Cartunista que levou tiro em massacre será novo diretor da "Charlie Hebdo"
Internacional|Do R7
Paris, 20 jan (EFE).- O cartunista Laurent Sourisseau, conhecido como "Riss" e que levou um tiro durante o recente ataque terrorista à redação da "Charlie Hebdo" substituirá "Charb", morto no atentado, como diretor da revista satírica. "A noção de direção na 'Charlie Hebdo' é muito coletiva. Vou dirigir, mas não farei isso sozinho. Terei comigo Gérard Biard, o editor-chefe, e todo mundo. Estarei lá para dar orientações, para intervir quando houver problemas, para motivar", comentou "Riss" ainda no hospital, em entrevista que publicada nesta terça-feira pelo jornal "Le Monde". O cartunista, que comandava a redação da revista desde 2009 e junto a "Charb" era um de seus acionistas majoritários, acredita que após o ataque jihadista cometido pelos irmãos Saïd e Chérif Kouachi será necessário "reinventar a publicação", mas ressaltou que a "Charlie Hebdo" seguirá na mesma linha. "De imediato, o objetivo é reaparecer. Não se deve quebrar a linha. Temos que ver com a equipe o que queremos fazer. A próxima edição não sairá em 28 de janeiro, mas nas próximas semanas. A mais longo prazo, é necessária uma refundação, mas é preciso amadurecê-la", comentou "Riss", de 48 anos. Uma semana depois do ataque terrorista de 7 de janeiro, que deixou 12 vítimas entre funcionários da revista e policiais, a "Charlie Hebdo" retornou às bancas com uma edição histórica que mostra uma caricatura de Maomé com um cartaz escrito "Je suis Charlie" (Eu sou Charlie) na capa e com uma tiragem de sete milhões de exemplares. "Apesar da hecatombe, há uma equipe. Talvez não para fazer imediatamente uma revista de 16 páginas, mas sim de 12. Depois vem o problema do desenho, que é fundamental para a identidade da 'Charlie Hebdo'. Vimos desaparecer pesos-pesados (como 'Cabu', 'Wolinski', 'Tignous' e 'Charb') e não encontraremos gente tão extraordinária de um dia para outro", comentou. Para "Riss", parte do desafio que a "Charlie Hebdo" deve enfrentar seja "formar os cartunistas de amanhã". "Temos que reinventar a revista. É preciso transformar este desafio em algo criativo. Pelo menos, vamos tentar. O pior de tudo isso é pensar nos que estão mortos. Pensamos neles o tempo todo. Tudo o que pensarmos a partir de agora, embora seja genial, estará um pouco manchado pelo fato de que eles não estarem mais", confessou. "Riss", que estava na redação da revista quando os terroristas entraram, descreveu como viveu o ataque e os instantes posteriores. Ao escutar o primeiro tiro, pensou que um radiador tinha explodido. Quando ouviu mais disparos, todos os que participavam da reunião de pauta na redação ficaram de pé e notaram que algo estranho acontecia. "Nesse instante entrou um homem vestido de preto com uma metralhadora e ficou na frente de 'Charb'. Vi como os demais olhavam para a esquerda e a direita, talvez para procurar uma saída. Estavam de pé. Me joguei no chão, de boca para baixo. A partir desse momento, só ouvi sons, que eram tiros. Nada de gritos, só disparos", relatou. Ferido no ombro, Riss se fingiu de morto com a esperança de que os terroristas saíssem sem atirar nele e escutou os agressores conversarem entre si para não atirar nas mulheres e para garantir que tinham matado "Charb", então o diretor da revista. Depois, continuou a ouvir disparos vindos da rua e percebeu que os terroristas tinham saído da redação, onde só eram ouvidos gemidos de dois sobreviventes perdidos em um imenso silêncio. Apesar dos ataques jihadistas, que tiraram a vida de vários de seus companheiros e amigos, "Riss" pediu para que as pessoas não confundam o islã com o terrorismo. "Se é possível ser muçulmano em uma democracia, não é um problema. Os terroristas não têm nada a ver com a imensa maioria dos franceses de confissão muçulmana", concluiu. EFE jaf/vnm/id