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Aos 80, nascidos no campo de concentração de Dachau se abraçam após 8 décadas da libertação dos nazistas

Mais de 40 mil pessoas morreram no local entre 1933 e 1945

Internacional|Do R7

Leslie Rosenthal e George Legmann se reencontram em Dachau, na Alemanha André Basbaum

O memorial de Dachau, localizado ao norte de Munique, na Alemanha, marcou, no último dia 29 de abril, o 80º aniversário da libertação do campo de concentração nazista instalado no local.

Para celebrar a ocasião, uma placa foi dedicada à 45ª Divisão de Infantaria do Exército dos Estados Unidos, que encontrou mais de 30 mil prisioneiros vivos ao chegar ao campo em 1945.

A programação oficial incluiu diversos dias de cerimônias memorialistas, com homenagens às vítimas e celebrações organizadas por comunidades judaicas, protestantes, católicas, ortodoxas gregas e russas.

Estima-se que o local manteve mais de 200 mil prisioneiros — mais de 40 mil foram mortos entre 1933 e 1945, vítimas de assassinatos, fome e doenças.


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Entre os poucos sobreviventes presentes, Leslie Rosenthal, de 80 anos, nascido no campo pouco antes da libertação, destacou a urgência de preservar a memória enquanto ainda há testemunhas vivas.


“Estamos nos tornando os últimos elos vivos com o Holocausto”, disse ele. A cerimônia em Dachau, assim, foi não apenas um tributo ao passado, mas um alerta sobre os riscos do presente.

Rosenthal foi amamentado pela mãe de George Legmann, também de 80 anos, nos primeiros meses de vida. Legmann foi outro presente na cerimônia. Os dois se consideram “irmãos de leite”.



Lockered Gahs, de 100 anos, soldado americano da 42ª Divisão de Infantaria, participou da libertação do campo em 1945. Ele relatou o impacto devastador da cena ao entrar no local, encontrando prisioneiros em estado de extrema desnutrição e cadáveres empilhados em vagões.

“Foi só ali que entendemos realmente pelo que estávamos lutando”, afirmou.

O sobrevivente francês Jean Lafaurie, de 101 anos, também discursou, relembrando a brutalidade dos guardas nazistas.

Já Mario Candotto, de 98 anos, da Itália, perdeu quase toda a família no Holocausto e se disse preocupado com o crescimento do nacionalismo e discursos armamentistas na Europa atual: “As pessoas não aprenderam nada?”, questionou.

A diretora do Memorial de Dachau, Gabriele Hammermann, afirmou que o local funciona como um “sismógrafo” das tensões políticas contemporâneas. Ela destacou que o clima atual é de instabilidade e que isso se reflete na forma como os alemães lidam com sua própria história.

História do campo

Fundado em março de 1933 nas instalações de uma antiga fábrica de pólvora, Dachau foi o primeiro campo de concentração do regime nazista e permaneceu em operação durante toda a era do Terceiro Reich.

Ao longo do Holocausto, tornou-se modelo para outros campos, sendo parte do sistema de extermínio que matou mais de 6 milhões de judeus.

Don Greenbaum, soldado norte-americano entrevistado pela revista alemã Der Spiegel, relatou o choque ao visitar o campo após a libertação. Acompanhado por um ministro francês, ele viu metralhadoras posicionadas pelos soldados da SS, câmaras de gás, o crematório e malas e roupas empilhadas pertencentes às vítimas.

No último dia 29 de abril, Dachau relembrou o 80º aniversário da libertação do campo de concentração nazista KZ-Gedenkstätte Dachau

Greenbaum descreveu ainda o odor insuportável do local e afirmou que, mesmo com o fim da guerra poucos dias depois, Dachau jamais sairia de sua memória. Seu testemunho ajuda a ilustrar o impacto psicológico da cena para os libertadores e reforça a importância da preservação da memória histórica.

Após a Segunda Guerra Mundial, Dachau teve diferentes usos. Inicialmente, serviu como centro de detenção para soldados da SS que aguardavam julgamento por crimes de guerra. Depois, entre 1948 e 1960, abrigou alemães étnicos expulsos da Europa Oriental e foi utilizado como base militar dos EUA.

O campo foi oficialmente fechado em 1960, e o memorial foi criado para preservar a memória das atrocidades cometidas ali. Hoje, Dachau é um dos principais centros de lembrança do Holocausto, visitado por milhares de pessoas anualmente e símbolo do compromisso com a luta contra o esquecimento.

A celebração dos 80 anos da libertação reforça o papel de Dachau como alerta histórico. Em tempos de ascensão de discursos extremistas, o local permanece como prova concreta das consequências do ódio e da intolerância institucionalizados.

O campo, com seu passado sombrio e atual função educativa, segue como memória viva dos horrores do nazismo. Sua história, resgatada com dignidade neste aniversário, serve para lembrar que a liberdade, conquistada há 80 anos, exige defesa contínua.






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