Crescimento da extrema-direita atende interesses econômicos

Um fenômeno que tem se manifestado na Europa e nos Estados Unidos, principalmente após a crise econômica de 2008, é o nacionalismo conservador. Mas o "medo" de partes significativas dessas populações das "invasões" de seus países por imigrantes não nasce sozinho. Especialistas indicam que o interesse de grandes investidores ajudam a alimentar a onda ultra-nacionalista.

Nesta onda conservadora, partidos de extrema-direita ameaçam retomar o poder na Europa. E, nos Estados Unidos, a eleição de Donald Trump veio para mostrar a influência que este nacionalismo isolacionista tem exercido.

A recente noticía de que o ex-assessor de Donald Trump, Steve Bannon, está criando a fundação O Movimento, para aliar conservadores americanos e europeus em torno de uma agenda comum é mais uma consequência deste contexto.

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Para a professora Marília Carolina de Souza, coordenadora do curso de Relações Internacionais da Fecap (Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado), partidos como a Frente Nacional (França), Alternativa para a Alemanha (AfD) e Liga Norte (Itália), têm crescido em função de manifestações populares, mas não adquiririam tal dimensão se não fossem financiados por grupos poderosos. O que também deverá ocorrer com a iniciativa de Bannon.

"Não há dúvidas que grandes empresas, grandes conglomerados de investidores com visão nacionalista e antiglobalista, contrários à União Europeia, apoiam tais movimentos. Há uma confluência de grupos econômicos e políticos que estão vendo essas oportunidades surgirem nas ruas, em parte da população."

Partidos fortalecidos por interesse

Marília explica que essas forças econômicas fortaleceram partidos, para tentar aproveitar a oportunidade surgida com o anseio desta população. Que tem se manifestado no apoio a causas como o Brexit e a chegada de Trump ao poder.

"Obviamente surgiram daí forças políticas, partidos de articulação destas forças. Uma série de partidos políticos de extrema-direita europeus quase ganhou eleições presidenciais, na Holanda e França, entre outros. Tais partidos ganharam muita força neste contexto."

Polarizações

Ela considera que, por outro lado, a ascensão conservadora tem alimentado uma polarização, com o fortalecimento da esquerda em alguns países.

"E do outro lado, da esquerda, também há movimentação. Nas últimas eleições parlamentares europeias de 2014 houve maior polarização. Partidos de esquerda também surgiram com força, em países como Portugal, Grécia e Espanha. No Parlamento Europeu, as eleições de 2019 deverão ser ainda mais polarizadas."

Já o coordenador do curso de Relações Internacionais do Ibmec do Rio de Janeiro, José Niemeyer, alerta para o fato de haver uma diferenciação nas agendas conservadoras. Por um lado, algumas buscam o liberalismo econômico, mantendo o respeito a valores como integração e direitos humanos. Em outra ala, porém, isso não acontece.

"Há diferentes tipos de direita. Uma defende valores democráticos, mas é favorável à liberdade econômica. Outra é favorável a valores patriarcais, com um nacionalismo radical, contrária à imigração, à igualdade das mulheres, aos direitos da população LGBT. É uma situação abrangente e bastante complexa."