeirantes, com prêmio de 2.000 dólares. Ele veio com a fama do “carioca excelente jogador de sinuca” e tal. Mas perdeu solenemente. Ganhei o jogo, o prêmio e ele, nada. Então, nesse negócio de sinuca, é melhor nem comentar. No futebol, nem se fala. Paulinho da Viola foi um modesto jogador. Fui superior a ele também na bola. Mas na música, aí é outro papo: ele é único. Não há nem haverá sambista com a categoria e a grandeza do meu querido irmão Paulinho da Viola [risos].
As histórias continuam. Jorge Ben Jor. O primeiro grande sucesso de sua carreira, Que Maravilha, é uma parceria com ele lançada por você em 1970 e gravada por ele dois anos depois...
Jorge é uma estrela de grandeza solitária. É absolutamente único no que faz. Poucos foram tão imitados e copiados na história da música no Brasil e mesmo no mundo. Tive a honra e o prazer de desfrutar o universo musical do Jorge. Precisei me adequar àquela linguagem única, original, e fizemos canções. Que Maravilha está aí, tocando em tudo quanto é lugar até hoje, não é mesmo? Uma honra. Fizemos ainda Zana, que fez parte de um musical com o Gianfrancesco Guarnieri, Carolina Carol Bela e uma outra, em homenagem à lenda do boxe Cassius Kley, o Muhammad Ali, gravada pelo Jorge. Recentemente terminamos a quinta parceria, ainda não gravada. Falar do meu amigo Jorge é só tecer elogios. Existe uma África inteira na sua mão direita quando ele pega o violão.
Caetano e Gilberto Gil.
Você está me fazendo mergulhar no tempo. Conheci os dois há mais de 50 anos. Gil tinha um programa do qual participei durante meses. Cheguei a tocar em uma banda do Gil antes de ir trabalhar com o Chico Buarque. E Caetano sempre brincalhão, carinhoso. Escreveu sobre mim em seu livro Verdade Tropical de uma maneira muito criativa, inteligente. Sempre generoso diante dos meus pedidos, inclusive o mais recente, para cantar Tarde em Itapuã comigo neste álbum, o que ele fez, como de hábito, maravilhosamente. Eu, ele, Gil, Djavan, Martinho da Vila, Ivan Lins... Todos nós nos conhecemos ainda cheirando a fralda, mas com muita vontade de mostrar nosso potencial.
Agora dois que não estão mais entre nós: Rita Lee e Belchior.
Conheci a Rita ainda na época dos Mutantes. Não é decisiva apenas para a música. Será reconhecida como uma das mulheres mais importantes da história do país. De Belchior também fui muito amigo. Fizemos umas oito canções juntos, talvez mais. Gravei um disco com boa parte delas. Ele vivia na casa em que morei com o Vinicius. Dava canjas em shows do Fagner e também nos nossos. Testemunhei seu crescimento com muita satisfação. Grande poeta.
Se contiuarmos a falar sobre seus amigos, talvez a entrevista não acabe. E o seu Corinthians, vai sofrer ou se recuperar com Vanderlei Luxemburgo?
Estamos apertados na Libertadores e o Brasileirão é muito difícil, equilibrado, perigoso. O Brasileirão pegou o Corinthians um pouco desprevenido, com carências no elenco e mudanças de técnico. Luxemburgo conhece futebol. É de vestiário. Foi jogador e já treinou o time. Tem todas as condições de colocar alguma ordem na atual balbúrdia corintiana. Contra o Flamengo, jogou muito melhor. O resultado foi injusto. Eles comemoraram o gol do zagueiro Leo Pereira, que estava machucado, como se fosse título. Vamos dar a volta por cima — mas precisamos de reforços com urgência.
Em 1982%2C chamado pela Democracia Corintiana%2C compus 'Corinthians do Meu Coração'%2C que acabou por ser conhecida como segundo hino do meu Timão. O movimento surgiu com Adilson Monteiro%2C pai do atual presidente do clube%2C Sócrates%2C Casagrande%2C Palhinha%2C Wladimir e outros%2C numa época em que era crime e pecado falar sobre democracia neste país. O hino saiu com a atmosfera de um time vencedor%2C pioneiro e democrata. Me orgulho muito da música
Como é a história de sua música Corinthians do Meu Coração, conhecida como o segundo hino do Timão?
Em 1982, fui chamado pela Democracia Corintiana para compor esse hino. O movimento surgiu com Adilson Monteiro, pai do atual presidente do clube, Sócrates, Casagrande, Palhinha, Wladimir e outros, numa época que era pecado falar sobre democracia neste país. O hino saiu com a atmosfera de um time vencedor, pioneiro e democrata. Me orgulho muito da música.
Você demitiria o técnico Cuca após as cobranças que ele recebeu, pelo episódio do estupro de uma menor na Suíça, ou impediria a sua saída?
O caso é muito complicado, com várias culpas. Não vou julgar o certo nem o errado, mas penso que as pessoas precisam pagar pelo que fazem. Só acho que, historicamente, a imprensa, ou parte dela, se comportou de maneira estranha. Por quantos anos — até décadas — Cuca trabalhou em vários clubes, como jogador e técnico, e esteve em evidência, dando entrevistas e até trabalhando em emissoras, sem que o problema fosse levantado, não é mesmo? Para ser sincero, eu, que acompanho futebol, não sabia dessa história. Mas o fato de a imprensa ter errado, e talvez exagerado agora, não é sinônimo de perdão automático. Mas ele tinha de avaliar se deveria assumir a coisa e se retratar, não sou eu quem vai dizer o que deve ser feito por ele. O caso foi prescrito na Justiça suíça. Ele decidiu reabrir porque acredita que pode provar sua inocência. Não sou a favor de aniquilar os caminhos profissionais, mas que ele reflita e encontre a melhor solução. O que posso dizer é que a coisa explodiu justamente no meu Corinthians, e isso nos prejudicou bastante.
O que você curte fazer quando não está trabalhando?
Sou uma pessoa comum, de hábitos simples. Gosto de futebol e sinuca, como falamos, de sair para jantar, de um bom descanso e de... tocar violão. Não tem jeito mesmo [risos].
Muito obrigado.
O agradecimento é meu.