China diz que vídeos da CIA para recrutar informantes são ‘jogada amadora’
Pequim condena publicações da agência de inteligência dos EUA como provocação política e promete proteger segredos nacionais
Internacional|Do R7

O governo da China acusou a CIA, a Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos, nesta quarta-feira (25), de tentar recrutar cidadãos chineses por meio de vídeos publicados nas redes sociais, classificando a ação como uma “jogada amadora” e uma “provocação política descarada”.
Segundo o MSS (Ministério da Segurança do Estado) da China, os vídeos, postados em maio pelo órgão dos EUA, são comparáveis a anúncios de emprego online e buscam convencer pessoas a espionar para os norte-americanos.
“Esses dois ‘anúncios de emprego’ meticulosamente elaborados, cheios de retórica desajeitada e alegações caluniosas, expõem a lógica absurda e as ilusões paranoicas das agências de inteligência americanas”, disse o MSS em um comunicado publicado no WeChat, uma das principais plataformas de mídia social da China.
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O órgão ainda ironizou a CIA, afirmando que a “autoproclamada maior potência de inteligência do mundo” se tornou “motivo de chacota internacional por sua incompetência desconcertante”.
O diretor da CIA, John Ratcliffe, confirmou que os vídeos tinham como objetivo “recrutar autoridades chinesas para ajudar os Estados Unidos” ao incentivar a divulgação de segredos de Estado, segundo a agência de notícias France-Presse (AFP).
A China, no entanto, reagiu com veemência, prometendo “proteger resolutamente os interesses estratégicos e os segredos essenciais da nação”. O MSS alertou que “qualquer tentativa de incitar a traição entre o povo chinês está fadada ao fracasso” e que planos para infiltrar o país em busca de inteligência serão “inúteis”.
Vídeos
Os vídeos em questão foram divulgados pela CIA em diferentes redes sociais no dia 1º de maio. As imagens, de curta duração, apresentam cenas fictícias de autoridades chinesas desiludidas com o sistema político do país.
Em um deles, um alto funcionário do Partido Comunista Chinês reflete sobre a precariedade de sua posição. Ele compara líderes expurgados a “sapatos gastos” (assista abaixo).
“Conforme subo no grupo, vejo aqueles acima de mim sendo descartados, mas agora percebo que meu destino era tão precário quanto o deles”, diz o narrador em mandarim. Ele expressa temor pelo futuro de sua família e decide contatar a CIA por meio de um tablet, usando a dark web.
Em outro vídeo, um suposto funcionário sênior percebe que, após anos de ascensão, “não importa quão alto seja seu status, ele é insuficiente para proteger sua família nestes tempos turbulentos”. Movido pelo desejo de proteger suas conquistas, ele toma a decisão de colaborar com a CIA.
Segundo a agência de notícias Reuters, a iniciativa é parte de uma estratégia mais ampla da CIA para aumentar a coleta de inteligência humana sobre a China, considerada a principal prioridade da agência em uma “competição verdadeiramente geracional” com os EUA.
A campanha seguiu uma ação semelhante lançada em outubro, quando a CIA publicou na internet instruções para recrutar informantes na China, Irã e Coreia do Norte, após ter sucesso em alistar espiões russos.
Trocas de acusações
As acusações de espionagem entre Estados Unidos e China não são novidade. Os dois países trocam farpas há anos, com denúncias mútuas de atividades de inteligência.
Em abril, autoridades chinesas afirmaram ter identificado três “agentes secretos” dos EUA envolvidos em ataques cibernéticos durante os Jogos Asiáticos de Inverno, realizados em fevereiro na cidade de Harbin, no nordeste do país.
No mesmo mês, Ming Xi Zhang, um cidadão chinês de 61 anos, foi preso pelo Serviço de Imigração e Alfândega (ICE) dos Estados Unidos em Nova Jersey, acusado de atuar como espião para o governo da China.
Ratcliffe disse que é importante coletar inteligência no contexto atual de rivalidade com a China. “A intenção [da China] é dominar o mundo econômica, militar e tecnologicamente”, disse ele, segundo a Reuters.
Ele chegou a afirmar recentemente em uma entrevista ao canal norte-americano à Fox News que recrutar informantes é essencial para “roubar segredos” que auxiliem o presidente e os formuladores de políticas dos EUA.
A CIA busca não apenas informações de contrainteligência, mas também dados sobre ciência avançada, tecnologia militar, cibernética, economia e política externa chinesa.
Relatórios de agências de inteligência americanas divulgados em março apontam a China como a maior ameaça militar e cibernética aos EUA, com capacidade de atacar infraestrutura americana e ambição de superar os norte-americanos em inteligência artificial até 2030.
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