Atentado de Boston chama atenção internacional para os complicados conflitos no Cáucaso
Região ganhou destaque quando os EUA divulgaram a identidade dos dois principais suspeitos pelo ato
Internacional|Do R7
O atentado contra a Maratona de Boston do dia 15 de abril chamou a atenção internacional para os conflitos no Cáucaso depois que o governo americano iniciou a caçada contra os dois principais suspeitos pelo incidente: Dzhokhar, de 19 anos, e Tamerlan Tsarnaev, de 26 anos. Os dois jovens irmãos nasceram na região, com isso, boa parte de suas vidas foi afetada pela realidade belicosa historicamente presente na área, e carregaram naturalmente características culturais típicas, como seguir a fé islâmica, predominante em muitos locais do Cáucaso.
As sangrentas disputas presentes na região são alimentadas pela corrupção, pelos abusos dos direitos humanos e, principalmente pelas divergências religiosas no Cáucaso do Norte. Esta agressividade piorou depois das duas guerras que a Rússia travou com os separatistas tchetchenos em 1994-1996 e 1999-2000.
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As duas guerras da Tchetchênia mataram dezenas de milhares de civis, principalmente como resultado do bombardeio em massa russo da capital Grozny e de vilas nas montanhas. Centenas de milhares de pessoas foram expulsas de suas casas.
Hoje, a região do Cáucaso do Norte ainda enfrenta a violência de uma insurgência liderada por um grupo islamita, o Emirado do Cáucaso, liderado por um ex-comandante guerrilheiro da independência tchetchena, Doku Umarov. Grande parte da violência está focada em Daguestão.
Raízes religiosas do conflito
No século 8, o islamismo chegou à região pelo sul, com o avanço do Império Otomano dominando culturas que ainda não desfrutavam de uma religião monoteísta institucionalizada. Em determinados casos, esse movimento competiu com o cristianismo praticado por alguns povos locais sob a influência de monastérios construídos ao norte da cordilheira do Cáucaso.
Esse atrito entre cristãos e muçulmanos se tornou mais violento ao final do século 18, quando o Império Russo, adepto da fé cristã ortodoxa, se concretizou como potência mundial. A Rússia investiu contra o norte do Cáucaso a fim de dominar as montanhas da região para utilizá-las como barreiras naturais de defesa contra possíveis invasões.
Como a zona esteve sempre dividida entre pelo menos 50 grupos étnicos diferentes, o principal fator que influenciou as alianças políticas foi a religião. Enquanto no sul do Cáucaso a cultura islâmica era dominante, ao norte o cristianismo prevaleceu.
Desde então, os dois grupos religiosos se confrontaram constantemente deixando um legado de sangue e ódio.
Século 20
Em 1917, a Revolução Socialista Soviética derrubou o Império Russo e proibiu a fé de todas as religiões que eram consideradas incompatíveis com o sistema comunista em implementação. O governo da URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas) assumiu o poder de todo o território dominado pelo Império.
Ao logo do período soviético, entre 1917 e 1991, o discurso ideológico comunista abafou os conflitos religiosos e aproximou grupos tradicionalmente inimigos. Quando necessário, o autoritarismo militarista da URSS calou os dissidentes por meio da repressão armada e de perseguições.
O conflito entre cristãos e muçulmanos no Cáucaso inaugurou um novo capítulo quando, em 1991, a URSS foi oficialmente dissolvida, acabando com o regime autoritário vigente. Na ocasião, diversos países que pertenciam à antiga potência soviética aproveitaram a oportunidade para lutar contra o domínio de Moscou.
A Geórgia, a Armênia e o Azerbaijão conquistaram suas independências. Porém, outros territórios, como a Tchetchênia, a Ossétia do Norte, o Daguestão e a Inguchétia não foram bem sucedidos e as forças russas impediram que esses se separassem da recém-criada Federação Russa, que substituiu o poder da URSS.
O novo governo federalista tentou dissuadir as nações da região que queriam a independência, elevando o status destes territórios a repúblicas. Esse mecanismo político permitiu à Tchetchênia, ao Daguestão, à Ossétia do Norte e à Inguchétia maior autonomia em relação a Moscou. Nessas localidades, a etnia considerada como russa é minoria e desde então essas populações puderam elaborar suas próprias constituições e assumir outras línguas, além do russo, como oficiais. Ademais, foi possível aumentar a representação política dos territórios no parlamento federal.
Entretanto, a moeda, as relações internacionais e o monopólio da força continuaram sob o domínio de Moscou.
O renascimento da luta
Com a derrota dos movimentos independentistas em 1991, vários grupos étnicos da região começaram a se organizar para lutar contra o domínio russo. Apesar do novo status de república conferido aos territórios do Cáucaso, onde a etnia russa é minoritária, como é o caso da Tchetchênia, da Ossétia do Norte, do Daguestão e da Inguchétia, o desejo por uma total autonomia em relação à Rússia persistiu.
Mais uma vez, o principal fator que uniu esses grupos frente ao poder de Moscou foi a religião islâmica. A partir de 1993, tais movimentos se consolidaram como forças políticas armadas suficientemente organizadas para tentar enfrentar o domínio russo.
Conheça o mapa da situação atual: